As duas horas e meia que durou o debate na TV Guará não causaram a empolgação esperada no eleitor, mas, mesmo com a ausência anunciada do prefeito Edivaldo Jr. (PDT), foi suficiente para demonstrar o perfil real de cinco dos nove candidatos à Prefeitura de São Luís. Se não apresentaram tudo o que poderiam apresentar para mostrar ao eleitorado que estão preparados para comandar uma cidade com o perfil de São Luís, Wellington do Curso (PP), Eliziane Gama (PPS), Eduardo Braide (PMN), Rose Sales (PRB) e Fábio Câmara (PMDB) pelo menos se esforçaram. E nesse esforço, e também devido às circunstâncias, uns se saíram melhor, seja porque souberam manter a serenidade e organizar corretamente o seu discurso, seja porque outros não tiveram condições de adequar corretamente sua fala ao momento. A experiência favoreceu Eduardo Braide, Eliziane Gama e Rose Sales, que demonstraram conhecer os problemas da cidade, passando também a impressão de que podem enfrentá-los. Fábio Câmara surpreendeu com um foco interessante na saúde, enquanto Wellington do Curso fez discursos genéricos sobre todos os assuntos que lhe foram propostos. As restrições impostas pelas regras impediu que os candidatos tratassem da São Luís macro, da cidade portuária maior, do empório cultural que encanta o mundo.
Provavelmente porque sabia que seria alvo de todas as atenções e de todas as estocadas – que foram poucas, vale assinalar – e também por ser neófito nesse tipo de embate, Wellington do Curso participou do embate visivelmente pela tensão. Na ausência do prefeito Edivaldo Jr., o candidato do PP passou foi duramente provocado por Eliziane Gama sobre sua filiação ao PP, partido que, lembrou, dos 45 deputados federais que tem, 32 tem um pé na lama dos desvios. Sua resposta foi tangencial, afirmando que só responde por ele próprio, dando margem a muitas interpretações. Wellington ouviu outras provocações, como a suspeita de sonegar impostos. Suas respostas não foram taxativas. Quando tratou de temas técnicos, como educação, por exemplo, foi muito superficial, ao contrário de Eduardo Braide, Eliziane Gama e Rose Sales. E no final, repetiu o discurso de que nasceu pobre, foi abandonado pelo pai, vendeu fruta na feira, trabalhou muito e venceu na vida. É provável que menos tenso pudesse ter demonstrado ter a dimensão do que é ser prefeito de São Luís, o que teria melhorado o seu desempenho. Fechou sua participação garantindo que está preparado para comandar a cidade.
Eliziane Gama demonstrou que conhece os problemas das áreas mais sensíveis da Prefeitura de São Luís, como educação, saúde e infraestrutura, e falou com propriedade sobre todas elas. Mostrou que estuda, que se esforça para conhecer o viés técnico e que reuniu informações que lhe permite ter uma visão pragmática de São Luís, o que lhe permite passar a ideia de que pode ser uma boa gestora. Para todas as questões levantadas ela ofereceu resposta coerente, sinalizando que tem, de fato, um plano de governo. Deu seu recado e foi firme quando declarou que se preparou para ser prefeita de São Luís.
Eduardo Braide teve um desempenho no nível que vem demonstrando na Assembleia Legislativa, onde é considerado uma das melhores referências. Mostrou domínio sobre os temas tratados no debate, apresentando solução efetiva para cada um dos problemas a eles relacionados. E mesmo tolhido pelas regras, tentou atrair Wellington do Curso para um embate direto, criticando-o por não ter apresentado projetos como deputado estadual, provocando-o de maneira ferina, mas sem ultrapassar os limites da civilidade, mas o candidato do PP preferiu não aceitar o enfretamento. No final, pediu que o eleitorado o mande para o segundo turno.
Rose Sales mostrou muito do seu reconhecido trabalho como vereadora, principalmente no campo social, que envolve educação, saúde, cultura e mobilidade social. Lamentou o fato de não ter mais tempo na TV para mostrar suas propostas e disse que ela e seu partido, o PRB, foram vítimas de uma artimanha política, que lhe tirou tempo e fundo partidário. E foi taxativa quando afirmou que não está atrás de projeção pessoal nem de status; que mora no Cruzeiro do Anil e ali continuará morando por toda a vida. “Só quero trabalhar por minha cidade”, disse.
Fábio Câmara teve uma participação razoável no debate. Primeiro como político, procurando provocar os concorrentes para o enfrentamento. E depois demonstrando ter um bom conhecimento dos problemas de São Luís, principalmente uma área da saúde, que conheceu bem quando foi administrador da regional de São Luís da Secretaria de Estado de Saúde na gestão de Ricardo Murad. Disse que sua candidatura “nasceu no útero desta cidade, onde o poder público não vai”. E avaliou que por sua negritude se sente representante “da maioria da nossa população”.
