Os embates entre o senador Weverton Rocha (PDT) e o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos) nas eleições municipais do ano passado, principalmente em São Luís, e na eleição para o comando da Famem, há duas semanas, causando tensões e fissuras na aliança governista, foram eventos naturais num cenário em que as forças políticas se preparam para disputar a sucessão do governador Flávio Dino (PCdoB), mas ficaram para trás. Agora que o governador trabalha para turbinar o último ano do seu Governo – que termina em Abril do ano que vem -, o clima é de brandura política, para suavizar o ambiente, com menos tensão e mais diálogo, mais entendimento. O foco é a centralidade do comando do governador Flávio Dino, que preferencialmente disputará vaga no Senado e conduzirá no seu campo o processo da sua sucessão. E quem ignorar isso estará cometendo um grave erro.
O cenário, que inclui também o aviso enfático, foi desenhado ontem pelo deputado federal licenciado Márcio Jerry, atual secretário de Cidades, presidente estadual do PCdoB e principal integrante do núcleo central do Governo estadual, em entrevista ao programa Ponto & Vírgula, na Difusora FM, comandado pelo blogueiro Leandro Miranda. O secretário assinalou que, de acordo com o seu entendimento, ao contrário do que aconteceu em 2014 e 2018, a grande disputa de 2022 não comportará um debate sobre nomes, mas sobre conteúdo. “O desafio será como manter os avanços sociais alcançados nos sete anos e meio do Governo Flávio Dino, com um número muito maior de escolas e de professores”, exemplificou o secretário. Sobre esse contexto, Márcio Jerry disse que já conversou com Weverton Rocha e com Carlos Brandão, revelando que os dois estão alinhados a esse processo.
Sem esconder sua empolgação com a tarefa de comandar a Secid, que operacionalmente é uma ponte entre o Palácio dos Leões e as Prefeituras, Márcio Jerry admite que irá atuar, também intensamente, no campo político. E não poderia ser diferente, a começar pelo fato de que a pasta que lhe foi entregue tem relação direta com as prefeituras, o que o colocará em contato permanente com prefeitos e líderes municipais, tocando obras em pelo menos uma centena de municípios. Indagado sobre se a relação republicana com municípios incluirá São Luís, agora sob o comando d prefeito Eduardo Braide (Podemos), adversário declarado do Governo, o titular da Secid foi taxativo: “Claro que sim. O Governo tem um gigantesco portfólio de obras em São Luís. O governador Flávio Dino não tem problemas de manter relações institucionais e republicanas com qualquer município. Só depende do prefeito”.
As declarações do secretário das Cidades revelaram que, independentemente da guerra contra o coronavírus, na qual o Governo do Maranhão tem sido referência para o País, o governador Flávio Dino vai dedicar os próximos 14 meses ao robustecimento das ações administrativas e às articulações políticas, tanto internamente quanto no âmbito nacional. No front interno, cuidará de fortalecer a aliança que lidera, dando ênfase às articulações para a sua sucessão, de preferência alcançando um grande entendimento em torno de um candidato. Já no plano externo, insistirá até onde for possível na formação de uma grande frente reunindo a centro-direita, o centro, o centro esquerda e a esquerda em torno de projeto para derrotar o bolsonarismo nas urnas de 22.
Conhecedor profundo e tarimbado das entranhas políticas do Maranhão, principalmente no campo em que milita com a experiência de várias eleições como coordenador, incluindo as duas de Edivaldo Holanda Jr. (2012-2016) e duas do governador Flávio Dino (2014-2018), Márcio Jerry sabe exatamente o que deve ser feito para desenhar e viabilizar um projeto político-eleitoral num ambiente carregado de incertezas como o que começa a ganhar forma no Maranhão. Ele assinala que, diferentemente de 2014 e 2018, quando a aliança se mobilizou pela eleição e pela reeleição do governador Flávio Dino, a guerra eleitoral que se aproxima será decisiva para o futuro do estado.
O principal desafio agora será encontrar o nome certo para comandar a aliança, vencer a eleição e avançar no processo de mudanças.
PONTO & CONTRAPONTO
Especulação sugere mudança nas lideranças do Governo na Assembleia Legislativa
As mudanças que o governador Flávio Dino fez na sua equipe, remontando o núcleo central do Governo, levaram ao surgimento de rumores de que ele poderá mudar a liderança do Governo na Assembleia Legislativa, cargo hoje ocupado pelo deputado Rafael Leitoa (PDT), e estimular rodízio na liderança do Bloco que lhe dá sustentação na Casa, exercida atualmente pelo deputado Marco Aurélio (PCdoB), que disputou a Prefeitura de Imperatriz e ficou em segundo lugar.
Mais do que uma avaliação de que está na hora de fazer essas mudanças, a troca de líderes da base parlamentar governista é uma tradição nas casas legislativas a casa dois anos. Ao mesmo tempo, vale a observação de que o deputado Rafael Leitoa é um líder governista atuante e eficiente, que vem dando conta do recado com intensa movimentação em plenário e nos bastidores do Parlamento. A mesma avaliação pode ser feita em relação ao deputado Marco Aurélio, que vem conduzindo, também com empenho e eficiência a bancada governista na Casa, inclusive elogiado pelos colegas pela maneira correta com que atua em nome do Palácio dos Leões.
É improvável que o governador Flávio Dino tenha interesse em mexer nas suas lideranças na Casa, mas as especulações trouxeram à tona o velho ditado segundo o qual onde há fumaça, há fogo.
Expert em bastidores do Congresso, Roseana Sarney poderia ajudar Baleia Rossi
Não será surpresa se nos próximos dias a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) entrar no circuito de Brasília em apoio ao candidato do MDB à presidência da Câmara Federal, o deputado paulista Baleia Rossi. Quando esteve em São Luís, na última Sexta-Feira (22), Baleia Rossi visitou a ex-governadora, que recebeu a comitiva no casarão da família no Calhau. Na conversa, ela se colocou à disposição para ajudá-lo conversando com alguns amigos que mantem no Congresso Nacional. Nada ficou acertado, mas Baleia Rossi demonstrou satisfação com a oferta.
Se entrar em campo em apoio ao emedebista, Roseana Sarney pisará um terreno que conhece muito bem, independentemente de que lá esteja, uma vez que o jogo é sempre o mesmo. Quando assessorou o então presidente José Sarney, Roseana Sarney fez muitas pontes com o meio político de então, mantendo contato com deputados federais e senadores sempre que necessário. Como deputada federal (1991-1994), atuou fortemente nos bastidores, tendo sido a coordenadora do movimento que derrubou o então presidente Collor de Mello. E como senadora, foi líder do Governo Lula no Congresso Nacional, articulando a base de apoio para votações. E só deixou o cargo para assumir o Governo do Estado com a cassação do governador Jackson Lago (PDT).
Não é possível saber se, convocada por Baleia Rossi, ela conseguiria bons resultados. É certo, porém, que ela conhece o caminho das pedras no Planalto Central.
São Luís, 27 de Janeiro de 2021.