“Se eu for candidato, serei candidato para vencer. Se querem me derrotar, que venham para as ruas”. Desafio feito pelo o ex-presidente Lula da Silva (PT). “Eleição sem Lula não será eleição, será golpe”. Palavras do governador Flávio Dino (PCdoB).
As duas declarações foram feitas ontem à noite, na Praça Pedro II, pelos dois líderes, no ato de encerramento da peregrinação feita pelo primeiro na Região Nordeste em busca da reafirmação da sua estatura política e da mobilização do seu partido. Diante de cerca de quatro mil pessoas, a maioria militantes do PT, membros de centrais sindicais e dos mais diversos movimentos sociais do campo e da cidade, o ex-presidente esbanjou disposição política e confirmou o seu poder de sedução. Foi saudado por líderes de organizações sociais, deputados estaduais, deputados federais e senadores, pelo governador do Piauí, o petista Wellington Dias, e foi elevado à condição de maior líder político do Brasil pelo anfitrião, o governador Flávio Dino, que classificou o ato como “o mais bonito da caravana de Lula”.
Mesmo com a voz limitada pela rouquidão, Lula encantou a massa que o aguardou em festa. Fez um discurso ao mesmo tempo emocionado e duro, chamando atenção para as realizações que contabilizou nos seus oito anos de presidência, bateu forte nos seus adversários, reclamou que está sendo vítima de uma perseguição sem precedentes na história política do País, invocou as conquistas da sua gestão nos campos econômico e social, destacou um vasto elenco de conquistas, enfatizou o combate à pobreza que comandou, atribuiu-se o mérito de haver transformado o País e apontou o governador Flávio Dino como um dos mais importantes líderes do Brasil na atualidade. Ao mesmo tempo, avaliou que o atual Governo está tentando controlar a crise com medidas que penalizam os mais pobres, e deixou no ar que se voltar a despachar no Palácio do Planalto vai dar uma guinada na orientação que esta sendo em curso no País.
– Estou cansado. Mas não é o cansaço da covardia, é o cansaço da alegria e da vitória – declarou, mas cuidou de esclarecer que o cansaço lhe dá forçar para continuar sua peregrinação para mostrar aos brasileiros que está sendo vítima de uma trama para tirá-lo da vida pública. “Se eles querem prender corrupto, eles sabem quem são. O Geddel está aí mesmo”, provocou, referindo-se ao caso da apreensão de malas e caixas num apartamento em Salvador contendo milhões de reais, que seria dinheiro de corrupção pertencente ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB). Mas avaliou que isso não acontece porque “juiz e promotor da Lava Jato são reféns da Rede Globo”. Mas disse acreditar que essa realidade está mudando, porque o povo brasileiro, principalmente os mais pobres, já sabe o que está acontecendo e vai reagir nas urnas.
A todo momento interrompido por aplausos da militância petista, Lula disse não ter dúvida de que a perseguição que enfrenta é consequência do fato de ter ele enfrentado as eleitores para combater a pobreza e diminuir a distância entre ricos e pobres, o que foi alcançado por meio de programas sociais como o Bolsa-Família, carro-chefe das ações para acabar as desigualdades da pirâmide social brasileira. Ele reafirmou que se o PT voltar ao poder os programas sociais, hoje sofrendo cortes de recursos, voltarão a todo vapor. E enfatizou que “querem transformar o PT numa organização criminosa, mas o nosso partido é limpo e vai continuar assim”.
O ex-presidente da República encerrou sua maratona pelo Nordeste em festivo clima de pré-campanha e saudado euforicamente pela militância petista. E deixou no ar a impressão de que tem plena consciência do seu poder de fogo político e eleitoral e de que é favorito na corrida presidencial. E foi enfático quando disse que, “se deixarem”, irá para a guerra eleitoral de 2018 ao lado do governador Flávio Dino.
PONTO & CONTRAPONTO
Em fala entusiasmada, Flávio Dino define Lula como “o maior líder politico do Brasil”
Empenhado em dar a Lula da Silva uma recepção em grande estilo em termos políticos, o governador Flávio Dino fez um discurso marcadamente ideológico na saudação ao ex-presidente, acentuando a inclinação do seu Governo na trilha da esquerda. O governador saudou o ex-presidente como “o maior líder do Brasil”, que infelizmente vem sofrendo as consequências de uma brutal perseguição política. Disse também, que o Maranhão tem muito a agradecer ao ex-presidente, destacando os programas sociais que mantêm e dá segurança a milhares de famílias em todo o estado, que espera reforçar e ampliar com a volta dele ao comando do País. E garantiu que a maioria dos maranhenses se mobilizará para respaldar politicamente a caminhada do ex-presidente de volta ao Palácio do Planalto. Para o governador, mais do que qualquer outro político, Lula é merece dor do apoio dos maranhenses: “Toda vez que que o senhor precisar, presidente, pode contar com o povo do Maranhão”. Entusiasmado com a beleza de São Luís, e com a lua cheia, Flávio Dino fez um discurso forte exaltando a coincidência de aquele ato público “histórico” ser realizado às vésperas de a Capital completar 405 anos. “Para nós é uma honra recebê-lo aqui neste momento”, disse o governador, acrescentando: “Este é o ato mais bonito de toda a caravana de Lula”.
Áudios causam revolta pelo tom de deboche com que empresários armam delação
“A Odebrecht já moeu o Legislativo, agora eu vou moer o Executivo e você vai moer o Judiciário”. A frase, dita em tom de deboche, mas com peso de sentença, foi pronunciada por Joesley Batista, dono da JBS, numa conversa com seu empregado e diretor do Grupo Ricardo Saub, e encerra o segundo áudio liberado ontem pelo Supremo Tribunal Federal após a explosiva entrevista concedida na noite de segunda-0feira pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, para anunciar o que poderá ser a maior e mais devastadora reviravolta já sofrida pela Operação Lava Jato. Em quase uma hora de conversa, Joesley Batista e Ricardo Saub parecem tramar a delação, como se estivessem seguindo um roteiro traçado por assessores. São conversas marcadas pelo deboche e pela certeza de que fazendo a delação seguiriam em frente sem ser importunados, como de farto aconteceu. Os diálogos sugerem que eles já tinham garantido prêmio de não irem para a cadeia e poderiam continuar usufruindo da fortuna que acumularam erguendo empresas com dinheiro fácil do BNDES. Ouvir esses primeiros áudios – muitos outros devem ser liberados nos próximos dias – nauseia qualquer cidadão, porque eles são o retrato da sujeira que muitas vezes move as relações do poder econômico com as instituições que deveriam controlá-lo e mantê-lo nos eixos.
São Luís, 06 de Setembro de 2017.