“O candidato do Lula é o Flávio Dino”. De todas as declarações feitas no calor da campanha para o Governo do Estado e para a presidência da República no Maranhão, essa foi a de maior impacto no cenário político estadual, porque colocou definitivamente os candidatos a governador e a presidente nos seus devidos lugares. Como um recado direto, que não deixasse qualquer dúvida, a frase foi pronunciada pelo ex-prefeito de São Paulo e vice do ex-presidente, Fernando Haddad (PT), na noite de sexta-feira num gigantesco comício na Praia Grande, comandado pelo governador Flávio Dino (PCdoB) e que marcou a largada da campanha de Lula no estado. Agora, o quadro é o seguinte: Lula-Flávio Dino, Geraldo Alckmin – Roberto Rocha (PSDB), Jair Bolsonaro – Maura Jorge (PSL), Guilherme Boulos-Odívio Neto (PSOL), Vera ???-Ramon Zapata (PSTU). Os demais candidatos a presidente estão ligados a candidatos a senador – como Marina Silva (Rede), por exemplo, que deverá ser apoiada pelo deputado federal Sarney Filho (PV), candidato ao Senado – e Álvaro Dias (Podemos), que tem o deputado federal Aluízio Mendes como porta-voz. A única situação a ser revolvida no cenário estadual é a relação da ex-governadora Roseana Sarney com o candidato do MDB a presidente, Henrique Meirelles.
A declaração pública e enfática de Fernando Haddad de apoio à candidatura de Flávio Dino, que já lidera com larga vantagem a corrida ao Palácio dos Leões, dá ao governador mais consistência política e mais combustível eleitoral. A aliança PCdoB-PT reforça ainda mais sua posição na política estadual como líder de um Governo reformador, bem sucedido e aprovado pela maioria, segundo apontam pesquisas e levantamentos diversos. E amplia expressivamente sua influência no cenário nacional como um dos mais importantes líderes da esquerda moderada, dando mais peso à sua voz nos espaços de decisão na região e no País. Isso sem contar o fato de ser até aqui a voz mais contundente na crítica ao processo, a condenação e a prisão do ex-presidente Lula, posição reafirmada enfaticamente no discurso de sexta-feira:
“Vocês estão aqui porque estão do lado da Justiça. A Justiça é maior que a injustiça, o bem vence o mal e é por isso que estou pedindo que vocês me ajudem, nós temos uma batalha no Maranhão. Estamos solidários ao presidente Lula. Eu fui lá em Curitiba. E o povo do Maranhão sabe que ele solto ganha a eleição no primeiro turno em todo o Brasil. O sentido histórico dessa noite é sermos portadores da bandeira da esperança, da Justiça, da igualdade social, de um Brasil e de um Maranhão que não tenha dono nunca mais e seja sempre de todo nós, como hoje é”.
O ato de sexta-feira na Praia Grande consolidou ainda o projeto que levará Fernando Haddad à condição de candidato a presidente da República se (ou quando) a Justiça Eleitoral declarar a inelegibilidade do ex-presidente Lula, tendo deputada gaúcha Manuela D´Ávila (PCdoB), que estava presente ao ato na praça Nauro Machado, como candidata a vice – coroando uma operação que foi diretamente articulada pelo governador maranhense.
A aliança Lula-Dino consolidada por Fernando Haddad no ato da Praia Grande eliminou também qualquer possibilidade de a ex-governadora Roseana Sarney usar o ex-presidente petista no seu discurso de campanha. Mais do que isso, a obrigará a adotar, mesmo a contragosto, Henrique Meirelles como seu candidato a presidente, por exigência partidária e cobrança do próprio candidato emedebista. Na semana passada, por exemplo, assessores de Meirelles orientaram o comando regional do MDB a instalar um comitê de campanha do emedebista em São Luís, o que deve acontecer nos próximos dias, para que o próprio venha inaugurar. A ex-governadora encontra-se numa “saia justa”, mas ninguém duvida de que, com a experiência e o poder de fogo que ainda conserva, o ex-presidente José Sarney (MDB), seu guru, encontre uma saída negociada com a cúpula emedebista nacional para, pelo menos, reduzir o peso do fardo presidencial do ex-banqueiro.
