“A bancada está focada no Maranhão, está preocupada em colocar o estado como prioridade”. A afirmação partiu do deputado federal Pedro Fernandes (PTB), coordenador da bancada maranhense no Congresso Nacional, em entrevista concedida à jornalista Glaucione Pedrozo e publicada na edição de domingo (23) de O Imparcial. Com essa e outras afirmações, o experiente parlamentar tentou responder algumas indagações que têm sido feitas com muita frequência a respeito da atuação da bancada do Maranhão no Congresso Nacional, formada por três senadores e 18 deputados federais, em relação aos problemas do estado. Com habilidade política que a tarimba lhe deu, Pedro Fernandes fez curvas verbais competentes, mas não conseguiu passar aos leitores a convicção que todos querem ter. Ou seja, fez um claro esforço como bom coordenador que é, mas deixou nas entrelinhas um grande espaço de dúvidas.
Para começar, a jornalista lhe pediu uma avaliação da atuação da bancada no primeiro semestre. Pedro Fernandes não titubeou ao admitir que o desempenho da representação como bancada “não foi tão bom”, fazendo um evidente esforço para não declarar ostensivamente que foi ruim. Justificou o “não tão bom” como fruto do início de legislatura, da crise no governo, da crise econômica, da crise política e do fato de que “está tudo parado no governo federal”. E fechou a reposta informando que “estamos equalizando a situação”. Traduzindo as explicações usando o pragmatismo dos políticos, a conclusão óbvia é que o coordenador avaliou que o primeiro semestre não foi produtivo para a bancada no que diz respeito aos problemas do Maranhão cujas soluções dependem da boa vontade do Palácio do Planalto.
Diante da resposta sobre a atuação, a entrevistadora foi no “x” da questão e indagou: “Mas a bancada está unida?”. A resposta do deputado Pedro Fernandes foi reveladora: “A bancada está focada, está preocupada em colocar o Maranhão como prioridade”. E acrescentou: “Todos os deputados do Maranhão, sem exceção, estão trabalhando por isso. Estamos lutando para trazer mais obras”. Ou seja, todos os congressistas maranhenses pensam a mesma coisa, se interessam pelos problemas do estado, mas o fato de estarem “focados” não quer dizer que estejam unidos. E é exatamente esse o problema: os parlamentares manifestam preocupação com os problemas do estado, mas, ao que tudo indica, não agem como um bloco compacto no sentido de pressionar o governo central por soluções.
A jornalista pegou o gancho e foi em frente: “E quais são as ações efetivas em relação ao estado?” Pedro Fernandes informou que as prioridades já foram escolhidas e revelou que está em curso a elaboração de um calendário para que a bancada maranhense visite as obras federais, como a duplicação da BR-135 entre Estiva e Bacabeira, a da implantação da nova adutora do Italuís, e o aeroporto do Tirirical. Acrescentou que a bancada está pleiteando a edição de uma Medida Provisória para refederalizar a MA 226 e a MA 222, estadualizadas em 2002 sem que o governo estadual tivesse condições de assumi-las.
Também essa resposta do coordenador Pedro Fernandes é reveladora da falta de atuação da bancada maranhense como um bloco compacto, monolítico, espartano, com um discurso articulado e posição política firme. As prioridades definidas são velhas, reivindicadas por pelo menos três bancadas anteriores. A duplicação da BR-135 entre Estiva e Bacabeira, por exemplo, vem sendo cobrada desde os anos 90 do século passado e a primeira etapa (Tirirical-Estiva) só saiu, por muita pressão, no Governo José Reinaldo. A segunda etapa veio depois de pressão intensa – que não envolveu toda a bancada, é bom que se diga -, tendo a obra sido iniciada, paralisada em seguida, motivado dezenas de reuniões em Brasília e hoje, quando deveria estar sendo inaugurada, não há nem previsão nesse sentido. O mesmo pode ser dito em relação à adutora e ao aeroporto.
