A crise por que passa o PSDB do Maranhão vai muito além de uma guerra pelo poder no ninho local, tendo de um lado o ex-prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, e o senador Roberto Rocha, e de outro o vice-governador Carlos Brandão. Essa peleja, ao contrário do que muitos imaginam, é reflexo direto de um racha abissal que agita e ameaça o futuro do tucanato, pondo em risco a mais forte expressão da principal corrente que prega uma estranha mistura de socialdemocracia política e liberalismo econômico, o que a posiciona como a principal força de combate às esquerdas no País. Nesse contexto, além da queda de braço pelo controle do partido no estado, está em jogo um projeto de poder do PSDB que passa pelo rompimento com o PCdoB e o saída dos tucanos da base de apoio do governador Flávio Dino. E a o ponto de confronto é exatamente a candidatura do senador Roberto Rocha ao Governo do Estado.
A crise intestina dos tucanos no plano nacional é fruto de um “racha” entre a corrente liderada pelo senador mineiro Aécio Neves e o grupo liderado pelo senador Tasso Jereissati. O vice-governador Carlos Brandão manteve o comando do partido enquanto Aécio Neves tinha força na cúpula do tucanato. Já Sebastião Madeira integra a ala ligada a Tasso Jereissati. Enquanto Aécio Neves esteve no trono e dava as cartas dentro do PSDB, Carlos Brandão segurou o controle firme do PSDB no Maranhão, mantendo-o na base do governador Flávio Dino. Nesse período, Sebastião Madeira, que é a maior liderança do PSDB no estado, foi mantido distante, quase isolado, mas esperando a hora de dar a volta por cima. A derrocada de Aécio Neves, transformado de uma hora para outra de líder máximo do tucanato e candidato a presidente da República em quase um pária dentro do PSDB, funcionou como uma bomba na base de poder de Carlos Brandão, que perdeu poder e agora vê o PSDB que montou ser desmontado e sem nenhuma chance de reação.
A orientação que está levando o PSDB a dar essa guinada tem como objetivo central colocar o partido como a força que vai liderar a corrida presidencial contra as esquerdas. E para isso, é necessário que os tucanos rompam todos os laços que tiverem com qualquer segmento de esquerda – exceto com o PPS, com o qual têm uma relação sólida. Essa orientação atinge direta e fortemente o PCdoB, e em especial o braço do partido no Maranhão, hoje o mais importante por conta da liderança alcançada pelo governador Flávio Dino, agora o seu quadro mais importante e promissor. Sob a orientação de Aécio Neves, o PSDB firmou e manteve a aliança com o PCdoB no Maranhão, tendo representante o vice-governador Carlos Brandão. Sob Tasso Jereissati, a ordem é romper com o PCdoB e com o projeto de Flávio Dino, e para isso mudará o comando estadual, por intervenção, já que não há qualquer possibilidade de Carlos Brandão seguir essa orientação do partido.
Apoiado pelo governador Flávio Dino, o vice-governador Carlos Brandão ensaia uma reação, desafia Sebastião Madeira a enfrentá-lo no voto, numa convenção do partido, mas sabe que a perda de poder no PSDB é irreversível e que seu caminho é mudar de partido. No contraponto, Carlos Brandão está ciente de que a direção do ninho dos tucanos maranhenses será assumida pelo ex-prefeito Sebastião Madeira, que vai comandar a campanha na qual o senador Roberto Rocha será adversário do governador Flávio Dino na disputa pelo Governo do estado.
Em resumo: a crise que sacode e muda os rumos no PSDB do Maranhão não é, portanto, uma quizila entre Carlos Brandão e Sebastião Madeira, mas o reflexo de uma guinada em que o partido está dando com vistas a se preparar para a guerra pelo poder central no ano que vem.
