Maranhão: com forte apoio, Lula pode aumentar votação; sem líderes, Bolsonaro pode emagrecer ainda mais

Lula da Silva deve vencer de novo Jair Bolsonaro no Maranhão

Não será surpresa se, independentemente do resultado da disputa no âmbito nacional, o ex-presidente Lula da Silva (PT) sair das urnas maranhenses com mais de 68,84% dos votos (2.603.454), podendo chegar aos 80% da votação no próximo domingo, impondo mais uma dura derrota ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que no 1º turno recebeu 26,02% (983.861) no estado. E os motivos estão muito claros: a esmagadora maioria dos maranhenses acreditam no ex-presidente Lula da Silva, não gostam do presidente Jair Bolsonaro e estão em sintonia com as principais lideranças políticas do estado – o governador reeleito Carlos Brandão (PSB), o senador eleito Flávio Dino (PSB), o vice-governador eleito Felipe Camarão (PT) e o presidente da Assembleia Legislativa o deputado estadual reeleito Othelino Neto (PCdoB), partidários do candidato petista. Já o presidente Jair Bolsonaro, além de ser rejeitado pela maioria dos eleitores maranhenses, continua com uma campanha sem líderes, feita apenas por apoiadores, que estariam se mobilizando para dar uma demonstração de força com grandes carreatas entre sexta-feira (28) e sábado (29), como fizeram na véspera do 1º turno em São Luís e em algumas das maiores cidades do estado.

A menos que haja uma reviravolta fantástica, fora de todos os níveis de previsão, o candidato do PT será o vencedor das eleições no Maranhão, e muito provavelmente com uma votação bem maior do que a que recebeu no 1º turno. Isso porque, além da afeição política que desfruta no eleitorado maranhense desde sua primeira campanha vitoriosa, em 2002 e repetida em 2006, Lula da Silva conta com sólidos aliados no estado. Atualmente, o grupo que lhe dá sustentação é a aliança articulada pelo ex-governador e senador eleito Flávio Dino e cujo comando está com o governador reeleito Carlos Brandão. O governador e o senador eleito decidiram mergulhar de cabeça na campanha do 2º turno, com a determinação de aumentar o cacife eleitoral do líder petista.

Desde a semana passada, os líderes da aliança PSB/PT/PCdoB estão comandando atos gigantescos em todo o estado, como a grande caminhada que uniu maranhenses e piauienses na Ponte da Amizade, que liga Timon (MA) e Teresina (PI); um movimento, no domingo, que reuniu uma multidão em São Luís, que começou na Avenida Litorânea e terminou sobre a Ponte José Sarney, além de gigantescos “arrastões” em cidades como Chapadinha e Coelho Neto. Uma série de atos está programada para até sábado, véspera da eleição. O clima é de visível animação, com líderes e militantes pró-Lula da Silva mostrando otimismo.

A campanha do presidente Jair Bolsonaro se dá no Maranhão por “geração espontânea”, sem a ação aberta e ostensiva de líderes, contando apenas com a movimentação de grupos formados com os esforços de apoiadores. O ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim (PSC), que ficou em segundo lugar na disputa pelo Governo do Estado com forte apoio de bolsonaristas, saiu de cena, e só depois de ser duramente cobrado, gravou declarações de apoio ao presidente no 2º turno. O deputado federal Josimar de Maranhãozinho, que comanda o PL, partido do presidente, no Maranhão, saiu de cena, fazendo de conta que sua agremiação não tem candidato ao Planalto. Homem de proa na bancada bolsonarista na Câmara Federal, o deputado federal Aluísio Mendes (PSC) não tem feito campanha ostensiva pró-Bolsonaro. Assim como eles, outros bolsonaristas, como o deputado federal não reeleito Edilázio Jr. (PSD).

E o senador Roberto Rocha, o mais assumido partidário do presidente Jair Bolsonaro, está com seu prestígio político e eleitoral tão em baixa, que prefere ganhar notoriedade tentando confrontar com o ministro-presidente do TSE, Alexandre de Moraes, que sequer se dignou a responder a sua provocação, ou seja, não lhe deu nenhuma importância. E no que diz respeito à corrida pelo voto, que é o que de fato interessa ao presidente da República nesse momento, não se soube de alguma ação de caça ao voto liderada pelo senador.

É esse o contexto que indica que todos os ventos estão soprando no sentido de que, pelo menos, a votação do 2º turno será, no mínimo, a repetição do 1º turno, podendo chegar ao aumento aspirado pelos líderes da campanha lulista no Maranhão.

