Primeira: “Não vou negar nada para esses estados, mas se eles quiserem que isso tudo seja atendido, eles vão ter que falar que estão trabalhando com o presidente Jair Bolsonaro. Caso contrário, eu não vou ter conversas com eles”. Segunda: “Eu não posso admitir que governadores como o do Maranhão e o da Paraíba façam ´politicalha` no tocante à minha pessoa”. As duas declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL), dada ao jornal O Estado de S. Paulo, terça-feira, durante sua visita a Sobradinho, na Bahia, reascenderam o confronto do presidente da República com os governadores nordestinos, em particular com o maranhense Flávio Dino (PCdoB) e João Azevedo (PSB).
Ao se manifestar nesse nível e nesse tom, o chefe da Nação confirmou, sem meias palavras, o seu ânimo para o confronto, agora admitindo claramente que pretende afrontar a Carta Magna e sufocar de vez a civilidade política e retaliar os dois governadores, e com eles as populações maranhense e paraibana. Além disso, suas palavras ratificam, sem qualquer margem de engano, a conversa que manteve com o ministro chefe da Casa Civil, Ônix Lorenzoni, no dia 19 de Julho, minutos antes de uma entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros no Palácio do Planalto, quando avaliou: “Daqueles governadores de paraíba, o pior é o do Maranhão”, e ordenou: “Tem que ter nada com esse cara”.
Afeito ao confronto aberto, estratégia que tem lhe rendido bons números de seguidores e simpatizantes, o presidente da República, no entanto, vem dando sinais de que lhe falta um ingrediente da maior importância nesse jogo: a noção de limite. Falta-lhe perceber que foi fragorosamente derrotado nas urnas em toda a região Nordeste, exatamente por conta desse perfil polêmico. Eleito, o caminho natural seria mudar essa postura e assumir uma nova, conciliatória, e por meio da qual sinalizasse disposição honesta para uma convivência, se não inteiramente harmônica, pelo menos possível, que permitisse um diálogo em torno dos interesses reais dos 57 milhões de nordestinos, brasileiros com os mesmos direitos dos demais previstos na Constituição Federal.
Quando o presidente da República, depois de ordenar ao ministro-chefe da Casa Civil que retalie quem quer que seja, ele está sujeito a responder pelo crime de improbidade. E quando exige que, para terem seus pleitos atendidos em Brasília, os nove governadores nordestinos terão de se obrigar a “falar que estão trabalhando com o presidente Jair Bolsonaro”, e que, se não se curvarem à exigência, “eu não vou ter conversas com eles”, o chefe da Nação sela, em definitivo, a sua incapacidade de se relacionar com contrários. Com isso, ele próprio, pela sua própria boca, fortalece a imagem de político que, mesmo tendo vivido três décadas no Congresso Nacional, não conseguiu compreender as diferenças regionais, culturais, políticas e socioeconômicas que movem o Brasil. Se tivesse se esforçado minimamente para perceber as diferenças que se manifestam na Câmara Federal durante os mais de 10 mil dias que atuou como deputado federal, certamente não se comportaria como vem se comportando.
Além dos problemas causados por ele próprio, o presidente Jair Bolsonaro amarga o fato de ter escolhido para adversário um político do quilate de Flávio Dino: líder inconteste da sua geração no Maranhão, quadro de preparo excepcional, ex-juiz federal, ex-presidente da Associação dos Juízes Federais, ex-deputado federal – com atuação parlamentar muito acima da média enquanto Jair Bolsonaro se mantinha defendendo a ditadura no chamado Baixo Clero -, e governador eleito, reeleito e muito bem avaliado. Sem qualquer favor, o atual presidente da República não tem preparo, nem técnico nem político nem cultural, para enfrentar o governador do Maranhão num debate franco e direto sobre qualquer tema de interesse nacional, de economia a segurança pública. Seria fulminado em pouco tempo, pois não teria informação nem argumento para sustentar. Seu único cacife é o mandato presidencial, que vem usando indevida e abusivamente para impor suas vontades.
O presidente Jair Bolsonaro pode até consumar seu intento retaliar o governador Flávio Dino negando direitos à população maranhense, mas o fará sabendo que pagará preço político salgado.
