Talvez a ex-governadora Roseana Sarney nem estivesse interessada em entrar de cabeça na crise que levou o PMDB, mas o fato é que ela foi à reunião do Diretório Nacional e deu o seu aval para o desembarque do Governo Dilma Rousseff. Tanto quanto a ausência dos senadores João Alberto e Edison Lobão, que decidiram manter o apoio deles ao Governo Dilma, a presença e a posição de Roseana Sarney repercutiu forte dentro e fora do partido. Expressivamente beneficiada pelo Governo Dilma no governo que realizou entre 2010 e 2014, Roseana foi muito cuidadosa nas respostas que deu a indagações que lhe foram feitas por jornalistas. Sobre o desembarque do PMDB do Governo, ele se disse de acordo, considerando que já estava na hora de um partido tomar uma decisão definitiva em relação a permanecer ou não na base do Governo. Em relação ao processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, a ex-governadora saiu cuidadosamente pela tangente, preferindo não emitir opinião ou juízo sobre o processo em curso no Congresso Nacional – agiu diferentemente de 1992, quando coordenou , como deputada federal, o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
A posição de Roseana Sarney é muito delicada nesse cenário de crise. Para começar, independente do grau de relações pessoais, ela foi sempre muito bem tratada pelos Governos do PT. Colocadas as vantagens e desvantagens geradas pelo relacionamento institucional com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a presidente Dilma Rousseff, o de vantagens certamente pesada em seu favor. Se houve momentos de insatisfação, de pleito não atendido ou de projeto não abraçado por Brasília, esses não foram suficientes para desequilibrar a relação. Não devem ser esquecidos, por outro lado, as manifestações de apoio nas duas direções, como, por exemplo, o célebre apelo dramático feito por Lula, em Timon, onde pediu “pelo amor de Deus” pela eleição de Roseana em 2006; a nomeação da então senadora Roseana Sarney para líder do Governo no Congresso Nacional e, finalmente, e também a “força” de Dilma, então candidata imbatível, e Lula por Roseana em 2010. São fatos inquestionáveis de uma boa relação política, já que Lula e Dilma pagaram o preço de virar as costas para aliados de primeira linha do PT no Maranhão, como Jackson Lago (PDT) e Flávio Dino (PCdoB).
No contrapeso dessa relação, Roseana Sarney se movimentou com o pragmatismo político que a situação exigia. Sempre teve plena consciência de que a relação do PMDB com o PT um dia chegaria ao fim, exatamente porque os dois jamais viveriam uma situação “juntos e misturados”, pois o máximo que se permitiriam era estar apenas do mesmo lado, enquanto as circunstâncias permitissem. Cedo ou tarde a biruta de vento que os orientava os colocaria em rotas diferentes. E esse momento chegou. Daí ser absolutamente natural que a ex-governadora, movida por seu aguçado extinto de sobrevivência política, tenha ficado do lado que lhe é mais seguro e conveniente, que é o seu partido. Por isso, não há qualquer incoerência na mudança de rumo, nada que possa ser objeto de censura. Esse é o mundo da política, no qual não cabe sentimentalismo, e a ex-governador nasceu e cresceu nele, experimentando suas idiossincrasias ao longo de toda a sua vida. Roseana é produto desse mundo, no qual o instinto de sobrevivência e a necessidade de poder falam muito mais alto.
A velocidade dos fatos e a possibilidade concreta de o PMDB ascender ao comando da República aguçou a personalidade política, que já vinha dando sinais de inquietação com a aposentadoria anunciada no final de 2014. Roseana sabe que o Maranhão passa por uma mudança política ampla e na qual o espaço que ela ocupa está diminuindo rapidamente. E tem plena consciência de que, mesmo que o PMDB volte ao poder na República, seus representantes no Maranhão terão de se desdobrar, a começar por ela própria, para fazer frente ao processo de mudança política que está em curso no estado sob o comando do governador Flávio Dino. E com um dado a mais: terá o PT de novo como adversário. E bem mais zangado por ter sido catapultado do poder.
PONTO & CONTRAPONTO
Max Barros deixa PMDB e tenta novo rumo no PRP
Um dos quadros mais preparados da Assembleia Legislativa, que durante vários anos foi o formulador dos programas de obras de Governos de Roseana Sarney, o deputado Max Barros deixou o PMDB e se filiou ao PRP, deixando mais fragilizado ainda a agremiação pemedebista no estado, ao reduzir sua bancada estadual para apenas três integrantes. Max Barros anunciou a mudança partidária reafirmando sua pregação a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Max Barros vinha consolidando o distanciamento do grupo liderado pela ex-governadora Roseana Sarney, dando sinais de que estava de fato procurando um novo rumo político. Antes das eleições de 2014, ele se movimentou para deixar o PMDB e ser um dos fundadores do PSD no Maranhão, que seria comandado no estado pelo então deputado Carlos Alberto Milhomem. Barros chegou a ser anunciado coo presidente do partido, mas o projeto fracassou e ele preferiu permanecer no PMDB. Engenheiro civil e técnico competente e experiente, Max Barros é um dos bons quadros surgidos nas últimas décadas no setor público do maranhão e não está na política por acaso: é neto do ex-governador Eugênio Barros e sobrinho do ex-senador Alexandre Costa, duas das mais importantes raposas políticas do Maranhão na segunda metade do século passado. Já várias vezes lembrado para ser candidato a prefeito de São Luís, de onde já foi gerente metropolitano, pode ser que se anime a entrar na briga agora. Quem sabe?
Weverton age contra manipulação na Comissão do Impeachment
O líder do PDT na Câmara Federal, deputado Weverton Rocha, protagonizou ontem o mais forte momento de tensão na reunião da Comissão Especial do Impeachment, antes da oitiva dos autores do pedido, o jurista Miguel Reale Jr., que foi ministro da Justiça no Governo Fernando Henrique Cardoso, e a advogada criminalista Janaína Paschoal, na qual os dois reafirmaram a denúncia contra a presidente Dilma Rousseff. Weverton se insurgiu contra uma orientação da direção dos trabalhos, criticando duramente o presidente da Comissão, por entender que a sua ação é facciosa e tem favorecido amplamente o esquema de pressão contra a presidente da República. O líder do PDT “peitou” alguns deputados de oposição apresentando um requerimento no qual sugere que a Comissão convoque a presidente Dilma Rousseff para fazer sua defesa na própria Comissão depois, porque até então só pessoas ligadas a grandes esquemas da oposição. A discussão se transformou em tumulto, mas logo os ânimos foram acalmados. Rocha deixou claro que se depender dele próprio, ninguém vai manipular os trabalhos da Comissão para prejudicar a presidente da República. A ação do líder do PDT pareceu uma tentativa de tumultuar o ambiente, mas foi, na verdade, uma maneira de evitar uma tentativa de manipulação dos trabalhos da Comissão pelo grupo anti-Dilma.
São Luís, 30 de Março de 2016.