Foi um debate comportado, sem maiores embates e sem ideias brilhantes. As limitações impostas pelas regras impediu o grande confronto político. E confirmou a avaliação segundo a qual as regras eleitorais em vigor são injustas. Deixou no eleitor o gosto de “quero bem mais”, criando, assim, a expectativa de que o próximo, com a participação do prefeito Edivaldo Jr., será bem mais quente.
PONTO & CONTRAPONTO
Ausência de prefeito foi criticada pela emissora
O prefeito Edivaldo Jr. foi duramente criticado por não ter comparecido ao debate de ontem na TV Guará. O mal-estar da direção da emissora foi demonstrado pela reação do mediador do debate de ontem, jornalista Américo Azevedo Neto, que fez duras críticas ao prefeito. Mesmo tendo sido comunicada oficialmente de que o prefeito não compareceria, a organização do debate fez questão de deixar o espaço de Edivaldo Jr., que foi usado algumas vezes pelos outros candidatos para atacá-lo. No ofício que encaminhou à TV Guará comunicando o seu não comparecimento, o prefeito disse que só participaria dos dois debates “tradicionais”, o da TV Difusora – que será realizado no dia 27 – e o da TV Mirante – que está agendado para o dia 29. Por outro lado, os candidatos que participaram não exploraram fortemente a ausência do prefeito, que saiu menos alvejado do que seus assessores imaginaram.
Pesquisa instala clima de guerra em Paço do Lumiar
Pesquisa do Escutec sobre a corrida para a Prefeitura de Paço do Lumiar divulgada ontem por O Estado do Maranhão caiu como uma bomba de alto poder destrutivo no QG de campanha do candidato do PCdoB, Domingos Dutra. De acordo com os números, o candidato do PRB, Gilberto Aroso, lidera as preferências do eleitorado com 30,7% das intenções devoto, ficando Domingos Dutra em segundo com 23,8%, seguido do prefeito Josemar Sobreiro (PSDB) com 10,7%, Inaldo Pereira (PPL) com 8,7%, Raimundo Filho (PT) com 3,3% e Moraes Maninho (PCB) com 1,5% – indecisos somaram 9,2% e “nenhum deles” 12,2%. Os números do Escutec contrariaram radicalmente pesquisas recentes segundo as quais o candidato do PCdoB, apoiado fortemente pelo palácio dos Leões, estaria liderando a corrida com alguma folga, estando por isso incluído numa lista de candidatos alinhados ao Governo cujas eleições são tidas como certas.
Mesmo levando em conta a precariedade formal da sua candidatura, que precisou ser confirmada pela Justiça, desde o início da campanha ficou bem claro que o ex-prefeito Gilberto Aroso não seria adversário fácil de ser batido. Ponta de rama de uma família que domina a cena politica em Paço do Lumiar há mais de cinco décadas, tendo nesse período eleito quarto prefeitos e vários representantes, Gilberto Aroso é lembrado pelos lumienses como tendo sido um bom prefeito, o que, somado peso político da família e sua firme aliança com o Grupo Sarney, lhe garante poder de fogo entrar na briga contra o ex-petista e hoje comunista Domingos Dutra, que também é osso duro de roer e tem base sólida no município.
Quem conhece os meandros da política lumiense garante que a pesquisa Escutec – que foi feita nos dias 17 e 18, tem margem de erro de 3,5% e está registrada no TRE sob o número 08845/2016 – pode ter captado a situação do momento, que dificilmente será mantido com a movimentação dos candidatos na reta final da campanha. Nesse contexto, Gilberto Aroso certamente jogará todo o peso do seu cacife para ampliar e consolidar a vantagem apontada na pesquisa, devendo para isso receber apoio integral dos seus aliados mais fortes. Por sua vez, Domingos Dutra usará todas as suas armas para reverter tal cenário, devendo contar para isso com a sua incansável movimentação pessoal e com o suporte do PCdoB e com o empenho pessoal do governador Flávio Dino, que considera Paço do Lumiar – o oitavo maior colégio eleitoral do Maranhão, com 66,5 mil eleitores – estratégico para o seu projeto político e aposta alto na vitória do ex-petista.
O cenário desenhado pelo Escutec sugere que a reta final da corrida pelo voto em Paço do Lumiar será de guerra sem trégua, que pode beirar ao vale-tudo.
São Luís, 23 de Setembro de 2016.