Todos os sinais emitidos em atos realizados no final da semana indicam que a disputa pela Prefeitura de São Luís no ano que vem será uma das mais renhidas da história política do município. Isso porque, ao participar do encontro da juventude municipal do PDT, na manhã de sábado, o prefeito Edivaldo Jr. (PTC), sem a sombra do governador Flávio Dino, tentou apagar a impressão de que comanda um governo frágil e deixou claro que vai para a briga com faca nos dentes. No mesmo instante, a deputada federal Eliziane Gama sinalizava na mesma direção em encontro nacional da juventude do seu partido, o PPS, organizado em São Luís. O mesmo ocorreu nos bastidores da megafesta de filiação de Luis Fernando Silva ao PSDB, onde muito se falou sobre a possibilidade de o Grupo Sarney (PMDB, PV, DEM, PTB, PSC) lançar um candidato forte, e sobre o que fará o PSDB, que pode lançar o deputado federal João Castelo ou o deputado e atual secretário estadual de Desenvolvimento Social, Neto Evangelista. Até aí, um quadro de certa maneira previsível.
Mas o que pode ganhar forma de novidade começou a se desenhar na sexta-feira, antecedendo aos atos partidários que se realizariam no sábado. Uma reunião de caráter administrativo e social que aconteceu no Campus da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) foi vista por alguns como o plantio de uma candidatura que, se vingar, poderá resultar numa mexida radical nas peças que já se posicionam no tabuleiro da sucessão municipal. No encontro de trabalho, o reitor da UFMA, Natalino Salgado, o presidente da Câmara Municipal, de São Luís, vereador Astro de Ogum (PTN), assessores graduados da instituição e líderes comunitários definiram as providências para iniciar o processo de regularização fundiária das áreas situadas no entorno do Campus do Bacanga. A iniciativa é do reitor, que quer deixar o cargo com esse imbróglio resolvido ou com o processo bem encaminhado, pois depende de providências formais da Prefeitura de São Luís, que naturalmente passarão pelo crivo do prefeito Edivaldo Jr.
Vale perguntar o que tem a ver uma ação social da UFMA com a disputa pela Prefeitura de São Luís. Aparentemente, nada. No entanto, movimentos recentes, registrados nos bastidores da política, apontam o reitor Natalino Salgado como um nome com potencial expressivo para entrar na corrida pelo Palácio de La Ravardière. Ele tem sido sondado por líderes partidários, que o procuram com o objetivo de tê-lo com o filiado e, como desdobramento, lançá-lo candidato à sucessão do prefeito Edivaldo Jr. Não há um movimento articulado e robusto nessa direção, mas as sondagens partidárias estão acontecendo de fato, e não será surpresa se o reitor da UFMA, que já se move na reta final do segundo mandato, deixar o comando da instituição e o magistério e fechar o consultório para entrar na briga pelo voto, aspirando se tornar prefeito de São Luís.
O que chama a atenção dos partidos é o lastro do reitor Natalino Salgado como gestor público. Basta citar dois exemplos. O primeiro foi o Hospital Universitário, que ele recebeu em estado calamitoso e transformou num centro de saúde de ponta e de referência entre as casas de saúde mantidas por universidades federais em toda a região e, em alguns aspectos, apontado como um dos melhores do país. Segundo: à frente da UFMA, Salgado enriqueceu muito o seu currículo de administrador, ampliando consideravelmente os campi de São Luís e do interior, aumentou expressivamente o número de cursos, praticamente dobrou a oferta de vagas, numa gestão dinâmica e produtiva, e com um dado a mais, sem noticia de bandalheira. Tanto que renovou o mandato sem um candidato que sequer lhe fizesse sombra. Peitou a oposição e criou um sindicato para fazer frente à Apruma, comandada pelo PSTU. Ganhou todas nesse plano. Nas também ganhou adversários irados, que sem força eleitoral dentro da instituição, vão tentar formar uma frente para derrotar seu candidato na eleição para a Reitoria no ano que vem.
As sondagens para que o reitor da UFMA entre na briga pelo voto não são de agora. Em 2011, por exemplo, enquanto não decidia apoiar a candidatura do vice-governador Washington Oliveira para prefeito no pleito de 2012, o PMDB e outros dois partidos do Grupo Sarney tentaram, até com alguma insistência, atraí-lo para os seus quadros. Mas ele avaliou que não era a hora e preferiu permanecer no cargo de reitor, alegando que seu trabalho na UFMA precisava ser concluído. Mais recentemente, pelo menos quatro partidos o procuraram para oferecer-lhe a candidatura a prefeito de São Luís. Não disse sim nem não, preferindo avaliar melhor o cenário. Um dos que o procuraram revelou à coluna que ele está “balançado”, o que significa dizer que poderá, de fato, deixar a vida universitária para tentar chegar ao comando da Prefeitura de São Luís pelo voto direto no ano que vem.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Pancada dupla
A deputada Andrea Murad (PMDB) voltou a disparar chumbo grosso, à sua maneira, contra o Governo do Estado. Acusou o governo de ser o responsável por um acidente que matou quatro pessoas no Hospital Regional de Coroatá, no final da semana. E também enfatizou denúncia contra o deputado Fábio Macêdo (PDT), que estaria por trás da empresa BR Construções, ganhadora de polêmico contrato com o Detran.
Reação no ato
As bordoadas verbais da deputada Andrea Murad repercutiram imediatamente, levando o deputado Fábio Macêdo mais uma vez à tribuna para defender-se e à sua família. O parlamentar reagiu reclamando do fato de que a denúncia publicada domingo por O Estado do Maranhão mostrando que um carro de luxo usado por ele o ligaria à BR Construções. Macêdo, que fez um discurso sem ênfase, aproveitou para mostrar que sete empresários da construção civil que trabalharam para a Secretaria de Saúde na gestão do secretário Ricardo Murad deram dinheiro para a campanha da parlamentar.
Pedido de armistício?
Mas o que chamou a atenção na sessão de ontem foi o discurso do líder do Governo, deputado Rogério Cafeteira (PSC). Na primeira parte, contestou, com adjetivos pesados, a acusação da deputada Andrea Murad de que o governo é o responsável pelo que aconteceu no Hospital Regional de Coroatá. Em seguida, como quem propunha um armistício, o líder governista pediu moderação por parte da deputada oposicionista, sugerindo que ela seja menos impetuosa, enfim, fez quase um apelo para que ela seja mais cuidadosa com as suas denúncias, colocando-se aberto para dialogar, quando for o caso. Chegou até mesmo a pedir desculpas pelos excessos que cometera e disse esperar que a partir de agora o tom de Andrea Murad seja mais moderado. Tudo indica que a estratégia do líder do Governo tende a fracassar.
Na corda-bamba
O deputado Cabo Campos (PP), que conquistou o mandato na esteira do movimento que levou a Polícia Militar à greve em 2013, saiu definitivamente da zona de conforto como membro da bancada governista. Inconformados com as respostas do Governo do Estado às suas reivindicações salariais, oficiais, sargentos, cabos e praças da Polícia Militar articulam um movimento que poderá resultar na eclosão de uma greve. Ontem, num discurso cheio de cautela – nada parecido com os que fez quando liderou o movimento grevista -, Cabo Campos viveu a dura realidade de ser governista e representante classista ao mesmo tempo. Fez apelos e mais apelos para que haja um entendimento, mas admitiu que no caso de greve, não terá saída: ficará do lado “dos meus amados de farda”.
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