São Paulo – Líder nas pesquisas que têm apurado as preferências do eleitorado na corrida para a Prefeitura de São Luís, a deputada federal Eliziane Gama (PPS) tem dois desafios pela frente. O primeiro é consolidar essa liderança, que costuma perder força à medida que a corrida avança, e o segundo é se munir de instrumentos por meio dos quais consiga reverter as nada estimulantes experiências de mulheres no comando administrativo da Capital. Os dois exemplos mais recentes – Gardênia Castelo (1985/1989) e Conceição Andrade (1993/1997) – foram marcados fracassos retumbantes, menos por falta de competências das prefeitas, mas mais por pressões políticas que não tiveram condições de evitar nem suportar. Suas administrações foram submetidas a rolos compressores movidos por adversários poderosos, que simplesmente esmagaram suas frágeis bases políticas e bloquearam todas as possibilidades de sucesso administrativo.
Eleita com a maior votação já recebida por um candidato a prefeito de São Luís, na esteira de uma campanha em que usou o prestígio de primeira-dama ativa e politicamente engajada no governo no marido, João Castelo (1979/1982), Gardênia Castelo (PDS) bateu nas urnas o candidato Jaime Santana (PMDB), apoiado pela força avassaladora do então presidente da República José Sarney. E foi exatamente o desdobramento desse embate que lhe impôs um preço que não pôde pagar. A equação era simples: aliado de primeira hora de Sarney, Castelo rompeu com o líder vislumbrando assumir o comando político do Maranhão. A ascensão de Sarney à Presidência da República brecou o projeto e isolou o então senador. Mas a força política que acumulara e o prestígio pessoal da ex-primeira-dama deram a Gardênia Castelo o cacife eleitoral que a dinheirama derramada na campanha de Jaime Santana não neutralizou.
Eleita e empossada, Gardênia Castelo ficou entre a cruz e a espada: permaneceria como adversária política de Sarney ou tentaria uma reconciliação? Orientada pelo marido-senador, a prefeita apostou que Sarney não lhe deixaria na mão. Errou feio. Sarney deu todos os recursos para que o então governador Epitácio Cafeteira realizasse grandes obras em São Luís, isolando a prefeita Gardênia Gonçalves e praticamente desconhecendo a existência da administração da Capital. Resultado: sua administração foi um fracasso se avaliada a partir da perspectiva criada durante a campanha. E o que muitos apontaram como “maldade” de Sarney foi, na verdade, a lógica política fria, pois apoiar Gardênia seria fortalecer o senador João Castelo, que preferiu se manter como adversário.
Situação idêntica aconteceu com a prefeita Conceição Andrade, só que com outros ingredientes. Sem um nome para bancar como seu candidato à sua própria sucessão, o então prefeito Jackson Lago (PDT) articulou uma grande aliança de partidos à esquerda em torno da candidatura da deputada Conceição Andrade (PSB). Jackson Lago deixou a Prefeitura com a popularidade nas alturas, com poder de fogo não apenas para fazer o sucessor, mas também para influenciar fortemente na gestão seguinte, a começar pelo fato de que o PDT tinha forte representação na Câmara Municipal e seguia rigorosamente sua orientação.
Jovem, com boa formação e respeitada como militante de esquerda, Conceição Andrade assumiu o poder de braços dados com o ex-prefeito Jackson Lago, mas logo os agentes do PDT começaram a querer ditar as regras na Prefeitura, o que a prefeita não aceitou. Não demorou para que Conceição Andrade fizesse mudanças na equipe e deixasse claro que a partir da ali não mais aceitaria interferências. O resultado foi o rompimento com Jackson Lago, que a chamou de “vírus da traição”. Com o seu poder de fogo, Jackson Lago e seus aliados minaram sistematicamente a gestão de Conceição Andrade. A pressão foi tamanha que, meses antes de encerrar o mandato, Conceição conseguiu articular um empréstimo no Banco Mundial, o que lhe permitiria realizar obras importantes. Com o aval de Jackson Lago – que em seria eleito prefeito mais uma vez (1996) -, a Câmara Municipal, negou autorização ara a transação, consumando a fragilidade do governo Conceição Andrade.
Os dois casos são exemplares no que diz respeito ao lastro político que um prefeito de São Luís precisa ter para planejar e executar uma boa gestão. É esse o desafio que a deputada Eliziane Gama terá se conseguir consolidar uma base eleitoral que a leve à reta final da corrida com o favoritismo de agora, o que não será nada fácil, a julgar pelos movimentos mais recentes do prefeito Edivaldo Jr. (PTC).
São Paulo, 28 de Agosto de 2015.