Nenhum braço partidário do Maranhão encontra-se em situação tão complicada e está com futuro tão indefinido quanto o PT. Dividido quando exerceu o poder com o PMDB no estado, mas alimentando visível autoconfiança estimulada pelo fato de estar com poder pleno na República, o partido mergulhou em crise quando o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff começou a ser movimentado no Congresso Nacional. Agora sem poder na União nem no estado, a agremiação petista vive uma situação traumática do partido que nasceu para ser oposição, mas que chegou ao poder, gostou de mandar, e que agora, sem ele, se move sem saber exatamente para onde ir. As duas correntes petistas que se batiam no Maranhão vivem, no momento, a perplexidade da perda do poder e das consequências de o partido ter perdido a credibilidade. Os dois grupos, que se tornaram adversários figadais, tentam hoje se reaproximar, mas se deparam com imensas dificuldades.
Presidida pelo professor Raimundo Monteiro, um militante calejado, a corrente que controla o Diretório estadual se desdobra para manter o partido de pé, juntamente com o braço da CUT no Maranhão. Esse grupo tenta ganhar fôlego flertando, de um lado, com o governador Flávio Dino (PCdoB), numa relação que se estreitou depois que o chefe do Executivo abraçou a causa da presidente Dilma Rousseff, transformando-se no seu mais tenaz defensor contra o pedido de impeachment. Mas do outro lado está a banda do PT que nunca se aliou ao PMDB e faz parte do staf que assessora Dino desde suas primeiras campanhas eleitorais. Esse grupo, que tem como expoentes os secretários de Direitos Humanos e Mobilização Popular, Francisco Gonçalves, e de Esportes, Márcio Jardim, admite a possibilidade de reunificar o partido no Maranhão, embora conviva com a suspeita de que a reunificação seja um objetivo difícil de ser alcançado. No meio dos dois grupos está a CUT, o braço sindical do partido, que diferentemente das outras centrais sindicais, firmou a decisão de não reconhecer o Governo do presidente Michel Temer.
O PT maranhense nunca foi uma sigla de grande expressão eleitoral, e até aqui não teve uma representação de fato expressiva em matéria de mandatos. Mas foi o terror oposicionista dos governos de João Castelo (segunda metade), Luis Rocha (1983/1987), Epitácio Cafeteira (1987/1990), Edison Lobão (1991/1995) e os dois primeiros mandatos de Roseana Sarney (1995/2002), e gerou quadros importantes, como o ex-deputado federal Domingos Dutra, atualmente no PCdoB. Mas hoje, o PT é um partido inexpressivo, sem o charme político dos tempos em que brigava contra tudo e contra todos como a mais autêntica e destacada corrente de oposição de esquerda. Nas eleições de 2014, quando se esperava que ele saísse das urnas fortalecido no embalo da reeleição da presidente Dilma Rousseff, a secção maranhense do partido de Lula quase naufragou de vez. Além de não ter renovado seu condomínio com a Vice-Governadoria, perdeu feio na briga proporcional, ao eleger apenas um deputado federal, José Carlos Araújo, um funcionário graduado da Caixa que em nada lembra um petista. E elegeu apenas dois deputados estaduais, a discreta Francisca Prima, uma professora de Buriticupu que sempre foi vista com reserva por petistas mais afoitos, e por esse e outros motivos desembarcou do PT e entrou para as fileiras do PCdoB; e Zé Inácio, um jovem militante, que se esforça para manter o partido de pé, mas não tem a liderança para levar seu projeto adiante.
É nítida a desorientação do PT maranhense, que tenta se situar numa realidade nova após 13 anos embalado pela força do poder de Brasília e pela entusiasmante sensação de estar no comando do País. A mudança brusca e traumática colocou o partido numa espécie de vazio, sem condições de reagir e obrigado a começar tudo de novo, do zero, e agora com o complicador de ser um partido com a credibilidade em baixa. Isso porque ninguém no PT acredita que a presidente Dilma Rousseff reverta o afastamento e saia inteira do processo de impeachment. Se a presidente conseguir dar a volta por cima, o PT irá às urnas turbinado. Se não – o que é mais provável -, o partido terá enormes dificuldades de ir às ruas pedir votos.
PONTO & CONTRAPONTO
Bandidos infernizam sistema de transporte de São Luís
São Luís vive um momento de recrudescimento da violência que inferniza o sistema municipal de transporte coletivo. Sob ordens de chefes trancafiados no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, bandidos ligados à facção conhecida como “Bonde dos 40” incendeiam ônibus, gerando pânico na população. Nos últimos dois dias, foram sete ataques, com a destruição de seis ônibus – o sétimo escapou da carbonização pela agilidade do motorista, que conseguiu debelar o fogo antes que as labaredas de espalhassem. Ninguém saiu ferido. Nesse período, 33 pessoas foram presas, sendo dois remanescentes da onda de incêndios de janeiro de 2014, quando uma criança foi carbonizada numa ação que chocou o país. O governo colocou todo o seu efetivo policial disponível nas ruas à caça dos criminosos, diferentemente de dois anos atrás, quando o governo e a polícia foram apanhados de surpresa e não souberam o que fazer, pois não havia um plano.
Situação está bem melhor que em 2014
Em 2014, além de não ter um plano para enfrentar a situação, o Governo também enfrentava uma sequência de rebeliões em Pedrinhas, onde uma guerra de facções matou mais de 100 em apenas um ano, em atos de brutalidade inacreditáveis, como degola e outras. Agora, a situação é bem diferente. Pedrinhas está sob controle, os detentos não se rebelam a um ano e o Sistema passa por uma mudança radical, sem um assassinato há meses e meses. Ainda está longe de ser um sistema prisional de primeira, mas certamente está muito melhor que há dois anos. Não há como negar que a situação ali mudou para melhor e que, de um modo geral, os ludovicenses vinham experimentando uma sensação de que estão mais seguros. Os ataques a ônibus ressuscitaram os temores e as preocupações do cidadão que depende do transporte coletivo. E como não poderia deixar de ser, oposição e situação travam desde quinta-feira uma verdadeira guerra nos blogs e nas redes sociais.
Governador pode pedir apoio federal
Ontem, em meio à enorme repercussão da ação dos bandidos, o governador Flávio Dino abordou o assunto nas redes sociais: “Uma quadrilha que atua no Maranhão há muitos anos está tentando reagir à moralização do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Todo o Sistema de Segurança está totalmente mobilizado para garantir a ordem pública. E assim vai continuar. Já temos mais de 20 presos – chegou a 33 – por atos contra ônibus ontem e hoje. Crimes com o intuito de gerar pânico. Policiais e bombeiros do Maranhão fazendo o máximo possível. Têm meu apoio e confiança. Avalio se pediremos ajuda federal. Já fiz contato com o ministro da Justiça. Ainda hoje teremos uma definição sobre o assunto. Além da pronta e decidida ação da nossa Polícia”.
Secretário vê rumo certo
O secretário de Articulação Política e Comunicação, jornalista Márcio Jerry, em um disparo na guerra que trava contra blogueiros ditos de oposição, disse o seguinte: “Bandidos de todo tipo, torcedores dos assaltantes, assassinos e traficantes estão zangados com o Governo Flávio Dino. Caminho certo!!”.
São Luís, 20 de Maio de 2016.