A entrevista do deputado Pedro Fernandes, que tem o apoio unânime dos seus pares como coordenador, revela que os congressistas maranhenses estão preocupados, mas deixa no ar a certeza de que a bancada não atua em bloco nem com um discurso articulado.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Mulheres se mobilizam
“Mais Mulheres na Política” é o mote da campanha lançada ontem na Assembleia Legislativa, com o objetivo de ampliar a participação feminina em todos os aspectos da atividade política, principalmente na vida partidária e parlamentar. O movimento foi instalado com a presença do governador Flávio Dino (PCdoB), da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) e da deputada federal Eliziane Gama (PPS), representantes do Congresso Nacional, líderes de movimentos femininos e das deputadas estaduais Valéria Macêdo (PDT), Graça Paz (PSL) e Francisca Primo (PT). O movimento é uma iniciativa do Congresso Nacional e tem por meta aumentar a participação política da mulher, principalmente com base no fato de que o gênero feminino representa hoje apenas 13% da composição do parlamento nacional. O governador Flávio Dino avaliou que essa é uma tarefa histórica, permanente. Já a senadora Vanessa Grazziotin defendeu a mobilização nacional, inclusive com objetivo de sensibilizar os políticos do sexo masculino a incentivar as mulheres, para que haja um equilíbrio de gênero nas Casas legislativas. Um dos organizadores, o deputado Fernando Furtado (PCdoB) também defendeu a ampliação da participação da mulher na vida política. Mais do que um momento de congraçamento, o evento de ontem foi um ato político de peso, que está sendo levado a sério e vai tentar mobilizar as mulheres de todo o país. Participaram ainda do lançamento da campanha a senadora Regina Sousa (PT), o deputado federal Rubens Pereira Jr (PCdoB), a secretária de Estado da Mulher, Laurinda Pinto, a advogada Valéria Lauande, representando a presidência da OAB; a procuradora de Justiça Sandra Elouf; a defensora Pública Geral, Maria Albano; Silvia Leite, membro do Conselho Estadual da Mulher; entre outras autoridades e expressões femininas.
Em política tudo é possível
O folclore diz que na política do Maranhão até boi voa. Um discurso feito ontem pelo deputado Stênio Rezende (PRTB) o confirmou. Rezende foi à tribuna reportar que sua cidade natal, Vitorino Freire, entrou definitivamente na modernidade com a diplomação de 117 formandos saídos do braço local da Faculdade do Maranhão (Facam), comandada pelo ex-deputado federal César Bandeira, também filho da terra. Nada de excepcional, não fosse o fato de que os Rezende e os Bandeira foram adversários políticos num grau em que eram vistos e se tratavam como inimigos. Na segunda metade dos anos 80 e por toda a década de 90 do século passado, Juscelino Rezende e César Bandeira herdaram a “guerra” e disputaram, palmo a palmo, a hegemonia política no município e na região. O tempo passou e por razões diversas Juscelino Rezende e César Bandeira deixaram a política. Os Rezende continuaram por meio do deputado estadual Stênio Rezende, que é médico; os Bandeira se recolheram. César Bandeira, que é engenheiro civil, encerrou sua carreira política por causa de uma suspeita de desvio que não se confirmou, fechou uma construtora e migrou para o mundo da educação superior fundando a Faculdade Maranhense (Facam), que vem crescendo a cada semestre e já tem braços instalados em diversos municípios. A veia empreendedora de César Bandeira foi destacada por Stênio Rezende, que participou da festa de formatura como paraninfo, e nessa condição rasgou elogios ao ex-adversário, agora visto como um “gigante empreendedor”, que levou o ensino superior para Vitorino Freire. Algo que anos atrás não seria sequer imaginado naquele município, mas que a guinada empresarial de Bandeira para a educação tornou possível, confirmando a máxima do ex-presidente José Sarney, segundo a qual em política pode-se trancar as portas, mas deve-se sempre deixar uma janela entreaberta.
São Luís, 24 de Agosto de 2015.