A corrida para a Prefeitura de São Luís será uma guerra de forças políticas, a exemplo do que vem acontecendo desde 1985, quando, no retorno saudável das liberdades civis, Gardênia Castelo (PDS), expressão do grupo liderado pelo então senador João Castelo, bateu nas urnas Jaime Santana (PMDB), apoiado pelo grupo do então presidente da República José Sarney. De lá para cá, Jackson Lago (PDT) foi eleito três vezes (1988, 1996 e 2000), elegeu Conceição Andrade (1992) e Tadeu Palácio (2004), enquanto João Castelo (PSDB) levou a melhor em 2008 e Edivaldo Holanda Jr. (PDT) em 2012 e 2016. Todas essas eleições resultaram da atuação de grupos políticos e partidários, sem dar vez para candidaturas isoladas nem para outsiders. Pelo que começa a se desenhar, o sucessor do prefeito Edivaldo Holanda Júnior provavelmente sairá da composição de um grupo político com lastro partidário e lideranças fortes. Nesse time estão Eduardo Braide (Podemos), Rubens Júnior (PCdoB), Neto Evangelista (DEM) e Duarte Júnior (Republicanos). Os demais candidatos – Bira do Pindaré (PSB), Adriano Sarney (PV), Yglésio Moises (PROS), Jeisael Marx (Rede), Carlos Madeira (Solidariedade), Franklin Douglas (PSOL), Hertz Dias (PSTU) e Silvio Antônio (PRTB) são políticos com identidade ideológica, pesos diferenciados, mas sem a força de grupos e alianças.
Apoiado por PSD, PSC e PMN, Eduardo Braide, que lidera a corrida até aqui, mas pelo visto sem chance de liquidar a fatura em turno único, não conta com uma aliança partidária forte, e por isso tem de apostar todas as suas fichas no seu próprio desempenho – o que, aliás, tem sido uma marca da sua carreira. Informalmente, o candidato do Podemos conta com uma ampla e importante rede de apoiadores na área da Saúde, na qual atua fortemente, na expressiva e influente comunidade de origem libanesa, conta também com a fatia do empresariado que se apresenta como a “nova direita”, tem fortes laços com algumas correntes da comunidade religiosa, levando também o apoio da fatia do Grupo Sarney representada pelos deputados federais Edilázio Júnior e Aluísio Mendes, entre outros bastiões politicamente ativos.
No contrapeso, mesmo sem um lastro eleitoral amplo na Capital, Rubens Júnior entra na disputa com uma base política e partidária monumental. É o nome do PCdoB, o partido mais forte do Maranhão atual, tendo como aliados o PT e o Cidadania. Essa aliança se traduz politicamente em nada menos que o apoio do governador Flávio Dino – que não se manifestará agora, mas não há como não o associar ao candidato do seu partido, mas cuja influência dispensa comentários. Conta também com o apoio declarado do ex-presidente Lula, cujo prestígio em São Luís continua estratosférico, e da senadora Eliziane Gama, que conhece o mapa eleitoral de São Luís na palma da mão e lidera um grupo importante de militantes. Somados à atuação de Rubens Júnior na tarefa de seduzir o eleitorado, esses ingredientes podem resultar em base eleitoral.
Neto Evangelista está sendo embalado por uma poderosa aliança partidária, formada por DEM – o seu partido -, PDT, MDB e PSL, o que lhe dá um suporte extremamente valioso em termos políticos e eleitorais. Além disso, tem como principal cabo eleitoral o senador Weverton Rocha, que soma ao seu prestígio político e eleitoral o comando da poderosa e influente militância pedetista na Capital. Não bastasse isso, Neto Evangelista tem o apoio entusiasmado do experiente vereador Chico Carvalho, presidente do PSL, e ainda o empuxo da aguerrida militância do MDB, comandada pelo deputado estadual Roberto Costa e avalizada pela ex-governadora Roseana Sarney, que preferiu apoiar o candidato do DEM. No comando dessa potente aliança, Neto Evangelista está desafiado a justificá-la atraindo o eleitorado.
