Três semanas depois de ter registrado, em comentário, que a oposição ao Governo Flávio Dino estava sem rumo na Assembleia Legislativa, a coluna revê a observação e avalia, agora, que o cenário já é bem diferente. Capitaneada pelos deputados Andrea Murad (PMDB), Adriano Sarney (PV) e Edilázio Jr. (PV), a bancada oposicionista, que conta com mais sete parlamentares, vai aos poucos virando o jogo e já consegue colocar a poderosa maioria situacionista em estado permanente de alerta. Mesmo dispersa, sem um discurso comum nem uma atuação articulada em bloco, a oposição vai aos poucos encontrando pequenas fissuras na muralha governista, ainda que até agora não se tenha conhecimento de qualquer deslize do novo governo que deva ser levado a sério.
Nas primeiras semanas da atual legislatura, as investidas oposicionistas foram tímidas, um pouco fora da realidade e, por isso, facilmente rebatidas pelos então tranquilos porta-vozes do Palácio dos Leões. Houve momentos em que a reação do líder do Governo, deputado Rogério Cafeteira (PSD), foi de tédio, enquanto em outros foi de falta de paciência. Porém, à medida que martelaram intensamente sobre assuntos específicos, a regra universal segundo a qual água mole em pedra dura tanto bate até que fura foi ganhando forma, fazendo com que a pequena brigada oposicionista ameaçasse tirar a força governista do centro do ringue e empurrá-la para as cordas.
Nesse contexto, o destaque vai para a deputada pemedebista Andrea Murad, marinheira de primeira viagem e que ainda emite sinais de deslumbramento com o mandato parlamentar. Sem brilhantismo discursivo nem agilidade para se contrapor aos adversários, a deputada, no entanto, adotou uma tática que está dando resultado. Porta-voz avançada do pai e mentor político, o ex-deputado Ricardo Murad, ex-secretário todo-poderoso estadual de Saúde, a parlamentar abraçou a saúde como bandeira, atuando como crítica implacável do Governo Flávio Dino nessa seara, como também defensora intransigente da política de saúde do Governo Roseana Sarney, especialmente o controvertido programa de construção de hospitais levado a cabo por Ricardo Murad.
Sem dizer nada mais do que dissera nos seus primeiros discursos, a deputada transformou sua pregação numa espécie de catilinária, que repete, impassível, a cada sessão, alterando apenas o nome do hospital abandonado da vez, o atendimento que “está péssimo” numa UPA qualquer, a mãe que reclama que o filho necessitado não recebe o leite especial, ou ainda batendo na tecla de que um servidor “ficha-suja” foi deslocado para comandar uma área importante do sistema de saúde.
Esse martelar foi aos poucos alterando o ânimo da bancada oposicionista, a tal ponto que na sessão de terça-feira, por exemplo, Andrea Murad criticou a escolha do presidente da Caema, acusando-o de ser “ficha-suja”. Nada menos que cinco deputados governistas – o líder Rogério Cafeteira, Othelino Neto (PCdoB), Fernando Furtado (PCdoB), Rafael Leitoa (PSB) e Stênio Resende (PRTB) – foram à tribuna responder à deputada, quando estava muito claro que ela fazia uma provocação. A pemedebista se sentiu o máximo, importante e influente, diante de tantas explicações que não lhe interessavam.
No início da semana passada, o deputado Adriano Sarney jogou uma isca e encheu o balde. Denunciou a suposta irregularidade na nomeação de um servidor federal para a Comissão Central de Licitação do Governo do Estado. A tese da irregularidade, que tecnicamente não causaria nenhum dano ao governo, se transformou num “cavalo-de-batalha” da oposição por mais de uma semana, obrigando os líderes governistas, em especial o competente e centrado deputado Eduardo Braide (PMN), a se desdobrarem para rebater as estocadas, como se se tratasse de um caso grave de desvio.
O que vem acontecendo na Assembleia Legislativa não altera em nada o fato de que o governo tem a maioria esmagadora, pode aprovar ali o que bem entender, tem força para rechaçar o que não lhe convier, dispõe de um exército pronto para defendê-lo e, mais do que isso, não há qualquer sinal de que esse cenário de poder possa ser modificado. Ao mesmo tempo, vale registrar que, embora imprecisa, sem um discurso articulado nem bandeiras bem definidas, a oposição começa a ganhar confiança e a incomodar.
