João Alberto continua apoiando Dilma e não dá importância à especulação de que pode ser expulso do PMDB

 

joão açberto 20
João Alberto mantem apoio a Dilma e não sairá do PMDB

Circulou ontem a especulação de que o comando nacional do PMDB estaria examinando a possibilidade de discutir a expulsão do senador João Alberto dos quadros do partido. O motivo: a decisão do parlamentar de não comparecer à reunião do Diretório Nacional na qual foi decidido o “desembarque” do partido do Governo da presidente Dilma Rousseff, rompendo assim a aliança mantida com o PT desde 2002, e também por ser ele contrário ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Não se sabe de onde saiu a tal especulação nem quem a inspirou, mas o fato é que, segundo apurou a Coluna – que não conseguiu contato com o senador, vale in formar -, a tal inclinação não tem o menor fundamento. Presidente do Diretório do PMDB do Maranhão desde o início dos anos 90 do século passado, após a derrocada do seu construtor, deputado federal Cid Carvalho, tragado pelo escândalo dos “Anões do Orçamento” e também membro do Diretório Nacional, João Alberto é hoje um nome de expressão dentro do PMDB nos planos estadual e federal, o que inibe qualquer movimento com o objetivo de expulsá-lo do partido.

O senador João Alberto nunca o mais entusiasmado defensor da aliança do PMDB com o PT. Sempre manteve o cuidado manter o seu partido ocupando o maior espaço possível na aliança, sem, no entanto, fazer pressões para prejudicar o parceiro. É dos poucos políticos que zelam pelos compromissos assumidos, especialmente no caso das alianças políticas, cultivando a regra segundo a qual o acordo político só faz sentido quando é bom para os dois, na medida exata da contribuição de cada um. Respeitou todos os acordos políticos que firmou, e nunca fechou todas as janelas, mantendo sempre uma aberta para conversar com adversários, acreditando que eliminar todos os canais não é politicamente saudável.

Desde que a crise começou a ganhar corpo, João Alberto se posicionou dentro do partido como uma voz favorável à manutenção da aliança com o governo da presidente Dilma Rousseff. Na sua concepção, se o PMDB tivesse permanecido unido e declarado apoio incondicional à presidente, a crise não teria atingido tais proporções. Para ele, o PMDB poderia ter resolvidos suas diferenças internas dentro de casa, sem qualquer necessidade de expô-las dessa maneira. Daí porque manifestou a opinião de que a reunião do Diretório Nacional, realizada no dia 29, foi um erro, a começar pelo fato de que mostrou um partido dividido, com um grupo a favor do Governo – no qual se inclui – e outro defendendo o rompimento e declarando apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Junto com ele, presidentes de 12 diretórios estaduais, que se mantêm firmes na posição a favor da aliança, até que o assunto seja suficientemente discutido nas bases do partido.

O argumento que usa para reafirmar sua posição contrária ao impeachment tem sido um só: a presidente não cometeu nenhum crime que justifique a acusação. Daí não enxerga nenhuma base legal para o pedido de impeachment, que também identifica como uma tentativa de golpe. E por isso, aliou-se efetivamente às forças articuladas pelo Palácio do Planalto e tem sido um dos mais ativos interlocutores do núcleo duro de defesa do mandato presidencial, especialmente o ministro Ricardo Berzoini.

O senador maranhense é um dos mais operantes o cenário político de Brasília, tanto que exerce, pela quinta vez consecutiva, a presidência do Conselho de Ética do Senado, sempre indicado unanimemente pela bancada. E por duas razões muito fortes: a primeira: não tem rabo preso; e segunda: tem autoridade para conduzir sem neura ou vedetismo os problemas que ali desaguam. Na última eleição, ele não aceitou continuar presidente, mas como o cargo pé do PMDB e ninguém se habilitou – pelas razões as mais diversas -, João Alberto não teve saída. Cuida agora de vários casos cabeludos envolvendo senadores, sendo principal deles o de Delcídio do Amaral (ex-PT/MT).

Por tudo isso, é 100% garantido afirmar que o PMDB nem cogita questionar o senador João Alberto. Porque não tem nenhum interesse. E também porque não pode se dar o luxo de perder um quadro da sua envergadura. Com ou sem crise.

 

PONTO & CONTRAPONTO

Um 31 de Março em que a presidente reforçou
sua guerra contra o que chama de “golpe”
dilma e artistas
Dilma (centro) cercada de artistas que apoiam seu mandato contra impeachment 