Depois de idas e vindas de sua candidatura na maré partidária, Duarte Júnior conseguiu montar uma coligação antes improvável. Saiu do PCdoB e desembarcou no Republicano, ganhando, de um lado, o apoio do politicamente ativo e eficiente vice-governador Carlos Brandão, e de outro o suporte partidário do controvertido deputado federal Josimar de Maranhãozinho, chefe maior do PL, que levou a reboque Avante e Patriotas. Mesmo com essa base política e partidária formada por esses dois extremos, Duarte Júnior emite fortes sinais de que a força que move sua candidatura é a que ele próprio produz, ciente, portanto, de que sua eleição depende quase exclusivamente do seu desempenho durante a campanha.
Visto pela lógica pura e simples, esse cenário sugere que os quatro candidatos que lideram coligações têm mais chance de eleição. Mas, mesmo levando em conta o histórico de 1985 para cá, não há demasia em lembrar que as disputas eleitorais majoritárias guardam sempre uma elevada dose de imprevisibilidade.
PONTO & CONTRAPONTO
PT se divide em São Luís e escancara sua condição departido marcado por guerra intestina
Não surpreendeu o racha que fracionou o PT na corrida para a Prefeitura de São Luís, com um grupo liderado pelo vereador Honorato Fernandes, que tem o aval da direção estadual, apoiando oficialmente a candidatura de Rubens Júnior (PCdoB), que o tem como companheiro de chapa; outro, liderado pelo deputado federal Zé Carlos, declarando apoio à candidatura de Duarte Júnior (Republicanos); e um terceiro, disperso, sem lideranças à vista, apoiando sem muito alarde a candidatura de Bira do Pindaré (PSB).
Tal situação é a tradução fiel do PT maranhense, um braço partidário formado por correntes que se digladiam sem nunca encontrar um objetivo comum nas eleições estaduais e municipais. O melhor exemplo dessa múltipla dessa feição retalhada do PT foi largamente exposta quando o partido decidiu aliar-se ao Grupo Sarney. O racha foi tão forte e a confrontação foi tão intensa e prolongada que resultaram na saída de dois ícones do partido no Maranhão: Domingos Dutra, que migrou para o PDT e depois para o PCdoB, e Bira do Pindaré, que se asilo no PSB, onde permanece até hoje, recebendo o apoio de petistas em todas as suas eleições.
O PT só decidiu apoiar a Rubens Júnior depois de um longo jogo de cena estimulado pelo comando nacional. Primeiro houve o ensaio da candidatura do deputado Zé Inácio, uma óbvia e manjada jogada de pressão, que não funcionou. Depois o partido ganhou tempo com grupos ameaçando se dividir entre vários candidatos. E finalmente o apoio formal da banda maior do partido ao candidato do PCdoB, ganhando em troca a vaga de candidato vice para o vereador Honorato Fernandes, que preside o partido na Capital.
A declaração de apoio do deputado federal Zé Carlos a Duarte Júnior e a ausência das principais lideranças do PT na convenção que formalizou a chapa Rubens Júnior/Honorato Fernandes sinalizaram claramente que o PT está rachado em São Luís.
Jeisael Marx destaca o traço de que não tem origem em família política
O candidato do Rede à Prefeitura de São Luís, Jeisael Marx, que desponta como uma boa promessa, fez uma declaração política que não faz muito sentido político. Disse ele: “Minha origem não é política, minha família não é de políticos, mas eu acredito na política, eu acredito num jeito diferente de caminhar na política”.
Vale lembrar que Duarte Júnior, Bira do Pindaré, Carlos Madeira, Yglésio Moises, Franklin Douglas e Hertz Dias não saíram de famílias políticos, militam em partidos com os quais se identificam ideologicamente. Assim como eles, os senadores Weverton Rocha e Eliziane Gama, por exemplo, não saíram de famílias de políticos, mas estão construindo suas biografias dentro da política convencional.
Por outro lado, Eduard Braide, Neto Evangelista e Rubens Júnior saíram de famílias de políticos e também estão construindo suas trajetórias sem derrapagens nem arranhões. O governador Flávio Dino saiu de família política, com convicção ideológica e militância partidária dentro dos padrões, e sem uma só rasura.
Em resumo: ter ou não ter origem em família política não faz diferença, pois essa quem faz é o político.
São Luís, 20 de Setembro de 2020.