A movimentação política das últimas semanas, que teve como ponto máximo de efervescência a visita do presidente Lula da Silva (PT) a São Luís, rascunhou o que alguns observadores centrados previram desde que o então senador Flávio Dino (PSB), atendendo a um “pedido irrecusável do presidente Lula”, aceitou renunciar ao mandato de oito anos – para o qual fora eleito com a maior votação proporcional do País – e cortar os laços com a política partidária para ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Sua saída da cena política estadual e nacional produziu o desdobramento comum nesses casos, a luta pelo poder no Maranhão, abrindo caminho para regra universal do “quem renuncia perde tudo”. Ou seja, sua ausência abriu um vácuo gigantesco na política maranhense, para cujo preenchimento o único nome credenciado nesse momento é o governador Carlos Brandão (PSB), que está respaldado num mandato legítimo e tem um projeto de poder nítido e politicamente viável.
Esse quadro tem causado muitas discussões, insatisfações e inquietações, em meio à acusação camuflada segundo a qual ao colocar em marcha o seu projeto de poder montado na legitimidade do mandato, Carlos Brandão estaria “traindo” o projeto político do ex-governador e agora ministro do Supremo, o que não faz o menor sentido. Sem agredir a imagem nem o legado do ex-mandatário, o governador assumiu o comando da aliança partidária construída pelo seu antecessor – de quem foi vice leal – e mantida por ele após a renúncia, voluntária e sem pressão, do então senador Flávio Dino. E mais, Carlos Brandão se movimenta com legitimidade para avaliar o cenário e escolher o melhor rumo para levar à frente o seu projeto de poder.
O governador está agindo como qualquer mandatário que, chegando ao topo nas circunstâncias em que chegou, coloca em marcha o seu próprio projeto de poder. Emplacou nomes da sua confiança nos cargos-chave da máquina pública, turbinou a posição política de aliados fiéis – como Marcus Brandão no comando do MDB, por exemplo -, e assumiu ele próprio o controle do PSB no estado, o que lhe dá uma margem de ação não vista na política estadual desde que Roseana Sarney (MDB) exerceu seus dois primeiros mandatos. Comanda com eficiência a poderosa e imbatível máquina administrativa do Estado e lidera uma aliança formada por 11 partidos. Mais do que isso, tem o apoio integral de pelo menos 37 dos 42 deputados estaduais e conta com a parceria integral e declarada da presidente da Assembleia Legislativa, deputada Iracema Vale (PSB), um nome que cresce vigorosamente no cenário estadual. E não há registro de rusgas com o vice-governador Felipe Camarão (PT), que tem o apoio do comando nacional do partido.
No momento, o governador se prepara para o seu primeiro grande desafio, as eleições municipais, que são fundamentais para definir o seu peso político para o embate decisivo de 2026. Se sair das urnas de outubro fortalecido com a eleição de um bom contingente de prefeitos e vereadores, dobrará o seu cacife para 2026, com poder de fogo para dar as cartas na sua sucessão. Se o resultado das eleições municipais não lhe for satisfatório, o jogo sucessório será mais complexo, pois exigirá a construção de uma equação pela via dos acordos. Mas também poderá o governador, em último caso, colocar em ação o seu “Plano C”, que é abrir mão da senatória, permanecer no cargo e mover os cordéis políticos para eleger o seu sucessor. O que é perfeitamente viável no atual ambiente político do Maranhão.
Por enquanto, a maioria dos chefes políticos ainda acredita, por força do poder de fogo de Brasília, que o vice-governador Felipe Camarão (PT) será mantido como primeiro da linha sucessória, para viabilizar a equação segundo a qual o governador Carlos Brandão renunciará em abril de 2026 para se candidatar a senador, abrindo caminho para que o seu vice assuma e concorra à reeleição, como foi o seu caso em 2022. Esse é o caminho natural num ambiente em que Carlos Brandão dê as cartas e tenha a palavra final sobre o futuro político do grupo. E ninguém duvida de que nesse momento a roda está girando na direção que o governador orienta.
Em resumo: à sua maneira, no seu ritmo e sem cometer erros na viabilização da sua pauta política, Carlos Brandão vai ocupando o grande vazio deixado na política do Maranhão quando o senador Flávio Dino decidiu aceitar o “convite irrecusável” do presidente Lula da Silva.
PONTO & CONTRAPONTO
Divisão do grupo Coutinho agita a corrida sucessória em Caxias
Caxias terá uma das eleições na corrida sucessória nas prefeituras maranhenses. Ali aconteceu o improvável para muitos, mas possível para algum: o poderoso grupo Coutinho, legado do ex-deputado Humberto Coutinho, uma das forças mais importantes do município, rachou.
Primeiro foi a adesão da banda liderada pelo prefeito de Matões, Ferdinando Coutinho (PDT), que tem o braço avançado da deputada Claudia Coutinho (PDT), que indicou a ex-vereadora Thaís Coutinho como candidata a vice na chapa oposicionista liderada pelo ex-vice-prefeito e atual suplente de deputado federal Paulo Marinho Jr. (PL). Essa aliança causou forte impacto na política caxiense, à medida que tirou do páreo pela Prefeitura o vereador Daniel Barros, conhecido como Fiscal do Povo, que retirou sua candidatura em favor do acordo.
E como em Caxias não existe neófito em política, muito ao contrário, a resposta não tardou. O prefeito Fábio Gentil (Republicanos) se movimentou rapidamente e surpreendeu o outro lado ainda no rescaldo da comemoração lançando ninguém menos que a ex-deputada Cleide Coutinho (PSB), líder maior do grupo Coutinho, como candidata a vice na chapa a ser liderada por Gentil Neto (PSB). Foi no clima “bateu, levou”.
Com a reação articulada pelo prefeito Fábio Gentil, o ambiente da disputa em Caxias ficou novamente estabilizado no sentido puramente político, porque no plano eleitoral, as próximas pesquisas dirão quem ganhou e quem perdeu nos dois movimentos.
MDB faz acordo interno e vai dividido para a disputa em São Luís
O MDB viverá uma situação curiosa na corrida para a Prefeitura de São Luís. Com a decisão do comando municipal do partido, que tem à frente o deputado federal emedebista Cleber Verde, de apoiar a candidatura do prefeito Eduardo Braide (PSD), a agremiação se dividiu nesse item.
Depois de muita discussão interna, ficou acertado que, sob o comando do deputado Cleber Verde, o braço municipal do partido apoiará oficialmente o prefeito Eduardo Braide. Mas o diretório estadual, comandado pelo presidente regional Marcus Brandão, incluindo a deputada federal Roseana Duarte Jr. (PSB).
O acordo interno está amarrado. Essa conclusão foi montada depois de muita conversa interna, algumas delas ácidas, mas sem qualquer ambiente de crise. Com a maioria na Comissão Provisória, Cléber Verde poderia levar o partido de qualquer maneira para a seara do prefeito Eduardo Braide. O Diretório estadual, por sua vez, poderia intervir na Comissão Provisória e mudar o rumo da conversa. Mas como o MDB é um partido de profissionais da política, a opção foi concordar com o apoio do braço municipal da legenda ao prefeito e com o aval do comando estadual ao deputado socialista.
São Luís, 30 de Junho de 2024.