Alguns observadores avaliavam, à noite, que o 31 de Março – lembrado historicamente como o dia em que o Brasil foi golpeado pelos militares, que apoiados pelo grande empresariado, pelos partidos de centro e de direita, pela Igreja e por uma fatia pequena de artistas e intelectuais, derrubaram o governo constitucional do presidente João Goulart (PTB), mergulhando o país numa ditadura que durou mais de 20 anos – foi diferente ontem. Agora, 52 anos depois, o Brasil é uma democracia vigorosa e vive uma crise em que a presidente da República está ameaçada de impeachment, que ela e seus aliados dizem não ter base legal, mas que a oposição e seus aliados dizem ter. E nesse contexto de tensão política, o 31 de Março de 2016 foi um dia em que a presidente Dilma respirou, e seus esforços para reconstruir uma base parlamentar e pareceram lhe dar motivos para acreditar que nem tudo está perdido. Mais de 1 milhão foram às ruas em 27 estados e em Brasília em manifestações “contra o golpe”; na reunião da Comissão Especial do Impeachment, na Câmara Federal, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, fez uma exposição técnica muito forte para demonstrar que a presidente Dilma não cometeu os crimes de que é acusada e que pedido de impeachment não tem base legal; o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-Al), voltou a dizer, em tom forte de crítica, que a reunião do PMDB foi precipitada e que a decisão de desembarcar resultou desastrosa; partidos do “centrão”, entre eles o PP, sinalizaram a que podem ocupar o lugar do PMDB no Governo, e para completar, uma presidente Dilma aparentando confiança, foi bafejada com a presença de dezenas de artistas e intelectuais que foram ao Palácio do Planalto manifestar-lhe apoio e dizer “não ao golpe”. A movimentação de ontem mexeu com a confiança da oposição, que pareceu meio desorientada e tem um fim de semana inteiro para voltar aos trilhos. Isso porque ninguém duvida de que, se não cair nova bomba nesta sexta-feira, a presidente vai aproveitar as 48 horas para reforçar seu plano de guerra.

 

Para não esquecer

Homenagem à dançarina Ana Duarte, assassinada brutalmente no dia  na BR-135, fuzilada por assaltantes quando desviava de buracos que infestam a chamada “Estrada da Morte”.

Os tambores não podem calar *

Ó velho Deus dos homens

e nem zagaia por enquanto

Só tambor ecoando a canção da força e da vida

eu quero ser tambor.

E nem rio

e nem flor

e nem mesmo poesia.

só tambor noite e dia

dia e noite tambor

até à consumação da grande festa do batuque!

Oh, velho Deus dos homens

deixa-me ser tambor

só tambor!

Só tambor ecoando a canção da força e da vida

até à consumação da grande festa do batuque!

(Trecho do poema “Quero ser tambor” do moçambicano José Craveirinhas)

Não era seu amigo, seu colega, seu vizinho, não conheço sua família e nem mesmo a conhecia pessoalmente, apenas trocávamos cumprimentos quando nos víamos.

A única coisa que nos unia era o encanto provocado pelo som dos tambores que desde criança, por influência  do meu bom e saudoso pai, aprendi a gostar e valorizar. Não sou um frequentador assíduo das festas de tambor de crioula, mas sempre que posso acompanho as apresentações e participo timidamente com as palmas da mão, principalmente na Praia Grande onde encontro amigos e amigas que compactuam  o mesmo prazer. Em quase todas às vezes, ela estava ali, naquelas ruas de pedra e casarões antigos, com seu corpo magro e aparentemente frágil, vestida com uma saia longa e florida,  deixando a plateia admirada e de certa forma hipnotizada com seu bailado suave e ligeiro  e  ao mesmo tempo contagiante, à frente dos tambores batidos por negros de mãos calejadas pela labuta diária e motivadas por generosas doses de cachaça. Um verdadeiro espetáculo da nossa cultura popular.

Naquela manhã de sábado, sábado de aleluia, dia 26 de março, acordei e liguei meu computador buscando notícias a respeito do nosso tão conturbado momento político e me deparei com a  noticia do assassinato de uma professora e bailarina. Olhei sua foto, li e reli a matéria. O choque foi inevitável, em seguida me veio a revolta, a indignação, e por fim, uma profunda tristeza. Não me contive, os olhos lacrimejaram. A imagem dela bailando  não me saiu da mente durante todo aquele dia. Depois de refeito do estranho abatimento – como disse, a gente mal se conhecia -, vieram os questionamentos: Por que alguém  tira a vida do outro por tão pouco ? Por que ela ? Por que não uma pessoa cruel? Acredito que alguém que  tem por vocação ensinar e por diversão  dançar  é  envolto  em uma aura bondosa e colorida e  deveria permanecer entre nós por muito tempo. Certamente, a partir de agora, sempre que estiver em uma roda de tambor lembrarei daquela mulher gingando e rodopiando em uma sincronia perfeita com o batuque dos tambores,  numa alegria indescritível. Sentirei sua falta.

Segundo Einstein, o mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer. Os tambores de São Luis se calaram por alguns instantes em homenagem , mas não devem se calar jamais, assim como as batidas do coração das pessoas que amam a vida.

Que o bom DEUS permita que as batidas do coração da professora e bailarina, associadas ao som dos tambores e das trombetas, ecoem no céu e cheguem até nós anunciando boas novas.

Que rufem os tambores contra a VIOLÊNCIA !

Que rufem os tambores clamando por JUSTIÇA !

Que rufem os tambores chamando para  ALEGRIA !

Que rufem os tambores a favor da PAZ !

* Esse texto é uma singela homenagem a professora e bailarina ANA LÚCIA DUARTE SILVA , uma expoente da alegria, mais uma vítima do nosso mundo tantas vezes cruel e perverso.

 

São Luis, 31 de Março de 2016.

 

 

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