PONTO & CONTRAPONTO
Revelação: Roberto Rocha teria tentado esconder fraude na eleição da Mesa do Senado
Algum muito errado parece estar contaminando o mandato do senador Roberto Rocha (PSDB). Não bastassem o seu vínculo cada vez mais próximo com a Família Bolsonaro, os rumores de que ele estaria se movimentando para garantir a aprovação da indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) para a Embaixada do Brasil em Washington, a sua defesa enfática do ataque que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) aos governadores do Nordeste, especialmente Flávio Dino, e a postura de apoiar o Governo, mesmo sendo líder da bancada do PSDB, partido que se movimenta para se afastar do presidente Jair Bolsonaro, agora o senador é apontado como acobertador de fraude no Senado quando exerceu o influente cargo de corregedor geral da instituição.
De acordo com O Antagonista, um blog que faz um jornalista claramente alinhado à direita, o senador teria pedido ao chefe da Polícia Legislativa, que investigava o crime, o forjamento de um relatório mostrando que não seria possível identificar o senador que, ao votar na eleição da Mesa Diretora, teria depositado um voto a mais, uma fraude que anularia o tal pleito em qualquer lugar do mundo, principalmente por envolver um eleitorado tão qualificado quanto ao formado por senadores. Corregedor da Casa, Roberto Rocha ficou com a tarefa investigar o caso para identificar e denunciar o fraudador. Só que, de acordo com O Antagonista, o senador maranhense não apenas não fez a investigação devida, como tentou abafar o caso dando uma carteirada infeliz no chefe da Polícia Legislativa. O que disse O Antagonista:
O que o repórter Caio Junqueira revela é a trama construída nos bastidores de Brasília para engavetar as evidências e afastar qualquer punição. Leia um trecho da reportagem exclusiva:
“Roberto Rocha ainda era o corregedor do Senado e estava com a atribuição de descobrir o autor da fraude na eleição para a presidência da casa, quando chamou em seu gabinete, no 25º andar de uma das torres gêmeas do Congresso, o chefe da Polícia Legislativa, Alessandro Morales. Queria uma conversa reservada. (…) A conversa do corregedor com o chefe da polícia do Senado foi constrangedora. Roberto Rocha foi direto ao ponto. Ele pediu a Morales que sua equipe elaborasse uma perícia apontando que seria impossível culpar algum senador pela fraude. Àquela altura, no escuro, já estava decidido que seria melhor para o Senado jogar tudo para debaixo do tapete. Incomodado, Morales respondeu que não atenderia o pedido, levantou-se da cadeira e foi embora…”
A reportagem não esconde os nomes dos envolvidos: estão lá pesos-pesados da política, como Davi Alcolumbre (DEM), presidente do Senado, e Fernando Bezerra (MDB), líder do Governo na Casa.
Nada mais precisa ser dito. Falta apenas o senador Roberto Rocha explicar.
Climão entre Gil Cutrim e Eudes Sampaio em inauguração antecipa o clima de disputa em Ribamar
Já é de forte tensão o clima político em São José de Ribamar por conta da proximidade do ano eleitoral, que será formalmente iniciado no dia 7 de Outubro. Isso ficou muito claro no entrevero entre o prefeito Eudes Sampaio (PTB) e o deputado federal Gil Cutrim (PDT), durante a inauguração de um Batalhão de Polícia, terça-feira, pelo governador Flávio Dino. No ato, o deputado Gil Cutrim assinalou, em discurso, que “nós doamos” o terreno para a construção do BP. Visivelmente irritado, o prefeito reagiu desmentindo o parlamentar. Gil Cutrim explicou que não tentou tirar proveito da situação e que só falou “nós doamos” porque o terreno fora doado ao Estado pelo então prefeito Luis Fernando Silva, de quem na época era vice-prefeito. Mesmo assim, o prefeito Eudes Sampaio manteve o clima de mal-estar.
O episódio poderia ter sido evitado se o deputado federal e ex-prefeito Gil Cutrim não tivesse comparecido ao ato de inauguração ou se o prefeito Eudes Sampaio não tivesse reagido tão mal à afirmação do seu antecessor. Ocorre que os dois, que um dia foram aliados, agora são adversários figadais, um distanciamento que vem aumentando velozmente diante das especulações de que o deputado federal Gil Cutrim ou o pai dele, Edmar Cutrim – conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), poderá ser o adversário do prefeito Eudes Sampaio na disputa pela Prefeitura em 2019. E por conta disso, esse não foi o primeiro nem será o último confronto direto entre eles nos próximos tempos.
São Luís, 08 de Agosto de 2019.