Os embates de ontem no plenário da Assembleia Legislativa confirmaram fissuras na base parlamentar governista. Foi inesperada e surpreendente a reação do novo líder do Governo, deputado Neto Evangelista (UB), ao discurso do deputado Rodrigo Lago (PCdoB), que na terça-feira reclamara de mudanças no hospital regional de Lago da Pedra, com a demissão de aliados e a nomeação de “bolsonaristas” supostamente indicados pela deputada evangélica Mical Damasceno (PSD) e pela prefeita Maura Jorge (sem partido), ambas de direita. Na sua estreia como líder do Governo, Neto Evangelista poderia feito um discurso conciliador, mas ele preferiu partir para o enfrentamento criticando a reclamação de Rodrigo Lago e afagando a deputada Mical Damasceno, que no estado é alinhada ao governador Carlos Brandão (PSB), mas no plano nacional é bolsonarista e faz oposição agressiva ao presidente Lula da Silva (PT) e seu Governo.
O líder do Governo iniciou seu discurso em tom ameno, chamando a atenção para o fato de que uma base tão ampla e heterogênea está sujeita a esse tipo de problema. Mas lembrou de presidentes e governadores que para garantir a governabilidade tiveram que fazer concessões a segmentos oposicionistas. Evocou, por exemplo, o governador Flávio Dino (PSB), que governou com um amplo mosaico partidário, acomodando na administração representes da esquerda e da direita. E assim justificou relação do governador Carlos Brandão com representantes das mais diversas correntes políticas e vieses ideológicos.
Na sequência, criticou a fala do deputado Rodrigo Lago, destacando algumas declarações e afirmando que algumas delas não se sustentavam. Defendeu enfaticamente a deputada Mical Damasceno, congratulando-se com ela pelas posições políticas e ideológicas, como se ela tivesse sido vítima de uma agressão. Em relação às mudanças de comando no hospital regional de Lago da Pedra, exibiu uma série de fotos da nova diretora com Flávio Dino, Lula da Silva e Carlos Brandão, alegando que a acusação de bolsonarismo não faz sentido. Além disso, afirmou que com a mudança o hospital melhorou a qualidade dos serviços que presta. O líder rebateu também declaração do deputado Othelino Neto sobre suposto fechamento de restaurantes populares, afirmando não ser verdade, ao contrário, já são mais de 160 funcionando e estando programada a inauguração de mais quatro unidades ainda neste mês.
Os deputados Rodrigo Lago, Othelino Neto (PCdoB) e Carlos Lula (PSB), que formam o núcleo da corrente dinista na base do Governo Brandão, reagiram ao discurso do novo líder governista. Em apartes, os três rebateram a fala, deixando claro que apoiam o Governo, mas que vão se manifestar criticamente sempre que julgarem necessário. Por seu turno, o líder não tentou contemporizar, passando a impressão de que vai se posicionar sempre que houver “críticas injustas” ao Governo. Neto Evangelista fez alguns afagos nos deputados dinistas, mas deixou claro que vai defender o Governo como líder, respondendo à altura, independentemente de quem for o autor do ataque.
O embate de ontem no plenário do parlamento mostrou que, por ser gigantesca a base governista, com pelo menos 90% dos 42 deputados alinhados ao Governo, a tarefa do líder é extremamente complexa e sensível, mostrando que muitas vezes as trocas de farpas evoluem para embates duros e tensos. A expectativa inicial era a de que os confrontos se dariam por contas das eleições municipais, mas o que está acontecendo, pelo menos até aqui, é que estão vindo à tona as diferenças profundas quanto à linha de ação do Governo. E pelo que está previsto, esses grupos, que começam a ganhar rosto, vão continuar se estranhando, alimentando um clima de tensão já instalado no plenário da Assembleia Legislativa.
