Não se discute que a eleição para o Governo do Maranhão será decidida pela avaliação que os 4,7 milhões de eleitores farão dos candidatos Flávio Dino (PCdoB), que concorre à reeleição; Roseana Sarney (MDB), que já governou o estado por 14 anos; Roberto Rocha (PSDB), que é senador da República; Maura Jorge (PSL), que já foi deputada estadual e prefeita de Lago da Pedra; e Odívio Neto (PSOL) e Ramon Zapata (PSTU), servidores públicos que nunca exerceram mandato popular. Mas é também verdadeiro que muito dessa avaliação será feita com base na relação que cada candidato a governador terá com candidatos a presidente da República; e que nesse contexto é bem fundada a previsão de que o candidato que tiver o aval do ex-presidente Lula da Silva (PT), sendo ele ou não candidato ao Palácio do Planalto, terá um reforço e tanto para chegar são Palácio dos Leões. E nesse jogo de guerra pelo poder estadual, o governador Flávio Dino conta com a soma desse gás lulista ao seu prestígio pessoal. Só que a ex-governadora Roseana Sarney, que já foi aliada de Lula nos dois mandatos dele, encontra-se politicamente impedida de contar com o apoio do ex-presidente, e por isso tenta minar a aliança de Lula com Flávio Dino.
Nesse cenário inicial da campanha para valer, a situação está bem definida. Flávio Dino conta efetivamente com o apoio de Lula à sua reeleição, e defende aberta e enfaticamente o direito de o ex-presidente ser candidato, ainda que condenado e preso. Roseana Sarney se recusa a reconhecer a aliança Lula-Dino e tem feito pronunciamentos dizendo que Lula não apoiará Flávio Dino, deixando no ar a impressão de que aspira contar com o apoio do ex-presidente.
O apoio de Lula a Flávio Dino e vice-versa, ficou claro e foi formalizado com a vinda ao Maranhão, no final da semana passada, do ex-ministro da Educação, ex-prefeito de São Paulo e candidato a vice na chapa do líder petista, Fernando Haddad – que será o candidato do PT a presidente se (ou quando) a candidatura de Lula for de fato detonada pela Justiça Eleitoral. A vinda de Haddad objetivou reforçar o discurso que o próprio Lula fez em São Luís, em setembro do ano passado, quando, diante de uma multidão concentrada em frente ao Palácio dos Leões, declarou apoio incondicional a Flávio Dino, tendo ouvido o mesmo do governador, que foi voz destacada contra sua condenação pela Lava Jato. No seu discurso, Fernando Haddad foi enfático nas inúmeras vezes que, também diante de uma multidão, essa concentrada na Praça Nauro Machado, na Praia Grande, na noite de sexta-feira (24), declarou que “Flávio Dino é candidato de Lula”, não deixando qualquer dúvida sobre o assunto.
No entanto, mesmo diante de todas as evidência e afirmações inequívocas, a ex-governadora Roseana Sarney insiste em semear dúvidas sobre a aliança Lula-Dino. E tem feito de maneira surpreendente, como na noite de sábado, no Residencial Amendoeira, na Zona Rural de São Luís
, na festa de lançamento da candidatura do vereador Genival Alves (PSL) a deputado estadual. Ali, de cima de um carro de som, a emedebista fez um duro discurso atacando o governador, dizendo ter certeza de que o que Fernando Haddad (referindo-se a ele como “essa pessoa”) declarou em inúmeras entrevistas e no comício-gigante na Praia Grande “não é verdade”. “Eu duvido que Lula tenha dito que apoia esse governador”, declarou, várias vezes, argumentando que “Lula não apoiaria um governador que acabou com os programes sociais dele”. O que mais chama atenção no movimento de Roseana Sarney para minar a aliança Lula-Dino é o fato de o seu partido, o MDB, ter um candidato a presidente, o ex-banqueiro e ex-ministro Henrique Meirelles, e ela não se manifestar a respeito de como, ou se, pretende propagá-lo no Maranhão. Claro está, portanto, que Roseana Sarney avalia que, sem Lula, Flávio Dino tem força politica eleitoral para se reeleger, e que com Lula o favoritismo do comunista é muito maior, daí adotar uma estratégia tão ousada quanto perigosa, na qual seus argumentos podem ser facilmente desmontados.