Qualquer exame cuidadoso e isento do atual cenário político maranhense levará à conclusão de que, mesmo levando em conta o conforto de candidatos a governador com presidenciáveis bem, definidos – como o tucano Roberto Rocha, por exemplo, que tem o tucano Geraldo Alckmin e Maura Jorge com Jair Bolsonaro -, a posição do governador Flávio Dino nesse item parece ser a mais politica e eleitoralmente promissora, exatamente porque será a soma do seu capital político com o de Lula, seja para embalar o ex-presidente ou seu substituto.
PONTO & CONTRAPONTO
Aluísio Mendes quer que a Justiça Eleitoral submeta Josimar de Maranhãozinho a um teste de alfabetização
Uma guerra mobralesca pesada está sendo travada entre o deputado federal Aluísio Mendes (Podemos), candidato à reeleição, e o deputado estadual Josimar de Maranhãozinho (PR), candidato a deputado federal. Movido por tensões relacionadas à corrida ao voto, Aluísio Mendes denunciou Josimar de Maranhãozinho como suspeito de forjar documentos falsos para comprovar sua escolaridade, levantando assim a suspeita de que o deputado do PR, que foi o mais votado para a Assembleia Legislativa em 2014, não tem instrução suficiente para ser declarado alfabetizado como exige a legislação eleitoral. O deputado federal Aluísio Mendes decidiu turbinar um inquérito já em andamento para apurar a suspeita de que, para concorrer em 2014, Josimar de Maranhãozinho teria apresentado comprovante falso de escolaridade do ensino fundamental, não teria apresentado comprovante de ensino médio e teria usado uma suposta matrícula em curso superior na Universidade Anhanguera. Aluísio Mendes garante que toda a documentação é falsa e levanta a suspeita até de que Josimar de Maranhãozinho não concluiu sequer o ensino primário. E para colocar essa suspeita em pratos limpos, Aluísio Mendes pede que a Justiça Eleitoral não apenas examine rigorosamente a documentação escolar de Josimar de Maranhãozinho, mas também o submeta a um teste de alfabetização, para que possa provar se é escolarizado ou analfabeto. O clima que envolve essa denúncia é de tensão, a começar pelo fato de que, além do risco de ter a candidatura barrada, Josimar de Maranhãozinho pode passar pelo constrangimento de não preencher os requisitos da legislação eleitoral. A denúncia do deputado federal Aluísio Mendes, que é um competente policial federal de carreira, contra Josimar de Maranhãozinho, um político influente em vários municípios, mas marcado pela controvérsia, gerou um ambiente de expectativa nos bastidores da corrida eleitoral.
Lista de inelegíveis do MPE inclui Pedro Fernandes e Sebastião madeira, dois políticos com fama de ficha limpa
Duas impugnações de candidatos às eleições deste ano, incluídas numa longa relação de supostos fichas sujas tornada pública pelo Ministério Público Federal chamaram atenção no meio político, exatamente por alcançar políticos com históricos respeitáveis, de correção e sempre vistos como exemplo. O primeiro é o deputado federal Pedro Fernandes (PTB), considerado por muitos um dos políticos mais decentes do Maranhão, com vários mandatos de vereador e deputado federal – ao longo da sua carreira foi o deputado federal que mais compareceu a sessões, por exemplo – e sobre quem jamais foi colocada uma sobra de suspeição. Ele teve sua candidatura a suplente de senador na chapa de Eliziane Gama (PPS) em risco por conta de problemas na prestação de contas de um convênio firmado entre a Secretaria de Extado da Educação, quando foi titular da pasta no Governo de Roseana Sarney. Ele contesta veementemente a informação do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e dificilmente deixará de ser candidato. O outro candidato atingido foi Sebastião Madeira (PSDB), um político também com um histórico de correlação correção pessoal e como homem público. Ele foi acusado de improbidade pelo TCE irregularidade por conta da derrapagem do secretário de Educação da sua gestão como prefeito de Imperatriz. Ele argumenta a acusação á absurda, já que ele não era o ordenador de despesa nesse caso, não tendo nada diretamente a ver com o suposto erro, salvo a condição de prefeito. Interpreta sua situação como um erro “monumental e grave” do TCE.
São Luís, 26 de Agosto de 2018.