Encerrada a chamada “Era Flávio Dino” na política do Maranhão – ainda que haja uma crença generalizada de que ele retornará -, a grande pergunta que se faz é sobre a nova composição do tabuleiro político estadual. A grande aliança partidária que hoje dá sustentação ao Governo estadual se manterá intacta? Existe a possibilidade de uma recomposição ou a tendência é uma divisão cada vez maior dos grupos políticos. E, finalmente, quem será o grande catalizador dessas forças? O fato é que, desde a noite de quinta-feira, o Maranhão político começou a se mover em busca de um novo formato, e respostas que parecem óbvias poderão mudar radicalmente, pois a dinâmica da política é tão intensa que previsões descuidadas poderão facilmente perder sentido na poeira dos movimentos que estão por vir.
No cenário do momento, não há que discutir que a bola está com o governador Carlos Brandão (PSB), que tem nas mãos os decisivos e convincentes instrumentos de poder, e que vem usando de surpreendente habilidade para manter intacta sua base de sustentação. Não parece haver dúvida também de que o passo seguinte será a eleição do atual vice-governador Felipe Camarão (PT) como o caminho para que esse grande grupo se mantenha no poder por algum tempo depois das eleições de 2026.
A grande cadeia de movimentos se dará nas lideranças de ponta, que hoje controlam partidos e se preparam para mirar o Palácio dos Leões. Nesse contexto tentarão chegar ao poder máximo líderes da grande aliança governista, do discreto espaço de meio-de-campo e da oposição estilhaçada em diversas correntes.
Na banda governista, qualquer relação sensata incluirá o ministro do Esporte André Fufuca (PP), o ministro das Comunicações Juscelino Filho (UB), a senadora Eliziane Gama (PSD) – atual vice-líder do Governo no Congresso Nacional, e a senadora Ana Paula Lobato (PSB) –considerando que a titularidade do mandato lhe deu poder de fogo, mas sabendo que sua consolidação como liderança influente ainda é uma base em construção. Num plano intermediário estão os deputados federais mais influentes da ala governista Duarte Jr. (PSB) – que se prepara para disputar a Prefeitura de São Luís e mudará de patamar se for eleito -, Márcio Jerry (PCdoB), Rubens Jr. (PT), Fábio Macedo (Podemos). E nomes com espaço consolidado, como é o caso da presidente da Assembleia Legislativa Iracema Vale (PSB) e o ex-presidente da Casa, deputado Othelino Neto (PCdoB).
No chamado meio de campo, que pode pesar tanto para a seara governista quanto para a oposição, está o senador Weverton Rocha, presidente do PDT no Maranhão, que ao longo dos últimos meses vem se repaginando, tentando se livrar da pecha de traidor redimido e se credenciando como herdeiro do dinismo.
E na oposição não há dúvida de que o grande nome é o prefeito de São Luís Eduardo Braide (PSD), cujo cacife aumenta em larga escala se for contemplado com a reeleição, o que é uma possibilidade real, segundo pesquisas feitas até aqui, que o apontam como líder incontestável. Nesse campo, a figura mais próxima de um líder é o deputado federal Josimar de Maranhãozinho, que além de campeão de votos, controla uma mines, mas fiéis, bancadas na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa. Outros nomes da oposição podem ganhar espaço, como o bolsonarista Lahesio Bonfim (Novo), que mantém pelo menos uma fatia do que ganhou em 2022. Na mesma linha, mas um pouco mais distante, a oposição tem o ex-senador Roberto Rocha, que depois de profundo mergulho no anonimato anda ensaiando retorno à ação política.
Alguns leitores mais atentos observarão que a Coluna já desenhou esse cenário. É verdade. E ele será desenhado muitas vezes de agora por diante, quando, colocadas no tabuleiro da disputa pelo Poder, as suas peças-chave começarão de fato a travar a grande guerra política pelo espaço aberto com o fim da “Era Flávio Dino”.
