A senadora Eliziane Gama (Cidadania) foi transformada em alvo de duras e agressivas críticas na comunidade ligada à Assembleia de Deus, a mais tradicional denominação evangélica do Maranhão, por haver declarado apoio à candidatura do ex-presidente Lula da Silva (PT), no 2º turno da eleição presidencial. Os ataques, que já vinham sendo ensaiados face ao posicionamento da senadora no 1º turno, foram intensificados na terça-feira (18), quando a parlamentar participou de um encontro do candidato do PT com líderes evangélicos – a maioria assembleianos – aos quais entregou a Carta aos Evangélicos. No documento o ex-presidente assume uma série de compromissos, entre eles a manutenção integral da Lei 10.825, por ele sancionada em 2003, que garante a plena liberdade religiosa, prevista na Constituição.
Ex-militante do PT, pelo qual tentou se eleger deputada estadual, no início do século, a senadora Eliziane Gama sempre teve posição firme em relação aos excessos de cobrança da Assembleia de Deus, por conta das suas posições. Ao longo da sua carreira, que começou na Assembleia Legislativa, a parlamentar sempre primou pela coerência em relação à mistura de política com religião. Ela mantém forte envolvimento com a Assembleia de Deus, à qual pertence, numa relação que inclui toda a sua família. Com dois mandatos de deputada estadual, um mandato de deputada federal, e agora como senadora da República, Eliziane Gama está legitimada para intermediar uma relação normal entre evangélicos e o resto do mundo.
Quando declarou seu apoio ao ex-presidente Lula da Silva, a senadora Eliziane Gama deu uma indiscutível demonstração de coerência. A começar pelo fato de que no 1º turno ela seguiu rigorosamente a orientação da federação Cidadania/PSDB, que recomendou voto no ex-presidente. A posição que está mantendo agora, acompanhando um expressivo grupo de pastores de várias denominações, nada mais é do que a que a moveu no 1º turno. Esse grupo, que se reuniu com Lula da Silva, não aceita o posicionamento das igrejas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, por entender que ele não traduz a essência das religiões pentecostais.
Não faz sentido os líderes da Assembleia de Deus no Maranhão, que integram a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e a Ceadema, estimularem ataques à senadora. Isso porque absurdo seria se ela se alinhasse ao presidente da República, ao qual faz oposição efetiva e correta, sem ultrapassar os limites da civilidade. Essa postura da parlamentar maranhense foi fielmente traduzida durante a CPI da Covid, quando Eliziane Gama, representando a Bancada Feminina no Senado, se revelou uma grata surpresa para os que não conheciam sua ação parlamentar, se posicionou de maneira implacável em relação aos fortes indícios de corrupção na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde e, mais recentemente, o escândalo dos pastores que assediavam prefeitos no Ministério da Educação.
Se depois de tudo o que fez nos últimos três anos e meio como oposição ao Governo Bolsonaro, a senadora Eliziane Gama se posicionasse agora a favor da candidatura do presidente à reeleição, estaria ela protagonizando um inexplicável gesto de contradição política. Sua coerência, nesse caso, deveria ser motivo de apoio por parte da cúpula assembleiana, e não de crítica, como se a Assembleia de Deus fosse um partido político, manipulado por pastores, que parecem mais preocupados em reeleger o presidente Jair Bolsonaro do que com a saúde moral e ética dos seus liderados.
Mas, mesmo sob ataques injustos por parte de líderes assembleianos que entregaram sua alma a Jair Bolsonaro, a senadora está se mantendo de pé, com altivez. Tanto que ela recebeu ontem uma declaração de apoio de uma líder política religiosa de grande importância, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Cidadania), que vê na senadora maranhense uma fortaleza de coerência.
PONTO & CONTRAPONTO
Márcio Jerry avisa que o PCdoB está com Othelino Neto na disputa pelo comando da Assembleia Legislativa
Se alguém duvidava do poder de fogo do deputado estadual reeleito Othelino Neto (PCdoB) para disputar novo mandato de presidente da Assembleia Legislativa, a fatia de dúvida que restava foi pelos ares, ontem, com a declaração de apoio do presidente regional do seu partido, deputado federal reeleito Márcio Jerry (PCdoB). A manifestação do deputado Márcio Jerry é reveladora de que, além do dele próprio, o presidente Othelino Neto pode contar com os outros três votos do PCdoB (Rodrigo Lago, Ricardo Rios e Ana do Gás), aos quais se somarão os 10 votos do PSB e o voto já declarado do deputado reeleito Rildo Amaral (PP) e do deputado reeleito Roberto Costa (MDB), garantindo-lhe entrar na disputa com um cacife de 16 dos 22 votos necessários para a eleição.
Duarte Jr. agradece eleição para deputado federal, destacando o papel do eleitorado de São Luís
O deputado estadual Duarte Jr. (PSB) discursou ontem na Assembleia legislativa, para agradecer ao eleitorado maranhense a sua eleição para a Câmara Federal. Ele festejou também a reeleição do governador Carlos Brandão (PSB) e a eleição do ex-governador Flávio Dino (PSB) para o Senado. Quando falou da sua própria eleição, ele fez um agradecimento especial ao eleitorado de São Luís, que lhe deu mais da metade dos mais de 100 mil votos que recebeu. O agradecimento especial a São Luís teve um tom especial. Com esse afago, o parlamentar está preparando base para consolidar seu projeto de candidatura para disputar a Prefeitura de São Luís, colocando-se na condição de principal adversário do prefeito Eduardo Braide (sem partido), que já sinalizou disposição para concorrer à reeleição em 2024. No meio político e fora dele, a expectativa dominante é a de um embate duro e bem travado entre o prefeito Eduardo Braide, que deve chegar em 2024 no auge da sua gestão, e o deputado federal Duarte Jr., que pode estar com prestígio em alta por seu desempenho na Câmara Federal.
São Luís, 21 de Outubro de 2022.