Independentemente do resultado a ser produzido pelas negociações em curso entre Prefeitura, rodoviários e empresários, para resolver a greve nos transportes coletivos, uma situação ganha forma e parece bem clara: o prefeito Eduardo Braide (Podemos) dá mostras de que se preparou para administrar São Luís e suas crises, conforme propagado durante a campanha eleitoral. A afirmação enfática e segura de que “não teremos aumento nas passagens de ônibus”, feita na semana que passou e reafirmada ontem à TV Mirante, e que poderia ser apenas um “trote” para ganhar tempo, como manda a “tradição” nas seguidas repetições desse roteiro, ganhou peso de verdade. Não como uma decisão monocrática e autoritária do chefe do poder Executivo da Capital, mas por ser parte de uma estratégia por meio da qual o governante municipal evita a majoração do preço das passagens, oferecendo contrapartida aos rodoviários, que são a ponta da linha do sistema de transportes de massa, um auxílio emergencial, nos moldes do que foi concedido aos artistas na fase mais aguda da pandemia.
A crise anual no sistema de transportes coletivos de São Luís será resolvida de uma maneira ou de outra, cedo ou tarde, e ocorrerá com ou sem aumento no valor das passagens, com ou sem a concessão do auxílio emergencial para rodoviários (motoristas, cobradores e fiscais), e com ou sem entendimento produtivo com as empresas beneficiadas com a concessão do serviço. A solução virá mesmo quando as empresas, que formam um cartel de peso, aumentam o seu poder de fogo quando associadas, por baixo do pano, com os rodoviários, como acontece nesse momento. Isso porque o que está em jogo não é a situação dos rodoviários, nem o suposto sufoco das empresas, nem também as conveniências da Prefeitura, mas os interesses de mais de meio milhão de ludovicenses que diariamente se deslocam para trabalhar e estudar utilizando a frota de pouco mais de 800 ônibus. E nesse momento em situação mais dramática, por conta dos estragos que o novo coronavírus impôs à economia como um todo, a começar pelo desemprego.
Nas suas declarações sobre a crise que culmina com a greve dos rodoviários, que pressionam por aumento de salário quando milhares e milhares correm atrás de emprego, o atual prefeito de São Luís quebra o padrão, negando firmemente a concessão de aumento, mas amenizando a negativa com uma proposta, o auxílio emergencial aos rodoviários, que não resolverá problema, mas evitará que ele seja agravado com a imposição de um aumento no valor da passagem nesse momento.
Eduardo Braide é um político pragmático, que mede e pesa cuidadosamente cada decisão. Ele não decide no impulso, mas refletindo sobre prós e contras. E quando se posiciona, o faz ancorado numa convicção difícil de ser revertida, conforme demonstrou muitas vezes quando deputado estadual. No caso da greve dos rodoviários, tudo se baseia numa relação de custo-benefício, o que significa dizer que ele já analisou a questão nos seus mais diversos aspectos, encontrando no auxílio emergencial para rodoviários, bancado pelo contribuinte, um trunfo bem montado para sentar e colocar as cartas na mesa de negociações. Pode ser que encontre resistências, mas ninguém poderá negar que o prefeito, diferentemente de antecessores, terá negado o aumento, pura e simplesmente, sem oferecer nada em troca.
– É essa solução (auxílio emergencial) que nós propomos neste momento. Por quê? Porque o primeiro caminho apontado foi o aumento do preço das passagens de ônibus. Eu já me manifestei sobre esse assunto e não acho correto neste momento, em que as pessoas estão tentando retomar a economia, almejando buscar os empregos que foram perdidos durante a pandemia, ter de arcar agora com esse aumento. Quero aqui reafirmar que nós não teremos aumento nas passagens de ônibus – declarou, na entrevista à TV Mirante, com clareza suficiente para não deixar dúvidas.
O prefeito de São Luís sabe que está tratando com “cobras criadas”, com décadas de experiência nesse jogo de dobrar prefeitos, que se repete a cada ano. Está mostrando que sabe onde e como deve pisar, misturando na dose certa autoridade institucional com habilidade política, fórmula que dificilmente dá errado.
PONTO & CONTRAPONTO
DEM se desmancha, Juscelino perde comando e maioria vai apoiar Brandão
Há algum tempo, quando as pré-candidaturas começaram a ganhar forma, o deputado federal Juscelino Filho, presidente estadual do DEM, trouxe a público a informação de que em reunião por ele convocada, o braço político da sua família – ele, a deputada estadual Andreia Rezende e o ex-deputado Stênio Rezende – havia batido martelo pelo projeto de candidatura do senador Weverton Rocha (PDT). E jogou no ar a impressão de que o braço maranhense do DEM todo mobilizado em torno do líder pedetista.
Nesse momento, o quadro que envolve o DEM no Maranhão é radicalmente diferente do que desenhou o jovem parlamentar. Para começar, a bancada do partido rachou, tendo os deputados Paulo Neto e Daniella Tema contrariado aquela orientação e declarado apoio ao vice-governador Carlos Brandão (PSDB). Agora, o ex-deputado Stênio Rezende, que o ajudou a controlar o DEM, também entrou em rota de colisão com o sobrinho, declarando também apoio ao projeto de candidatura do vice-governador, o que, pela lógica, leva à suposição de que a deputada Andreia Rezende, seguirá o marido, Stênio Rezende.
A menos que tenha uma carta importante no colete, o que parece improvável, o deputado federal Juscelino Filho vive uma situação em que não tem mais em mãos um partido sobre o qual exerça controle absoluto, perdeu a liderança sobre o grupo que formava o DEM, e só tem agora o deputado estadual Neto Evangelista como parceiro no apoio ao senador Weverton Rocha.
Sua chance de retomar o poder partidário que tinha está nas mãos dos caciques do Aliança Brasil, partido que está nascendo com a fusão do DEM com o PSL e que no Maranhão tem também o deputado federal Pedro Lucas Fernandes.
Se Bolsonaro se filiar ao PL o poder de fogo de Maranhãozinho será finalmente testado
O presidente nacional do PL, o notório ex-deputado federal Waldemar Costa Neto, convidou o presidente Jair Bolsonaro e sua turma, encabeçada pelos três filhos, a se filiarem ao partido. Como fracassou em criar o próprio partido, já perdeu o PSL, foi descartado pelo Patriota e sofreu fortes e duras restrições ao tentar se aproximar do PP, não será surpresa se o presidente aceitar o convite do chefão do partido. A se confirmar tal hipótese, incluindo a provável adesão do senador Roberto Rocha ao movimento migratório, ela terá fortes e graves desdobramentos na política maranhense.
Para começar, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho, que controla com mão de ferro o braço do PL no estado, muito provavelmente será alçado à condição de chefe do bolsonarismo no Maranhão, e nessa condição poderá tornar irreversível o seu projeto de candidatura à sucessão do governador Flávio Dino (PSB). Poderá também acontecer o contrário, caso Roberto Rocha venha a ser brindado com o “posto”, o que é mais provável, porque parece ser esse o projeto que o senador cultiva enquanto aguarda a definição do pouso partidário do presidente.
Se Waldemar Costa Neto conseguir atrair o presidente Jair Bolsonaro e sua turma para o PL, é muito provável que em algum momento o comando do partido no Maranhão seja colocado em xeque. E aí se saberá qual é o real poder de fogo de Josimar de Maranhãozinho.
São Luís, 26 de Outubro de 2021.