Expoentes da chamada Grande Imprensa, que dão as cartas e ditam as regras no noticiário nacional, começam a dar a impressão de que estão relaxando o princípio mais importante e sagrado do Jornalismo: o rigor na apuração dos fatos. Nos últimos dias, dois ícones da imprensa nacional o jornal fluminense O Globo e a revista paulista Veja divulgaram matérias sobre o cenário político do Maranhão, que devem ter feito seus respectivos fundadores, Roberto Marinho e Victor Civita, a se mexerem nos seus caixões. A primeira matéria foi publicada na edição de segunda-feira (22) de O Globo, dando conta de um suposto afastamento do governador Carlos Brandão (PSB) do ministro Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública). A segunda veio à tona na edição de Veja que começou a circular ontem, relatando que a população de Alto Alegre do Pindaré está mergulhada em expectativa porque “o filho do prefeito Fufuca Dantas” vai ser ministro do Governo Lula da Silva (PT). Os dois registros jornalísticos poderão muito bem ser usados em cursos de Comunicação como exemplo de como “não se deve fazer jornalismo”.
A matéria de O Globo é claramente inconsistente, à medida que faz afirmações sem qualquer fato que lhes dê lastro e as tornem confiáveis. Afirma, por exemplo, que o governador Carlos Brandão vem “acumulando atritos” com o ministro Flávio Dino. Nenhum veículo de comunicação do Maranhão ou de fora registrou até agora um só atrito comprovado entre o governador e o ministro. E especula que o governador está se afastando do ministro para se aproximar da família Sarney. Papo furado. Carlos Brandão tem origem no sarneysismo, e mesmo antes de assumir o Governo, em abril de 2022, já vinha articulando para ter o MDB na sua base, estreitando essa relação, de modo a evitar que parte das forças emedebistas declarassem apoio ao candidato do PDT ao Governo, senador Weverton Rocha.
A (re)aproximação do governador Carlos Brandão com a família Sarney nada tem a ver com o suposto e não comprovado afastamento dele em relação ao ministro Flávio Dino. E as eventuais diferenças de visão em relação a Governo e outros itens são absolutamente normais num grupo com esse poder de fogo. É fato que existem diferenças, mas não há nenhum sinal efetivo de que o atual chefe do Executivo venha a se afastar do ministro. Não faz sentido, pelo menos por enquanto. E para completar, o jornalista Bernardo Mello não ouviu os dois protagonistas.
Sob o título de “Mau papai, meu garoto”, a matéria de Veja, publicada ontem, chega a ser patética. Nela, a jornalista Marcella Mattos tenta reduzir a estatura política do deputado federal André Fufuca (PP), apresentando-o apenas como “o filho do prefeito” Fufuca Dantas que vai ser ministro, não lhe atribuindo qualquer mérito político. Não registra que “o jovem deputado federal”, de 33 anos, é um médico que já foi deputado estadual e está no terceiro mandato de deputado federal. Ignora que André Fufuca já presidiu a CPI da Prótese, foi 1º vice-presidente da Câmara Federal, tendo assumiu a presidência por dois meses no mandato passado, e que é vice-presidente nacional do PP, posição que lhe permitiu assumir a presidência do partido por vários meses, e que atualmente é líder da bancada do PP, o que lhe assegura interlocução direta com o presidente Lula da Silva e seus operadores.
E mais: o deputado André Fufuca não está cotado para o ministério pela pura e simples vontade do presidente da Câmara Federal Arthur Lira (PP) ou de qualquer outro medalhão da política nacional. Ele mergulhou fundo nas reentrâncias da política em Brasília, construiu seu espaço, tornou-se parte influente do comando do PP e integra o chamado “alto clero” do grupo partidário conhecido como Centrão. Está no jogo porque aprendeu a jogar.
As duas matérias, que por seus defeitos não podem ser classificadas como reportagens, dizem muito da profunda crise por que está passando o Jornalismo.
PONTO & CONTRAPONTO
Palácio dos Leões já tem posição definida em Imperatriz e Caxias
O anúncio só deve ser feito no ano que vem, mas o Palácio dos Leões já teria batido martelo em relação à corrida sucessória em municípios de grande porte: Imperatriz e Caxias.
Em Imperatriz, depois de muita avaliação, o comando governista definido formar uma frente em torno da candidatura do deputado estadual Rildo Amaral (PP), que tem o apoio do ex-deputado estadual Marco Aurélio (PSB). Como é sabido, Rildo Amaral vem liderando com folga as pesquisas de opinião.
Em Caxias, o acordo a ser apoiado pela cúpula governista deve ser firmado pelo prefeito Fábio Gentil (Republicanos) e a ex-deputada Cleide Coutinho (PDT) em torno de Gentil Neto (Republicanos), atual secretário de Infraestrutura. Pesquisas já realizadas ali indicam que a maioria do eleitorado avaliza a aliança e a candidatura de Gentil Neto.
Verde mantém projeto de levar o MDB a apoiar o projeto de reeleição de Braide
O deputado federal Cléber Verde não reviu sua posição de levar o MDB de São Luís a apoiar o projeto de reeleição do prefeito Eduardo Braide (PSD). Ele manifestou essa posição há dois meses, quando se filiou ao partido, provocando, naquele momento, uma reação de desacordo por parte da cúpula emedebista.
Na verdade, a reação dos chefes a do MDB não foi para informar que o partido não apoiará o prefeito, mas apenas de cautela, por considerar que ainda está cedo para definições nesse sentido.
Cléber Verde fez de conta que aceitou a suave reprimenda, evitou novas declarações de reforço, mas não mudou um naco da sua posição de apoiar o prefeito na corrida à reeleição. Ao contrário, tem conversado com aliados dentro e fora do MDB, defendendo o apoio a Eduardo Braide.
Segundo uma fonte com trânsito livre junto ao presidente do MDB ludovicense, o projeto do deputado Cleber Verde é viabilizar com Eduardo Braide uma aliança na qual o MDB indique o candidato a vice.
Faz sentido.
São Luís, 29 de Julho de 2023.