Conhecedor de todas as tendências agrupadas na sua base de sustentação, o governador Carlos Brandão, político experiente, se movimenta buscando fortalecer a governabilidade, sabendo que pode enfrentar dissonâncias em vozes aliadas. Com o seu discurso de estreia como líder do Governo no parlamento estadual, o deputado Neto Evangelista, que foi preparado para a tribuna, passou um recado direto e sem meias palavras: o Governo vai rebater todas as investidas contra ele que considerar injustas. Fora e dentro da base.
PONTO & CONTRAPONTO
Yglésio permanece amarrado ao PSB e não deve disputar a Prefeitura de São Luís
É complexa e curiosa a situação político-partidária do deputado estadual Yglésio Moisés. Ele pertence ao PSB, mas durante a campanha de 2022 migrou da esquerda para a direita, deixando de pertencer à base de apoiadores do ex-presidente Lula da Silva (PT), então candidato a presidente, para se declarar apoiador do presidente Jair Bolsonaro, então candidato à reeleição. E o fez durante a campanha, apesar dos protestos dos socialistas.
Terminado o processo eleitoral, no qual se reelegeu, mas que deu Lula da Silva na disputa presidencial, o deputado Yglésio Moisés decidiu deixar o PSB, propondo à cúpula do partido para que o liberasse, para evitar o risco de perder o mandato. A direção partidária negou o pedido. Assim, o parlamentar foi colocado na seguinte situação: continua no PSB, mas age como adversário do partido, atacando seus líderes e o presidente Lula da Silva, incorporando o discurso bolsonarista, que passa por duras críticas ao STF, por exemplo.
Mas não resolve seu problema partidário. Entrou na Justiça Eleitoral pedindo aval para deixar o PSB sem perder o mandato, tendo obtivo maioria favorável. Só que o PSB vai recorrer ao TSE, o que deixa a questão em aberto e impede que ele deixe o partido sem correr o risco de perder o mandato. Diante disso, Yglésio Moisés não poderá, pelo menos por enquanto, disputar a Prefeitura de São Luís, exatamente por não ter um partido para chamar de seu.
Ontem, por exemplo, o parlamentar esteve em Brasília, onde conversou com seu novo líder, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sobre o assunto. Mas a situação é a seguinte: se o PSB recorrer e o TSE acatar o pedido, Yglésio Moisés terá de permanecer na legenda socialista até março de 2026, quando se abrirá a janela partidária para as eleições gerais.
Câmara e Equatorial vão atrás de consumidores que têm direito à Tarifa Social de Energia
Numa iniciativa inédita, a Câmara Municipal de São Luís e a Equatorial vão somar esforços para identificar famílias de baixa renda que ainda não são beneficiadas pela Tarifa Social de Energia. A ação foi definida ontem numa reunião de trabalho entre o presidente da Casa, vereador Paulo Victor (PSB) e o diretor de Serviços da distribuidora de energia José Jorge Leite. Doze vereadores participaram da reunião.
Ao longo da conversa, José Jorge Leite apresentou números que mostram a importância da tarifa Social de Energia no Maranhão: são 2,8 milhões de consumidores atendidos pela empresa, sendo 2 milhões são de baixa renda. Destes, cerca de 1,1 milhão de famílias atendem aos critérios para usufruir a Tarifa Social, sendo 60 mil apenas em São Luís. Com a parceria, a Câmara vai auxiliar na busca de beneficiários deste programa nas comunidades e encaminhar as informações à empresa, que procederá o cadastramento dos beneficiários.
O presidente Paulo Victor destacou a importância da parceria Câmara/Equatorial, assinalando que esses esforços vão tornar mais facilitado o acesso de quem precisa à Tarifa Social de Energia. A partir de hoje, nós estaremos à disposição da Equatorial para que, juntos, possamos fazer uma parceria institucional de grande utilidade, contribuindo para identificar nos bairros aqueles que têm direito a este benefício importante que é a Tarifa Social”.
José Jorge Leite respondeu reafirmando a parceria e destacando que a empresa está disposta a avançar da cobrança da Tarifa Social e assim contribuir com famílias de baixa renda, principalmente em tempos de dificuldades econômicas”.
São Luís, 21 de Março de 2024.