Na estrutura parlamentar brasileira, deputados federais, deputados estaduais e vereadores, ao contrário do que muitos imaginam, não mantêm uma relação direta e permanente de entrosamento e intercâmbio, atuando quase como segmentos estanques e com poucas ligações. O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), pôs em marcha um projeto, ao mesmo tempo abrangente e audacioso, de estreitar o relacionamento institucional e político da Assembleia Legislativa com as Câmaras Municipais. Na semana que passou, ele se reuniu com vereadores de Imperatriz e Pinheiro, que estiveram no Palácio Manoel Beckman, e participou, em Esperantinópolis, de um encontro com dezenas de vereadores do Mearim e Médio Mearim. Ontem, na 9ª edição do podcast “Conversa com Othelino”, o chefe do Poder Legislativo destacou essa maratona de encontros, nos quais, afirma, trocou informações sobre a situação dos municípios e sobre as prerrogativas do parlamento nos seus três níveis.
– Os vereadores estão mais próximos das pessoas e vivenciam mais diretamente os seus problemas. Por seu intermédio, nós somos informados do que acontece nos municípios e podemos agir em busca de soluções, que é a nossa obrigação como representantes do povo – explicou o chefe do Poder Legislativo, em tom quase didático.
Político da nova geração e com visão aguda sobre a realidade política, social e econômica do Maranhão, que na sua opinião encontra-se em processo de transformação, o presidente da Assembleia Legislativa acredita que o estreitamento das relações institucionais de deputados estaduais e vereadores pode contribuir decisivamente para melhorar o desempenho do parlamento. Ele está convencido de que essa troca de informações levará à melhoria da ação institucional dos parlamentos estadual e municipal, por acreditar que, isolados, cumprem seus papéis, mas sem a abrangência nem a dinâmica do que uma atuação entrosada.
– Nosso objetivo é estarmos mais próximos das cidades. Os vereadores, no seu dia a dia, estão mais próximos das pessoas do que os deputados estaduais. Quando a gente se encontra, se aproxima, troca informações, recebe reivindicações trazidas pelos vereadores, são grandes as vantagens. Primeiro porque fortalece o parlamento, que consegue mostrar a sua importância para a sociedade, e depois porque nós, a partir dessa aproximação, conseguimos ter mais informações sobre o que está acontecendo nos mais diversos municípios do Maranhão. Afinal de contas, é nas Câmaras Municipais e na Assembleia Legislativa que de fato a sociedade está mais bem representada na sua maior diversidade, com vereadores e deputados de origens política e ideológicas diferentes, crenças diferentes e posicionamentos políticos e partidários diferentes. Ou seja, o parlamento é o retrato mais fiel de um município e de um estado – assinalou o presidente.
Com iniciativas como essa, que começou a ganhar corpo com a instalação de uma sala para vereadores num dos anexos do Palácio Manoel Beckman, e com a deflagração do programa “Assembleia em Ação”, cuja abertura aconteceu em Balsas, no mês passado, o presidente Othelino Neto imprime à Assembleia Legislativa uma dinâmica mais intensa e diferenciada. Por meio dela, acentua ainda mais o caráter essencialmente político da instituição legislativa. O movimento, que já tem outras ações programadas para as próximas semanas, reforça também a posição dos deputados, que precisam construir e manter pontes com as bases que representam. O deputado Marco Aurélio (PCdoB), por exemplo, liderou o grupo de vereadores de Imperatriz na incursão pelo parlamento, enquanto a deputada Thaiza Hortegal (PP), juntamente com o prefeito Luciano Genésio (PP) acompanhou os vereadores de Pinheiro na ida ao parlamento estadual.
Ao elaborar e colocar em prática projetos como esse, que posicionam a Assembleia Legislativa num espaço institucional e político bem mais abrangente, o presidente Othelino Neto salta da política pontual e limitada para uma ação em raio bem maior. Seus movimentos ganham visibilidade mais ampla, credenciando-o para desafios políticos e eleitorais de natureza majoritária.
PONTO & CONTRAPONTO
Pedrinhas: além de Rodrigo Janot, Roseana teve conversas difíceis com Dilma Rousseff e José Eduardo Cardozo
Não surpreendeu a revelação do ex-procurador geral da República (PGR), o quase homicida Rodrigo Janot, de que travou uma conversa dura com a então governadora Roseana Sarney (MDB) em 2013, no período em que o Complexo Penitenciária de Pedrinhas estava, de fato transformado numa sucursal do inferno devido a algumas rebeliões que resultaram na morte de dezenas de detentos, alguma brutalmente degolados. Essa conversa complicada e de tom elevado ecoou nos bastidores do Palácio dos Leões e “vazou”, sem detalhes, para fora das paredes palacianas. Rodrigo Janot teria jogado duro como que responsabilizando Roseana Sarney pela barbárie ocorrida em Pedrinhas. Ela teria reagido em tom estridente e seco, primeiro contestando informações de um relatório de inspeção feita pelo Ministério Público Federal segundo as quais as condições no presídio seriam desumanas, criando as condições para rebeliões. Além disso, a governadora também teria criticado a maneira como o PGR teria entrado no assunto, como se tentasse tentando intimidá-la. O certo é que, segundo o que vazou à época, o tempo fechou na linha telefônica, a governadora falou grosso, dizendo que não aceitava ser pressionada naquele tom nem com base em informações de um relatório que ela desconhecia. O PGR respondeu em voz alta. Mas terminaram a conversa em clima mais ameno, com ela reconhecendo problemas e informando que estava trabalhando para resolvê-los. Rodrigo Janot também revelou que tentou intimidar Roseana Sarney insinuando que já teria minutado um pedido de intervenção no Maranhão por causa de Pedrinhas. Era blefe, já que ele saberia que, por mais grave que fosse a situação no complexo penitenciário, tal pedido não seria acatado pelo Supremo Tribunal Federal. É sabido ainda que naquele período a governadora Roseana Sarney teve conversas nada agradáveis com a presidente Dilma Rousseff (PT) e com o ministro da Justiça de então, José Eduardo Cardozo. No mesmo tom que mantivera com o presidente Fernando Henrique Cardoso, em março de 2002, no momento em que agentes da Polícia Federal invadiam os escritórios da Lunus, numa ação controvertida que a tirou da corrida para a Presidência da República.
Helena Duailibe crítica Roberto Rocha por agressões a Simplício Araújo e ninguém sai em defesa do tucano
A agressão verbal e a ameaça de agressão física feitas pelo senador Roberto Rocha (PSDB) ao secretário de Estado de Indústria e Comércio, Simplício Araújo, a quem chamou de “fdp” por conta de crítica que ele fizera ao que seria um comentário desinformado do líder tucano no Senado em relação à política tributária estadual, que teria desmotivado a implantação de uma fábrica de cervejas no Maranhão, repercutiu, ontem, na Assembleia Legislativa. O imbróglio dominou parte da sessão, iniciando pela deputada Helena Duailibe (Solidariedade), que saiu em defesa do secretário Simplício Araújo e fez duras, mas civilizadas, críticas ao senador. O pronunciamento da deputada motivou uma série de apartes, todos favoráveis a Simplício Araújo. O que chamou a atenção foi o fato de que nenhum deputado saiu em defesa do senador Roberto Rocha, tendo o episódio demonstrado de que o tucano vive um visível processo de isolamento na política maranhense.
São Luís, 01 de Outubro de 2019.