PONTO & CONTRAPONTO
Lançamento de musa do PCdoB ao Planalto pode criar embaraço ao governador Flávio Dino
O lançamento da deputada gaúcha Manuela D`Ávila como candidata do PCdoB à presidência da República no ano que vem pode criar um embaraço para o governador Flávio Dino, que até aqui tem se movimentado como incentivador de proa da candidatura do ex-presidente Lula da Silva (PT). A menos que seja uma estratégia com outros objetivos, o lançamento da musa comunista à sucessão do presidente Michel Temer (PMDB) contraria frontalmente a posição do governador Flávio Dino, que vem pregando a volta do ex-presidente ao poder, como ficou demonstrado no grande ato político, realizado em frente ao Palácio dos Leões, para marcar o encerramento da caravana do ex-presidente pela Região Nordeste, no início de setembro. Numa articulação feita por Lula, a banda do PT maranhense que estava aliada ao PMDB migrou para a base de apoio do governador Flávio Dino, e tudo indica que com chances de participar da chapa com a qual o governador brigará pela reeleição. Se a candidatura de Manuela D`Ávila for para valer, Flávio Dino terá de abandonar sua aliança com Lula para engajar-se na campanha da candidata do seu partido. E a menos que essa situação seja esclarecida com rapidez, o que só acontecerá com uma declaração do governador se posicionando sobre o assunto, a impressão que ficará será a de que ele não está alinhado com o projeto do seu partido.
Entra-e-sai de Zé Vieira causa mal-estar no TJ e má impressão fora dele
Vem causando mal-estar no Tribunal de Justiça e má impressão fora dele o entra-e-sai de Zé Vieira (PR) no cargo de prefeito de Bacabal por determinação judicial. Nenhum dos vários especialistas ouvidos informalmente pela Coluna encontrou fundamento na decisão da desembargadora Cleonice Freire de, durante um plantão, desfazer uma decisão da Justiça de afastar o prefeito do cargo por reconhecer que ele é ficha-suja e não deveria sequer ter concorrido à Prefeitura. O despacho da desembargadora – que já presidiu o Tribunal de Justiça – foi tão controversa que em menos de 48 horas foi desmanchada por um colega dela, desembargador José Ribamar Castro. De acordo com um dos especialistas ouvidos pela Coluna, a decisão da desembargadora tem pouca consistência jurídica, enquanto o despacho que a desmanchou está fundamentado em argumentos mais sólidos. O observador prevê que dificilmente o Pleno do Tribunal de Justiça mudará a decisão do desembargador José Ribamar Castro caso os advogados de Zé Vieira protocolarem – o que muito provavelmente farão, se já não tiverem feito – um agravo de instrumento, o último recurso possível nesse caso.
A conclusão dominante entre eles é a seguinte: Zé Vieira não mais será prefeito de Bacabal, nem Florêncio Neto (PHS) continuará vice e o substituirá. Essa chicana judicial vai terminar em pouco tempo. E o ponto final será colocado ela Justiça Eleitoral. Convencido pela Justiça Federal de que Zé Vieira tem contas rejeitadas e processos transitados e julgados por improbidade, que o tornam inelegível – ele não poderia ter sido candidato -, a Justiça Eleitoral certamente anulará os votos dados à chapa por ele liderada. Essa decisão poderá resultar em dois desfechos: declarar eleito o segundo colocado, no caso o deputado Roberto Costa (PMDB), ou convocar nova eleição em 30 dias. |O que vier a acontecer antes do posicionamento da Justiça Eleitoral será mera jogo-de-empurra.
São Luís, 06 de Novembro de 2017.
Aécio já esteve com Brandão, mas há muito tempo. Hoje ele aparenta estar mais grato, próximo e simpático aos Sarneys; mas ao que tudo indica, foi realmente o Tasso Jerissati que bateu o martelo. E outra, hoje o cenário não é mais igual ao das eleições passadas: Carlos Brandão avermelhou demais pros padrões do PSDB; Flavio Dino virou “Lulete”, sem a menor possibilidade de fazer o jogo de cena que fez na Campanha passada (sinalizar pros dois lados).
Agora a situação complicou pro Brandão, que só foi Vice por causa do Partido.