A vitória de Luís Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência da República sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) vai tirar o Maranhão do isolamento em relação ao Governo Federal. Ganham projeção nesse novo cenário, em escala maior, o governador reeleito Carlos Brandão (PSB) e o senador eleito Flávio Dino (PSB), que entraram de cabeça na corrida ao voto e trabalharam sem descanso para fortalecer a candidatura do ex-presidente dentro e fora do Maranhão, comandando, de maneira determinada, a campanha do petista no estado. O trabalho árduo e desafiador dos dois foi decisivo para que Lula da Silva tivesse saltasse de 68,8% dos votos (2.603.454) obtidos no 1º turno para 71,1% (2.663.849) no 2º turno, um resultado muito próximo da diferença dele sobre Jair Bolsonaro nos votos totais do país. Além do prestígio eleitoral do ex-presidente no Maranhão, Carlos Brandão e Flávio Dino abraçaram a candidatura do petista como uma questão de “vida ou morte”, exatamente por saberem que a reeleição do presidente seria um golpe muito duro no Maranhão. Com esse resultado, o governador Carlos Brandão terá um parceiro no comando da República e o senador Flávio Dino um motivo especial para trabalhar duro pela estabilidade política e institucional.
Em qualquer situação, Lula da Silva teria votação majoritária no Maranhão, isso ninguém discute. Mas o tamanho dessa vitória certamente seria menor não fosse o trabalho diuturno, insistente e incansável dos dois líderes da aliança governista. Carlos Brandão, ainda administrando a recuperação da sua saúde, não faltou a um só compromisso que assumira durante a campanha, sem deixar o comando do Governo em segundo plano. Flávio Dino foi para as ruas, comandando caminhadas, carreatas e concentrações em comícios nas mais diversas regiões do estado. Vitoriosos nas urnas na primeira volta, e certos de que o candidato petista teria a maioria dos votos do estado, poderiam deixar o trem seguir sem condutor. Mas fizeram exatamente o contrário: compraram a briga, arregaçaram as mangas e foram à luta. O resultado de ontem mostrou que o envolvimento direto dos dois líderes na campanha foi decisivo para a ampliação da vantagem.
Num plano mais aberto, Flávio Dino terá um papel político abrangente no Governo do presidente Lula da Silva. Sua experiência de ex-juiz federal, ex-deputado federal e ex-governador por dois mandatos, somada à estatura política que ele conseguiu além das fronteiras do Maranhão, o credenciam para exercer um papel de maior relevância. Há quem o veja como futuro ministro da Justiça, cargo que se encaixa no seu perfil e lhe dá espaço para atuar como articulador. Mas há também quem enxergue nele um senador com credenciais para atuar como um articulador da base governista no Congresso Nacional, onde o presidente Lula da Silva vai precisar de suporte competente e confiável para conviver com uma oposição bolsonarista que, pelo menos no início, tentará de tudo para desestabilizar o Governo e com isso alimentar o monumental e perigoso racha nacional.
O presidente eleito tem dado repetidas demonstrações de que não faltará para com o Maranhão. Nas diversas conversas que teve com o governador Carlos Brandão, Lula da Silva repetiu a recomendação para que o governador lhe apresente cinco projetos importantes para o estado. Carlos Brandão disse que atenderá a recomendação, mas deixou claro que além disso vai trabalhar para uma sintonia fina com Brasília, que abra as portas ministeriais. E nesse sentido, o vice-governador Felipe Camarão (PT) terá papel importante na interlocução do Governo do Maranhão com o Governo de Brasília. Nesse contexto, viabilizar cinco projetos é importante, mas é tão ou mais importante será estabelecer uma convivência fácil e produtiva.
O Brasil ganhou com a vitória de Lula da Silva, obtendo a garantia de que permanecerá na seara da democracia plena, e nesse contexto, o Maranhão está na linha de frente dos estados cujos governos e as lideranças mais influentes estarão alinhadas com o futuro Governo que será instalado na República no dia 1º de janeiro do ano que vem, daqui a dois meses, portanto.
PONTO & CONTRAPONTO
Eliziane ganha espaço no entorno lulista e é chamada por Lula de “minha querida senadora”
Sem o tamanho político do governador Carlos Brandão nem do senador eleito Flávio Dino, mas na condição de um quadro hoje importante do Congresso Nacional, a senadora Eliziane Gama (Cidadania), ganhou espaço no entorno do presidente eleito Lula da Silva, que ontem a chamou de “Eliziane, minha querida senadora do Maranhão” na abertura do seu primeiro discurso.
Eliziane Gama não chegou ao entorno do presidente eleito por acaso nem forçando barra. Além de ser oposição dura ao Governo de Jair Bolsonaro, a senadora maranhense assumiu o desafio de se colocar contra a orientação expressa dos chefes da Assembleia de Deus no Maranhão, que exigiram dela apoio ao presidente Jair Bolsonaro. A atitude da senadora rompeu a crosta que os chefes assembleianos e estimulou muitos evangélicos a apoiarem o petista.
A atenção carinhosa do presidente eleito foi um sinal claro de que o presidente Lula da Silva conta com a senadora Eliziane Gama na base do seu Governo.
Weverton volta à cena declarando voto em Lula
Submergido desde a dramática noite de 2 de Outubro, quando as urnas anunciaram que ele havia ficado em terceiro lugar na corrida ao Governo do Estado, atrás do ex-prefeito de São Pedro dos Crentes Lahesio Bonfim (PSC), o senador Weverton Rocha (PDT) reapareceu ontem, para votar e, com o “L” feito com os dedos polegar e indicador da mão esquerda, revelando seu voto no candidato do PT, Lula da Silva. Nas suas redes sociais, ele postou a seguinte declaração: “Hoje é dia de exercermos a nossa cidadania de acordo com a nossa consciência e com muita paz”.
O voto no líder petista foi o primeiro sintoma de que o senador, que preside o PDT no Maranhão, refletiu profundamente durante o seu recolhimento, e está fazendo a caminhada de volta ao seu eixo político e ideológico, afastando-se do projeto de poder impulsivo que contaminou e fragilizou sua candidatura, minou a sua base política e o jogou nos braços do bolsonarismo, a ponto de ter como vice o deputado estadual Hélio Soares, presidente formal do PL maranhense e partidário entusiasmado da candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição.
A sucessão de erros impôs uma dura e inesperada derrota ao senador, que no seu recolhimento temporário deve ter feito um mea culpa e iniciado o caminho de volta ao eixo central da sua carreira.
São Luís, 31 de Outubro de 2022.