Em tempo: integram a oposição ainda os deputados Roberto Costa (PMDB), Max Barros (PMDB), César Pires (DEM), Antonio Pereira (DEM), Hemetério Weba (PV), Nina Melo (PMDB) e Alexandre Almeida (PTN), que não se envolvem na guerra declara pelos outros três.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Carrero na Facam
O Maranhão está entre os estados onde a maioria das administrações municipais acontece ainda em estado primário, sem estrutura organizacional, sem contabilidade própria e ajustada e sem um sistema de movimentação financeira convencional e transparente. Muitos prefeitos praticamente residem em São Luís, onde mantêm contratos milionários com escritórios de contabilidade que cuidam das contas das suas administrações. É para prevenir contra mazelas como essas que a Faculdade Maranhense (Facam) inaugura nesta quinta-feira, às 19 horas, um auditório, com palestra do ministro Raimundo Carrero, do Tribunal de Contas da União. A convite do diretor-presidente da Facam, César Branco Bandeira, o ministro Raimundo Carrero, que é maranhense de Fortaleza dos Nogueiras, vai falar sobre “Responsabilidade do Agente Público perante os Tribunais de Contas” para uma plateia de estudantes, professores e convidados, que devem lotar os 300 lugares do novo espaço, pensado para ser um centro de debates.
PIB per capita I
Muito se tem discutido no Maranhão sobre a relação Produto Interno Bruto (PIB) e sua divisão per capita. Informações levantadas pela revista IstoÉ Dinheiro, relativas ao exercício de 2011, revelam que, também neste caso, o Maranhão tem a pior situação, pois detém um PIB razoável, mas quando ele é dividido pela população, o resultado desenha uma monstruosa distorção. O Maranhão tem o quarto maior PIB da região Nordeste (R$ 52,2 bilhões), mas a sua relação per capita (R$ 7.852,71) é a pior entre os nove estados nordestinos, não ganhando nem do Piauí, cujo PIB é de R$ 24,6 bilhões, com PIB per capita de R$ 7.835,75.
PIB per capita II
Quando os números vêm à tona, a realidade desfavorável se impõe. A Bahia, por exemplo, tem um PIB de 159,9 bilhões e um PIB per capita de R$ 11.340,18. O PIB de Pernambuco é de R$ 104,4 bilhões e sua divisão per capita é de R$ 1.776,10. Já o PIB do Ceará é de R$ R$ 88 bilhões enquanto sua divisão per capita é de R$ 10.314,29. O PIB do Rio Grande do Norte é de R$ 36,1 bilhões e a divisão per capita é de R$ 11.286,99. O da Paraíba é de R$ 35,4 bilhões e sua relação per capita é de R$ 9.348,69. Alagoas tem um PIB de R$ 28,5 bilhões para uma divisão per capita de R$ 9.079,48. Sergipe tem a relação mais alta: PIB de R$ 26,2 e uma divisão per capita de R$ 12.536,45. Não há o que discutir quando se afirma que o Maranhão é, de fato, o estado mais pobre da região.
Vai encarar?
Diante da pancadaria governista contra o ex-deputado e ex-secretário estadual de Saúde Ricardo Murad, a deputada Andrea Murad assumiu a condição de filha e fez uma advertência para todos os deputados, sem exceção. Disse que aceita todas as críticas, até os ataques mais duros, contra o gestor Ricardo Murad, como também os ataques que forem feitos ao político Ricardo Murad. Mas avisou: “Não aceitarei ataques pessoais contra meu pai, venha de quem vier”.
Carapuça
O deputado Fernando Furtado (PCdoB), vestiu a carapuça, foi à tribuna e indagou: “Isso é uma ameaça?” Andrea Murad não mais se encontrava no plenário e a pergunta ficou no ar, o que levou o deputado comunista a declarar: “Sou homem e não tenho medo de Ricardo Murad, mesmo com aquele tamanho todo”. Reagiu exatamente como a oposição queria: irritado e quase fora do eixo.
São Luís, 25 de Março de 2015.