Com média de 30% nas intenções de voto, conforme as pesquisas, Roseana Sarney tem cacife próprio para levar sua campanha adiante, sem ter de brigar pelo apoio de um presidenciável que, já deixou claro, que não se aliará a ela. E numa situação em que nesse embate pela força de Lula no Maranhão e vice-versa o governador Flávio Dino, que tem em média mais de 50% das intenções de voto, segundo as mesmas pesquisas, está levando nítida e, tudo indica, sólida vantagem no campo político e que provavelmente será confirmada no resultado eleitoral.
PONTO & CONTRAPONTO
Lula mostra força e já transfere para Haddad 47% dos seus votos no Maranhão
Não surpreendeu os observadores mais atentos a informação encontrada pela pesquisa Exata/JP dando conta de que Fernando Haddad, atual candidato a vice, mas virtual candidato a presidente no lugar de ex-presidente Lula da Silva pelo PT, já tem 47% das intenções de voto no Maranhão. De acordo com o levantamento, Jair Bolsonaro (PSL) aparece em segundo lugar com 17%, seguido de Marina Silva (Rede) com 8%, Ciro Gomes (PDT) com 6%, Geraldo Alckmin (PSDB) com 2% e Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e Vera Lúcia (PSTU) com 1% cada. Guilherme Boulos (PSOL) e Cabo Daciolo (Patriotas) não pontuaram no Maranhão. Brancos e nulos somaram 13% e 4% disseram não saber ou não responder.
Não há dúvida de que o Maranhão tem uma das fatias do eleitorado nacional mais fiel a Lula, por conta do tremendo investimento social que os seus dois governos fizeram no estado. Basta lembrar que quase um milhão de maranhenses vivem atualmente com os recursos do Bolsa-Família, e que o programa Luz Para Todos, viabilizado pelo senador Edison Lobão quando ministro de Minas e Energia, alcançou mais de 700 mil famílias em todos os recantos do estado. Daí ser absolutamente possível a transferência de, se não todas, pelo menos a maior parte das suas intenções de voto para Fernando Haddad, caso ele venha mesmo ser candidato a presidente, com o está se desenhando.
Em Tempo: A pesquisa do Instituto Exata, que está registrada no TSE sob o protocolo MA-07422/2018, ouviu eleitores do Maranhão entre os dias 19 e 23 de Agosto e tem margem de erro de 3,2% para mais ou menos.
Maura Jorge enfrenta dificuldades para manter de pé sua campanha a Governo
Mesmo tendo inaugurado seu comitê de campanha em São Luís, sábado, com uma festa política, alguma situação complicada está emperrando os movimentos iniciais da campanha de Maura Jorge (PSL). Inicialmente entusiasmada com a posição e ser “a voz” do presidenciável Jair Bolsonaro no Maranhão, ela tem dado mostras de que enfrenta dificuldades enormes para montar uma estrutura mínima de campanha, a começar pelo fato de que seu partido não dispõe de muitos recursos. Maura Jorge, que tem pelo menos 3% das intenções de voto, tem alternado sua trajetória de candidata com manifestações de otimismo e de desânimo, dando a entender que enfrenta enormes obstáculos para seguir em frente. Um dos fatores dessa gangorra de ânimo seria o fato de Jair Bolsonaro ter 17% das intenções de voto no Maranhão e ela só está à frente de Odívio Neto (PSOL) e Ramon Zapata (PSTU). No seu discurso de campanha, Maura Jorge tem jogado pesado contra o governador Flávio Dino, dando a impressão de que forma, com Roseana Sarney e Roberto Rocha uma frente informal de ataque ao candidato do PCdoB, sem haver troca de farpa entre eles. Há quem diga que ela até já pensou em desistir, mas a julgar pelo seu histórico e pela fibra que sempre demonstrou, poucos duvidam que ela vai se manter na guerra até o fim.
São Luís, 28 de Agosto de 2018.