“Indignado. Essa é a palavra. Eu estou indignado com essas omissões, essa inércia, essas frases bárbaras, essa indiferença. Eu estou indignado, acima de tudo como brasileiro, como cidadão do País. Eu estou indignado como pai, como filho que tem pai idoso e mãe idosa. Estou indignado porque eu estou há 45 dias imerso nisto, e o presidente da República fazendo piadinha na porta do Palácio. Isso é inaceitável”. As declarações, feitas em tom forte que juntou desabafo e denúncia, foram dadas ontem pelo governador Flávio Dino (PCdoB) numa entrevista ao jornalista Carlos Madeiro, do portal UOL, pouco depois de o presidente haver culpado os governadores pelo avanço do coronavírus no País.
Na mesma entrevista, Flávio Dino demonstrou senso de responsabilidade política posicionando-se contra a discussão de qualquer ação para tirar Jair Bolsonaro da presidência da República neste momento. “Não é hora de discutir a saída do presidente, mas de cobrar dele ações imediatas para evitar o colapso do sistema de saúde”, declarou o governador, acrescentando: “A curto prazo, não. Imagino até que ele deve continuar neste momento. Nós temos uma questão dramática sobre a mesa das decisões do país que é o coronavírus, seus aspectos econômicos, sanitários e sociais. Não imagino que seja o momento que haveria a troca. Essa é uma questão futura”. Para ele, “o importante é que o presidente entenda, já hoje, como maior autoridade do País, que ele tem de fazer um pronunciamento à Nação apelando para as pessoas cumprirem as medidas preventivas. Essa é a questão mais importante hoje”.
– Estamos na beira do precipício, na beira do colapso absoluto. É preciso evitar, e Bolsonaro é o principal responsável para evitar essa situação – declarou, enfático, Flávio Dino. E explicou: “É muito difícil para um governador sozinho fazer com que cumpram as medidas, sendo que o presidente diz o contrário”.
O governador do Maranhão externou indignação também com a declaração do presidente da República, dada ontem, culpando os mandatários estaduais pela propagação do coronavírus no País. “Essa declaração desleal e irresponsável que proferiu há pouco, culpando governadores, não autoriza otimismo. Mas espero que a pressão social, e também das outras instituições, o levem para que ele faça alguma coisa”, reagiu.
– Eu estou vendo como está a situação do País todo. Eu estou vendo por dentro, do pior modo. Mas todo mundo está vendo pela televisão e pela internet, menos Jair Bolsonaro. É uma situação realmente inacreditável. E volto a dizer que eu, embora não tenha indicações objetivas, tenho de continuar lutando para que ele mude de atitude. Isso porque são coisas que dependem dele, e só dele. Como essas de arrumar equipamentos fora do Brasil, mobilizar profissionais de saúde. A Itália não foi buscar os médicos cubanos? A poderosa Itália foi lá. Nós podemos resolver isto? Não. É ele quem tem de resolver. A fila do banco dele, a fila da Caixa, que é banco federal, é ele quem tem de resolver. São situações que dependem dele. Parar de falar besteira na porta do Palácio depende dele também. É uma situação muito dura, muito difícil. Essa indignação deriva disto. Nós estamos há 45 dias dizendo que a situação é grave no país inteiro – declarou o governador do Maranhão em tom de desabafo.
Em tom mais elevado e frases mais duras, Flávio Dino mantém o discurso que faz desde que a pandemia se tornou a preocupação central do seu Governo, em meados de março, quando o presidente Jair Bolsonaro a definia como uma “gripezinha” e classificava de “histeria” os alertas da imprensa mundial e pregava o “liberou geral” contra o apelo dos governadores em favor do isolamento social. Na entrevista, o governador do Maranhão deu poucas declarações, mas elas foram suficientes para demonstrar que sabe separar a relação institucional – por mais difícil e tumultuada que ela seja num momento como esse – da ação política, que logo terá seu momento adequado.
PONTO & CONTRAPONTO
Diante do desrespeito ao isolamento social, Rua Grande será bloqueada a partir de hoje
A Rua Grande será bloqueada a partir de hoje ao acesso de transeuntes e vendedores ambulantes. A decisão foi anunciada ontem pelo governador Flávio Dino diante do grande fluxo de pessoas que estão circulando pela via em total desrespeito ao isolamento social decretado pelo Governo do Estado com meio de combater a propagação do coronavírus no Maranhão. Os motivos do governador são fundados no fato de que São Luís está entre as capitais onde o vírus vem se propagando com maior velocidade, já ameaçando colapsar o sistema de saúde e elevando rapidamente o número de óbitos numa média maior que a do País.
As imagens feitas ontem na Rua Grande correram o mundo, causando perplexidade por se tratar da principal artéria da capital do Maranhão, que deveria estar rigorosamente vazia, já que agora são raros os prédios residenciais na área. Ali, ambulantes, que em sua maioria estão recebendo o auxílio emergencial do Governo Federal e ajuda do Governo do Estado e da Prefeitura de São Luís – estão desrespeitando a suspensão temporária do comércio de produtos não essenciais. Por mais que sejam cidadãos plenos e se encontrem numa situação de fragilidade, sua atitude de invadir a Rua Grande é um ato de desobediência civil que não tem justificativa. O mesmo acontece com as pessoas que, por se julgarem imunes ao coronavírus, parecem se julgar também acima das leis, à medida que, como os ambulantes, ignoram ostensivamente o decreto governamental que instituiu o isolamento social temporário.
Assim, além de certamente contribuir na luta contra a pandemia, o bloqueio servirá também como medida educativa para uma fatia da população para a qual a ficha parece não ter ainda caído.
João Alberto prevê que eleições municipais serão adiadas para dezembro
Isolado em casa há 40 dias, período em que suspendeu suas atividades de presidente do MDB maranhense e não colocou o pé fora dos muros da sua residência, o experiente ex-senador João Alberto, que antes exibia convicção de que as eleições municipais seriam adiadas para o ano que vem, começa a acreditar que prefeitos e vereadores serão escolhidos ainda neste ano. Em contato líderes nacionais do MDB, a começar pelo presidente, deputado federal Baleia Rossi (SP), e com amigos senadores, com os quais conversa com alguma frequência, para se atualizar sobre o cenário político nacional, João Alberto afirma, convicto, que a corrida às urnas não acontecerá no início de Outubro, como prevê o calendário eleitoral fixado pelo TSE, mas provavelmente no início de dezembro. Isso manterá os inalterados os atuais mandatos. Segundo o ex-senador, suas fontes lhe deram conta de que um grande acordo já estaria sendo alinhavado entre a Justiça Eleitoral com o Congresso Nacional. O está fora de questão é o adiamento para o ano que vem.
São Luís, 30 de Abril de 2020.