A senadora Eliziane Gama (Cidadania) fez ontem o que até as pedras de cantaria da Praia Grande já sussurravam: desembarcou do foguete do senador Weverton Rocha (PDT) e embarcou na locomotiva do governador Carlos Brandão (PSB) rumo as eleições de outubro. E fez a manobra dentro dos padrões éticos das decisões políticas decentes, jogando abertamente, sem usar subterfúgios, e assumindo os riscos que todo movimento ou gesto dessa natureza costuma produzir. Refletiu, examinou o cenário de agora e as possibilidades do futuro, tomou a decisão e a comunicou imediatamente ao pré-candidato do PDT e ao eleitorado em postagens nas suas redes sociais. Na justificativa, um argumento irrefutável: mudou de rumo em nome da unidade, apelando para que o senador Weverton Rocha arquive o seu projeto de candidatura e fortaleça a unidade do grupo em torno do projeto de reeleição do governador Carlos Brandão e da candidatura do ex-governador Flávio Dino (PSB) ao Senado. O senador não aceitou.
Esperado por muitos e visto como impossível por alguns, o movimento da senadora Eliziane Gama foi um ato de pragmatismo político, ao qual se juntam fina argúcia e apurado instinto de sobrevivência dos quais são dotados os políticos mais bem-sucedidos. Uma das primeiras lideranças da aliança comandada por Flávio Dino a declarar apoio à pré-candidatura de Weverton Rocha, a senadora manteve sua posição e o seu discurso de sustentação até quando começou a se dar conta de que o pré-candidato pedetista dificilmente teria combustível suficiente para manter o seu foguete no ar.
Nos bastidores, corre que, nas últimas duas semanas, Eliziane Gama conversou diversas vezes com Weverton Rocha, tentando fazê-lo mudar de ideia e arquivar sua pré-candidatura, evitando assim o racha no grupo criado e mantido às duras penas por Flávio Dino nos últimos sete anos. Encontrou no colega senador um pré-candidato obstinado e determinado a seguir em frente, mesmo que praticamente sozinho. A exemplo do que fez anteriormente o deputado Othelino Neto (PCdoB), que tentou demovê-lo diante do rápido esvaziamento do grupo de apoio criado ainda no ano passado, Eliziane Gama usou fortes argumentos, sem, no entanto, dissuadir o colega senador quanto ao projeto de candidatura.
Ontem, ela postou nas suas redes sociais: “Respeito a decisão do colega Weverton em continuar com sua candidatura, mas vou pela unidade, reafirmando nosso apoio ao amigo Flávio Dino para o Senado e, para governador, apoiaremos Carlos Brandão em nome do desenvolvimento do Maranhão implantado pelo governador Flávio Dino. Finalizo deixando, mais uma vez, meu apelo ao colega Weverton Rocha para que fique conosco em nome da unidade e do progresso do Maranhão, nesse grande projeto comandado por nosso líder Flávio Dino”. O senador Weverton Rocha respondeu em seguida: “Respeito a decisão da amiga Eliziane. Mas preciso lembra-la que apoiar um governador que acaba de nomear cinco membros da oligarquia Sarney como secretários contraria o que sempre defendemos e somos. Por aqui, luta que segue. Te espero de braços abertos no segundo turno, Eliziane”.
Ainda que informalmente, Eliziane Gama reforçou a aliança partidária de apoio a Carlos Brandão com o PSDB e com o Cidadania, juntados numa federação, sendo o primeiro controlado por Inácio Melo, marido e operador político, e o segundo presidido pelo irmão, Eliel Gama, apoiador de Carlos Brandão desde o primeiro momento. A família Gama rachou, tendo Eliel Gama impedido que a senadora levasse o Cidadania para a órbita do projeto de candidatura do chefe pedetista. A reviravolta de Eliziane Gama reconcilia também a banda política da família.
Com o engajamento da senadora Eliziane Gama, o governador Carlos Brandão consolida de vez o seu projeto de reeleição e o ex-governador Flávio Dino vê mais próxima a reunificação total da grande aliança que esculpiu em 2014.
PONTO & CONTRAPONTO
Resposta de Weverton a Eliziane indica que ele quer confrontar Brandão
Se por um lado foi bem-sucedida no que diz respeito a elas própria, a mudança da senadora Eliziane Gama não funcionou em relação ao senador Weverton Rocha. Na sua resposta ao seu apelo, ao mesmo tempo em que até tentou ser gentil para com ela o senador pedetista respondeu de maneira áspera em relação ao governador Carlos Brandão, deixando no ar a impressão de que quer o confronto. Essa disposição ficou clara quando, em tom de censura, lembrou a Eliziane Gama que o governador nomeou para sua equipe “cinco membros da oligarquia Sarney, contraria tudo o que defendemos e somos”. Com a resposta, dá a entender que não está nem aí para o ideal de grupo e que não leva em conta os esforços políticos do ex-governador Flávio Dino. Com essa reação, o senador Weverton Rocha reforça a ideia de que sua pré-candidatura é, de fato, um projeto impessoal, que não leva em conta a noção de grupo. E se estiver apostando num embate direto com o governador Carlos Brandão, deve ser aconselhado a recolher as armas, uma vez que o pré-candidato do PSB já sinalizou que não se deixará dominar por provocações. Ao contrário, parece disposto a seguir acenando para que o senador traga o foguete de volta ao solo em segurança e embarque na locomotiva.
Maranhãozinho quer repetir campeonato de votos com Detinha
O deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL) está determinado a fazer com que sua esposa, a deputada estadual Detinha (PL) saia das urnas de outubro como a campeã de votos para a Câmara Federal e dele próprio de novo campeão de votos para a Assembleia Legislativa, caso reveja sua pré-candidatura do Governo do Estado. O presidente estadual do PL sabe o que diz quando fala em grandes votações em eleições proporcionais. Em 2014, saiu das urnas como campeão de votos para a Assembleia Legislativa, com pouco mais de 90 mil votos. Em 2018, foi o mais votado para a Câmara Federal e, como se isso não bastasse, sua esposa, Detinha, foi a mais votada para a Assembleia Legislativa. Se não mantiver sua pré-candidatura a governador, irá para as urnas com esses dois desafios.
São Luís, 08 de Abril de 2022.