PONTO & CONTRAPONTO
Situações incômodas criaram rota de colisão entre o TJ e o MPE
O Caso Alessandro Martins e outros desentendimentos sem maiores consequências colocaram o Tribunal de Justiça e o Ministério Público estadual em rota de colisão. O estopim foi aceso quarta-feira na sessão administrativa do Tribunal Pleno, quando os ataques do empresário Alessandro Martins a três desembargadores – Paulo Velten, Cleones Cunha e Oriana Gomes – repercutiu fortemente na Corte, com parte dos integrantes cobrando providências duras contra o empresário falastrão.
O que, de fato, acendeu o pavio na relação TJ/MP foi a suspeita de que ações – entre elas uma do presidente Paulo Velten – não estariam andando porque alguns juízes e alguns promotores saltaram a fogueira dando-se por impedidos para não assumir processos envolvendo o empresário contra desembargadores.
De acordo com um magistrado, o clima que tomou conta do Tribunal Pleno naquele dia colocou em situação incômoda a representante do MP. Depois disso, vieram notas e contranotas, entrevistas e declarações enfáticas, principalmente do MP, mais colocando lenha na fogueira do que apagando o princípio de incêndio.
Nas últimas horas, vários “bombeiros” tentaram apagar o incêndio, sem sucesso, pelo menos por enquanto.
Enquanto isso, o empresário Alessandro Martins, que está em prisão preventiva, sentiu-se mal e foi levado para uma UPA, onde permanecia até o final da tarde de ontem, sob forte vigilância. Coincidência ou não, a Justiça mandou bloquear as contas milionárias do empresário, preocupada, segundo um advogado, com uma possível fuga de Alessandro Martins.
A preocupação vem do fato de que em 2010, quando a bomba contra seu esquema de venda de carros estourou, denunciado por outros empresários do ramo, ele fugiu de São Luís e só semanas depois foi presido no Rio de Janeiro. Faz todo sentido supor que agora, numa situação tão ou mais complicada do que aquela, o empresário use de novo o seu dinheiro para sumir do mapa.
A diferença da situação agora é que, tudo indica, ele tem sérios transtornos de personalidade, o que torna o caso muito mais complicado e potencialmente explosivo.
Aposentadoria de Washington Oliveira do TCE abre corrida especulativa
O pedido de aposentadoria do conselheiro Washington Oliveira do Tribunal de Contas do Estado desencadeou uma frenética onda de especulação nos bastidores do Governo do Estado. Essa onda aumentou expressivamente depois que, judicialmente impossibilitado de integrar a lista tríplice de candidatos à vaga de desembargador, formulou sua renúncia a esse pleito.
A especulação desenfreada se deu em duas frentes. Em relação à vaga de desembargador vieram à tona diversos nomes, inclusive o da advogada Ana Brandão. Já em relação à de conselheiro do TCE, a especulação com maior repercussão foi a de que o governador Carlos Brandão teria batido martelo escolhendo exatamente o advogado Flávio Costa, que, muitos afirmam, seria o seu escolhido para a vaga de desembargador.
Washington Oliveira poderia se aposentar no final do ano, mas o faz na condição de servidor público-federal, já que, tendo tempo suficiente para aposentar-se, resolveu antecipar o pedido do direito à folga para o resto da vida. A onda de especulação fez uma transformação radical na vida de Washington Oliveira: ele sairá da poderosa e influente cadeira de conselheiro do TCE para se tornar secretário-adjunto da Representação do Maranhão em Brasília.
Em outras frentes surgiram vários nomes, mas a investida mais estridente foi feita pelo ex-deputado Stênio Rezende, que sugeriu o nome da deputada Andreia Rezende (PSB), sua mulher, que é formada em Odontologia, lembrando o fato de que seria mais uma mulher na Corte de Contas, que quebrou a dominação masculina com a nomeação da promotora de Contas, Flávia Gonzalez, para vaga de conselheira.
Até onde é sabido, o governador Carlos Brandão nada declarou sobre o assunto.
São Luís, 25 de Fevereiro de 2024.