Os bastidores do poder e as centrais de especulação encontram-se inflamados desde que o governador Carlos Brandão (PSB) trocou o comando da Secretaria de Estado de Educação, exonerando o vice-governador Felipe Camarão (PT) e nomeando para o posto Jandira Dias. Foi uma mudança conversada, os vai-não-vai e os nhenhenhéns que a a antecederam, em especial o episódio em que o vice-governador assumiu e desistiu de coordenar a campanha do deputado federal Duarte Jr. (PSB) à Prefeitura de São Luís, sinalizaram a existência de uma crise na relação do governador Carlos Brandão com o agora ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino, cujo grupo estaria sendo afetado por decisões do Governo. Para os que veem as coisas por esse ângulo, a mudança na Seduc seria um “ato de traição” do governador ao ministro, pois quebraria suposto acordo pelo qual os partidários de Flávio Dino teriam o controle de várias secretarias. Mas no meio político tem muita gente pensando diferente.
Para começar, a troca de comando na Seduc foi um ato legal legitimado pelo fato de o governador ser detentor da prerrogativa (diga-se, do poder) institucional de fazer as mudanças que bem entender na sua equipe de primeiro escalão. Depois, o vice-governador Felipe Camarão esteve no cargo por um tempo equivalente a dois governos, o que não é comum. O próprio Flávio Dino, quando governador, fez inúmeras trocas na sua equipe ao longo de sete anos e três meses, e nenhuma delas causou tamanha onda de especulação. No que diz respeito ao tal acordo, vale lembrar que em política – como em qualquer outra relação -, qualquer acordo pode ser revisto, repensado ou até mesmo cancelado, dependendo da vontade uma das partes ou das duas. E nenhum governador é ingênuo o suficiente para abrir mão de poder dentro do próprio espaço que comanda.
Na onda especulativa, chegou-se a divulgar e existência de um clima de rompimento do governador Carlos Brandão com o ministro Flávio Dino, que estaria atuando em defesa do grupo que liderou e que ficou sem comando desde o momento em que ele renunciou ao mandato de senador para se tornar ministro da Suprema Corte, o que significou, segundo o próprio ministro, afastar-se definitivamente da seara política, como é dever de um magistrado. Tem havido altos e baixos na relação do governador Carlos Brandão com o Grupo Dinista? Tem. O Grupo Dinista tentou “peitar” o governador? Tentou. O governador e seus aliados reagiram? Reagiram. Mas nenhum dos embates pontuais causou rompimento aberto e ostensivo.
Nenhum observador da cena política maranhense precisa de bola de cristal para perceber que, assim como o governador Carlos Brandão, nenhum outro chefe de Estado abriria mão de poder. Isso está na lógica fria do cálculo político. Ele não foge à regra: tem um grupo, tem aliados e tem parceiros. A lógica do poder manda que ele se esforce para agregar e manter o lastro político e partidário mais amplo possível. E, de certa maneira, é o que está acontecendo no tabuleiro político do Maranhão.
Na posição que ocupa nesse cenário, o vice-governador Felipe Camarão dá a impressão de que está fazendo a sua parte, ou seja, assimilando bem os movimentos do governador Carlos Brandão e tratando de trabalhar duro para ampliar a sua base política. Isso porque, até aqui, o governador Carlos Brandão não se declarou rompido com ninguém. Só tem deixado claro que o Governo é dele e que não aceita interferências. E até onde é possível observar, mantém uma relação normal com o vice-governador, a quem entrega o bastão sempre que se afasta, numa demonstração de que, pode até haver ruídos na relação, mas esses não comprometeram a confiança que assegura o convívio institucional.
Nhenhenhém à parte, o vice-governador Felipe Camarão, estimulado pelo fato de que poderá ser governador e candidato a governador, numa aliança em que Carlos Brandão seja candidato a senador, aproveita agora o seu tempo mergulhando nas articulações para turbinar candidaturas do PT, como a do petista Chiquinho da FC em Codó, e de aliados do seu partido e do grupo partidário governista, como a de Dinair Veloso (PDT) em Timon, e a de Duarte Jr. em São Luís. Afinal, é o fruto desse intenso trabalho político o que de fato interessa.
Em conversas fechadas, o governador Carlos Brandão tem dito não é hora de brigar. Mas, perguntado se essa hora vai chegar, ele responde: “Vamos aguardar os acontecimentos”.
PONTO & CONTRAPONTO
Nota sobre suposto apoio de Lula para o Senado deixa perguntas sem respostas
Circulou em alguns nichos a informação segundo a qual teria havido em Brasília, no comando do PT e em salas do Palácio do Planalto, conversas que teriam resultado na seguinte decisão: a grande aliança PT/PSB vai apoiar a candidaturas do governador Carlos Brandão (PSB) ao Senado e a do senador Weverton Rocha à reeleição. De acordo com a nota, o Palácio do Planalto teria batido martelo pelo senador pedetista.
A escolha do comando político do Governo Central pela candidatura do governador Carlos Brandão ao Senado em 2026 já prego batido com ponta virada desde que saiu o resultado das eleições de 2022, com a eleição dele em turno único. E tudo indica que, apesar dos tremores na aliança, a opção pela candidatura do governador permanece firme.
Já em relação à suposta escolha pela candidatura do senador Weverton Rocha à reeleição alguma coisa não está afinada. Não se diga que o senador pedetista não tenha força no Governo Federal. Tem sim. Mas acontece que a senadora Eliziane Gama (PSD), que tem prestígio junto a Lula da Silva e a seu Governo, é candidata à reeleição, e o deputado federal (PP) e atual ministro do Esporte André Fufuca vem trabalhando para no seu projeto de candidatura à Câmara Alta.
O presidente Lula da Silva e o PT vão virar as costas para a senadora Eliziane Gama (PSD), que foi importantíssima na campanha presidencial, comprou brigas homéricas em defesa do Governo e, até onde se sabe, é candidata à reeleição? Não apoiará a candidatura do seu ministro do Esporte, de quem fala maravilhas?
Difícil imaginar esse cenário.
Braide não aceita que Clio vermelho com carga milionária caia na sua mesa
O prefeito Eduardo Braide tomou uma decisão: não vai deixar que os R$ 1,9 milhão encontrados no porta-malas do Clio Vermelho caia sobre o seu birô de trabalho no Palácio de la Ravardière. Aos poucos interlocutores com quem trata do assunto, o prefeito tem reafirmando que nada tem a ver com o caso, e que não aceita ser nele envolvido.
Eduardo Braide tem dito a interlocutores que não compreende os esforços que seus adversários para vincula-lo ao dinheiro e ao automóvel apenas pelo fato de que neles estão presentes parentes seus, como o médico Antônio Braide. O prefeito considera injusto que alguns queiram envolve-lo no episódio, estando disposto a bater às portas da Justiça para rebater qualquer insinuação agressiva nesse sentido.
De acordo com uma fonte credenciada, o prefeito considera que já falou tudo o que tinha para falar sobre o assunto.
São Luís, 25 de Agosto de 2024.