PONTO & CONTRAPONTO

A guinada radical de Simplício Araújo para a extrema direita

Simplício Araújo: revelou sua identidade ideológica

Numa guinada sem precedentes na política estadual, o suplemente de deputado federal Simplício Araújo, que comanda o Solidariedade no Maranhão, saiu do grupo pró-Lula da Silva (PT), liderado pelo ex-governador e senador eleito Flávio Dino (PSB), onde passou oito anos camuflado, para mostrar agora a sua verdadeira identidade ideológica: a extrema direita, e declarar-se apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). Suplente de deputado federal duas vezes seguidas, ele ganhou a presidência do SD no Maranhão, e nessa condição participou de arranjos partidários que o levaram à Secretaria de Indústria, Comércio e Energia nos dois períodos do governador Flávio Dino. Na avaliação geral, foi um secretário ativo e realizou ali um bom trabalho, dialogando com a classe empresarial e atuando de maneira eficiente na pandemia. Todavia, numa guinada que ninguém conseguiu explicar até agora, Simplício Araújo decidiu ser candidato a governador, falando alto e ameaçando seguir outro caminho se não fosse ele o candidato do grupo dinista aos Leões. Não foi escolhido e, num outro lance destrambelhado, se lançou candidato solo, sem eira nem beira, migrando para a oposição num processo lento, confuso e absolutamente inexplicável. Ao longo da campanha, foi triturado por ele próprio, num inacreditável processo de autodestruição política. Terminou a eleição atrás de Hertz Dias (PSTU), com míseros cinco mil votos, quando poderia, se tivesse mantido a coerência, ter se elegido deputado federal. Na sua guinada, ele deu mais um passo na contramão da esmagadora maioria dos maranhenses, e aderiu ao presidente Jair Bolsonaro, com quem assumiu ter total afinidade ideológica. Onde vai parar, só o tempo dirá.

Memória

Sacada genial de João Alberto mudou o curso da eleição de 1990 entre Lobão e Castelo

João Alberto teve a sacada que minou João Castelo e elegeu Edison Lobão governador do Maranhão em 1990

Em 1990, portanto há 32 anos, o Maranhão assistiu a uma virada espetacular na disputa para o Governo do Estado.

De um lado, estava o senador João Castelo (PDS), embalado pela força avassaladora do então presidente Fernando Collor (PRN), que naquele momento era o todo-poderoso da política nacional. Do outro, o senador Edison Lobão (PMDB), apoiado pelo governador João Alberto e pelo ex-presidente José Sarney (PMDB), que estava em baixa, tentando eleger-se senador pelo Amapá, já que o PMDB lhe negara vaga no Maranhão.

Com a força de Collor e embalado pelo slogan “Agora é Castelo”, lançado por um comercial convincente, no qual o prestigiado ator Lima Duarte completava dizendo que a “mudança só depende de nós”, João Castelo liderou todo o 1º turno. Lobão, por sua vez, fez a campanha possível, apostando numa virada improvável no 2º turno.

Divulgados os resultados, a cúpula da campanha de Edison Lobão se reuniu à noite na residência de veraneio do governador, em São Marcos, para analisar o cenário e tomar decisões.

Liderada pelo ex-presidente José Sarney, que havia sido eleito senador pelo Amapá, a reunião começou tensa, com uma discussão acirrada sobre o que fazer. Em meio ao clima pesado, o governador João Alberto pediu a palavra, todos se calaram, e ele disparou:

– O slogan da campanha é “Agora é Lobão”.

Todos aprovaram com entusiasmo, pois a ideia resolveu metade dos problemas da campanha. Além de firmar o slogan demolidor, a cúpula decidiu, já por volta da meia-noite, que o “Agora é Lobão” deveria amanhecer nos muros mais visíveis de São Luís e de algumas cidades, como Imperatriz, por exemplo.

Foi um corre-corre, mas o fato é que o “Agora é Lobão” amanheceu em muitos muros, principalmente em São Luís, desnorteando fortemente a campanha de João Castelo, que pretendia prosseguir com o slogan “Agora é Castelo”, mas o viu prejudicado.

Houve reações iradas na cúpula castelista, protesto registrado na Justiça Eleitoral, tentativa de apagar o que fora pintado nos muros. Nada, porém, foi suficiente para mudar o curso da campanha de Edison Lobão, agora turbinada por um slogan de poder avassalador.

O resultado foi que o genial insight do governador João Alberto turbinou a campanha de Edison Lobão, que virou o jogo e venceu a eleição por boa margem.  

São Luís, 25 de Outubro de 2022.      

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