Figura de primeiro plano na frente de apoio político à presidente Dilma Rousseff (PT), o governador Flávio Dino (PCdoB) disse ao jornal Valor Econômico que as regras definidas na semana passada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) colocaram uma “pá de cal” no processo de impeachment, que na sua opinião se tornou “quase impossível”. Ao mesmo tempo, Dino alertou que o Palácio do Planalto não pode se transformar num “berço esplêndido”, onde o governo venha a se deitar despreocupado. Ao contrário, sugeriu que a presidente Dilma Rousseff deve aproveitar esse momento para abrir uma ampla frente de negociações para refazer a sua base no Congresso Nacional, alertando que ela só conseguirá reforçar o seu lastro de apoio político se conseguir o apoio popular ao governo. O governador avaliou que para isso a presidente da República deve propor imediatamente um diálogo com a oposição, convidando os ex-presidentes Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso para uma conversa. Dino também acha que a mudança no comando da política econômica, com a troca do neoliberal Joaquim Levy pelo progressista Nelson Barbosa, vai dar mais dinâmica à luta contra a crise econômica.
Criador, junto com outros governadores, do movimento “Golpe nunca mais”, disseminado pela “cadeia da legalidade”, inspirada no movimento criado por Leonel Brizola para salvar o mandato do presidente João Goulart, o governador Flávio Dino comemorou a manifestação do STF em resposta aos questionamentos feitos pelo PCdoB sobre as regras para um processo de impeachment. Na sua avaliação, o STF definiu as regras e, assim, evitou o “vale tudo” em que a proposta de impedimento da presidente da República estava se transformando. “Foi uma decisão juridicamente correta, compatível com a lei e com a expectativa do PCdoB”, avaliou. O resultado, segundo entende, praticamente colocou uma “pá de cal” sobre a tentativa oposicionista de destituir a presidente Dilma”
Ao mesmo tempo, antenado na dinâmica do processo político e ciente de que qualquer passo em falso agora pode causar um desastre político de largas proporções ao Governo, Dino acha que a presidente Dilma tem um espaço de 60 a 90 dias para atacar todos os focos da crise política, especialmente a perda de credibilidade que se abateu sobre o Governo, e restaurar as boas relações com o Congresso Nacional, para que o processo político volte à normalidade. “Ela (Dilma) só vai estabilizar a relação com o Congresso se resolver essa questão do apoio social ao Governo”, assinalou na entrevista ao Valor Econômico. Acha o governador que a presidente deve produzir uma aliança bem ampla, maior do que a atual base no Congresso, dando uma prova de vitalidade.
O item mais desafiador e, ao mesmo tempo, mais complicado será chamar a oposição para conversar sobre procedimentos políticos que tiram o país da confusão, sem entrar nas divergências de mérito, com o simples objetivo de garantir o mínimo de funcionalidade ao Congresso Nacional. Conhecedor dos humores das Casas do Congresso, principalmente da Câmara Federal, o governador avalia que se esse acordo vingar, abrirá um largo caminho para negociar as pendências que estão em tramitação.
Nas declarações que deu ao Valor Econômico, jornal que é a voz do liberalismo econômico no país e defensor da ortodoxia pregada pelo agora ex-ministro Joaquim Levy, o governador do Maranhão mostrou que vibrou com as recentes vitórias do Governo da presidente Dilma Rousseff no campo político. Por outro lado, demonstrou que está no jogo com os pés no chão, certo de que a guerra está em pleno curso e que a vitória do Palácio do Planalto e do PT dependerá da combinação da superação da crise econômica e da administração da crise política. E nesse tabuleiro, o Governo não pode perder tempo nem fracassar nas duas frentes.
PONTO & CONTRAPONTO
Eliziane entra em jogo partidário perigoso
Inacreditável a vida partidária recente da deputada federal Eliziane Gama. Eleita pelo PPS, ela ocupou espaço expressivo na bancada federal do partido, que a acolheu com entusiasmo e que lhe deu o controle da legenda no estado e amplo espaço de atuação na Câmara Federal. Ao formalizar a criação da Rede Sustentabilidade, a ex-ministra Martina Silva abriu-lhe as portas e a deputada não pensou duas vezes: abandou o PPS, onde deixou mágoas, e embarcou na rede marinista. Divergências sobre o processo de impeachment – Eliziane é favorável e Marina é contrária – afastaram-na da ex-senadora, tendo o fosso entre elas se aprofundado muito nos últimos dias. Tanto que nas rodas de aposta já é grande os que jogam no rompimento, o que a levaria de volta ao PPS, podendo também ingressar no PSC, e, numa situação inimaginável até uma semana atrás, com possibilidade de desembarcar no PSB, onde tem um aliado assumido, ex-governador José Reinaldo Tavares. A situação de Eliziane Gama é tão incerta que nem os jornalistas mais próximos dela conseguem prever o seu futuro em relação à briga pela Prefeitura de São Luís, na qual ela ainda se mantém como líder na preferência do eleitorado.
Castelo quer mesmo ser candidato a prefeito
O deputado federal e ex-prefeito João Castelo (PSDB) exibe entusiasmo de jovem quando lhe indagam sobre ser ou não ser candidato à Prefeitura de São Luís. Ele dá todas as demonstrações de que se o PSDB não lhe criar dificuldade, ele vai entrar de cabeça na briga em que espera ter o prefeito Edivaldo Jr. (PDT) como principal adversário. Castelo está convencido de que se entrar na disputa tem condições de fazer a diferença. Ele argumenta que tem uma obra realizada na capital, que vem ampliando desde que ele foi governador, há mais de 30 anos. “Se o partido me quiser, estou pronto”, disse ele à Coluna no final da semana passada. Para ser candidato, Castelo vai ter de peitar o vice-governador Carlos Brandão, presidente do partido, que quer os tucanos alinhados ao prefeito Edivaldo Jr., e também o presidente do PSDB em São Luís, Pinto Itamaraty, que ofereceu publicamente o partido a Eliziane Gama. A vantagem de Castelo é que ele tem até abril para, se quiser, mudar de partido e mandar os tucanos às favas e entrar na corrida em nova agremiação.
São Luís, 21 de Dezembro de 2015.