Os fatos que vêm agitando a cena política maranhense nas últimas duas semanas sugerem que, se mantida essa linha de confronto entre Oposição e Governo, a campanha eleitoral, que já está oficiosamente em curso, no Maranhão corre o risco de se transformar num bate-boca sobre questões inócuas. Isso porque deixará de lado o grande debate sobre a situação social, econômica e cultural do estado, para ser reduzida a questões menores como a que no momento indaga se o Governo do Estado estaria usando a Polícia Militar para espionar adversários políticos. O pedido de intervenção na área de Segurança Pública, feito por deputados oposicionistas, entre eles Eduardo Braide (PMN), potencial candidato a governador, com o aval explícito da cúpula do Grupo Sarney, visa claramente fragilizar o governador Flávio Dino (PCdoB) na seara política – na qual ele pontifica no cenário nacional –, já que está muito difícil encontrar um discurso que desqualifique seus resultados administrativos. Assim, parece mais fácil criar um clima de instabilidade e insegurança a partir de um documento assinado por um oficial mequetrefe da Polícia Militar orientando seus subordinados a xeretar políticos da Oposição nos municípios, do que entrar de fato num debate sobre o essencial: educação, saúde, segurança, economia, etc..
Nesse contexto, no qual o governador Flávio Dino se mantém em guarda permanente e rebate os ataques com um discurso duro e desafiador, chama a atenção o fato de ser o deputado Eduardo Braide o ponta-de-lança das investidas, apoiado discretamente pelo senador Roberto Rocha (PSDB), via deputada Graça Paz (PSDB), enquanto a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) é convenientemente mantida à distância, preservada do confronto direto, que, sabe ela, lhe seria muito desgastante. E não se diga que a ação oposicionista – que é politicamente lícita – seja um mero movimento de deputados preocupados com a integridade dos direitos políticos do cidadão maranhense, em particular daqueles que atuam na contramão do atual Governo. Não é. A exposição da tal portaria, o debate que se seguiu a ela e o inusitado pedido de intervenção na Segurança Pública, seguido agora de um pedido de CPI, na largada do processo eleitoral, obedeceram a uma estratégia cuidadosamente planejada para apanhar o Governo no contrapé e, se possível, levá-lo para as cordas.
A estratégia oposicionista parece equivocada. Primeiro porque escolheu um mote no qual o governador Flávio Dino simplesmente não se enquadra como acusado, o que pode ser constatado a partir de uma observação mais cuidadosa da sua atuação política. O comunismo pregado pelo chefe do Executivo não inclui a tirania stalinista de reprimir e eliminar adversários, como vêm cantando vozes da Oposição. A começar pelo fato de que, mais do que ninguém, e porque foi formado no confronto com a ditadura, o governador tem consciência de que o Brasil é hoje uma sociedade livre, regida pelas regras do estado democrático de direito e onde não cabe esse tipo de ação com o uso criminoso do Estado. Portanto, não faz muito sentido supor que o ex-juiz federal, ex-deputado federal e atual governador Flávio Dino use o aparelho do Estado, principalmente a Polícia Militar, para espionar opositores políticos.
A suspeita de que o Governo espiona a Oposição vem das gestões de Roseana Sarney, quando se começou a ouvir falar em Guardião – um sistema por meio do qual agentes governistas monitorariam adversários gravando suas conversas telefônicas. Mas até hoje seus adversários não trouxeram à tona uma prova concreta de que isso de fato aconteceu. Nesse contexto, por mais que se discorde dos seus métodos, é difícil imaginar que um político da estatura do ex-presidente José Sarney (MDB) use tais recursos para dobrar adversários.
Agora, volta-se ao mote, a partir da tal portaria assinada pelo oficial mequetrefe, dando a impressão de que tudo não passa da inovação sazonal de um fantasma clandestino para a corrida eleitoral. A proposta de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar tal suspeita parece uma perda de tempo, uma vez que tudo pode ser esclarecido plena e satisfatoriamente com uma boa e séria investigação policial, com o acompanhamento do Ministério Público. Uma investigação que alcance todos os governos que em algum momento e de alguma maneira tenham sido acusados dessa prática. Toda a verdade viria à tona, sem ingerência nem pressões políticas. Nada além disso.
Os líderes das forças em confronto precisam aceitar o fato de que, em vez de envolver o estado nessa farofa acusatória, o que interessa mesmo nesse momento é avaliar as ações do Governo, as condições reais em que o Maranhão se encontra no plano administrativo e fiscal e se os programas colocados em prática estão produzindo os devidos resultados. E, a partir daí, o grande, necessário e saudável debate seja aberto e francamente travado pelos candidatos a comandar o Maranhão nos próximos tempos.
PONTO & CONTRAPONTO
Se Lula permanecer preso, Fernando Hadade e Ciro Gomes poderão se unir na disputa presidencial
A especulação segundo a qual PT e PDT podem juntar as forças numa chapa presidencial formada pelo petista Fernando Hadade, ex-prefeito de São Paulo, e o pedetista Ciro Gomes foi bem acolhida pelo Palácio dos Leões. De acordo com uma fonte com bom trânsito palaciano, o governador Flávio Dino vê a ideia com bons olhos e acredita que ela pode render bons frutos no pleno eleitoral. O deputado federal Weverton Rocha, chefe maior do PDT no Maranhão, também estaria vendo essa aliança com otimismo, defendendo, porém, que Ciro Gomes seja o cabeça da chapa, tendo Fernando Hadade como candidato a vice. O PT, por sua vez, defende exatamente o contrário, reivindicando a cabeça e dando a vice para o PDT. O “núcleo duro” do PT, porém, trata a questão como “Plano B”, apostando todas as suas fichas numa reviravolta da situação do ex-presidente Lula da Silva, para que ele seja o candidato do partido. Essa expectativa foi reforçada depois que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, avaliou que a pena imposta a Lula da Silva poderá ser reduzida e que o líder petistas poderá sair da cadeia em pouco tempo. Mas, enquanto Lula da Silva permanecer preso, a possibilidade da aliança PT/PDT permanece de pé, com Ciro Gome já escalado para ser o vice do ex-presidente.
Roberto Costa reforça sua ação política atuando em três frentes
O deputado Roberto Costa (MDB) decidiu focar sua ação política em três pontos: a guerra judicial pela Prefeitura de Bacabal e a sua reeleição para a Assembleia Legislativa. Jovem e começando a experimentar o que os craques do ramo chamam de “maturidade política”, o parlamentar emedebista usa sua disposição para acompanhar todos os passos da guerra judicial por meio da qual pretende mudar o curso político em Bacabal, tirando do poder o prefeito José Vieira (PR), que, como está provado, não poderia ter sido candidato por integrar o time dos fichas sujas. Ao mesmo tempo, inicia uma intensa movimentação nas suas bases eleitorais, mantendo o incentivo político às lideranças que lhe dão apoio, como São Luís e Bacabal, onde conta com expressivas votações. Isso sem descuidar das tarefas na Assembleia Legislativa, onde preside a importante Comissão de Esportes, integra outras comissões e atua intensamente como articulador, costurando fissura em torno de decisões difíceis a serem tomadas pelo presidente Othelino Neto (PCdoB).
São Luís, 25 de Abril de 2018.