Famem: briga de Ricardo Murad com Gil Cutrim sacode a entidade e abre discussão sobre sua utilidade

 

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Gil Cutrim e Ricardo Murad em confronto pela Famem

A decisão da prefeita de Coroatá, Tereza Murad (PMDB), de se desfiliar dos quadros da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (Famem) e, assim, afastar o município da organização, também propondo a criação de uma nova entidade estadual congregadora de municípios não teve grande repercussão nem algum efeito prático até aqui. Mas, observada com um pouco mais de cuidado, a iniciativa da prefeita de Coroatá é muito mais do que um devaneio do líder político que lhe orienta, o ex-deputado Ricardo Murad – para muitos o prefeito de fato de Coroatá. O gesto estimula um olhar mais atento sobre a Famem de agora, que não se tornou de fato um porta-voz de peso dos prefeitos maranhenses, mas em determinados momentos teve participação importante na vida política e administrativa do estado, como a recente 1ª Marcha dos Prefeitos do Maranhão. Murad bate forte afirmando que a Famem é uma entidade fraca, sem iniciativa e que nem de longe representa os prefeitos maranhenses, a começar pelo fato de que não lhes presta um bom trabalho de assistência.

Mesmo isolado, o ato da prefeita de Coroatá atingiu em cheio o presidente da entidade, Gil Cutrim, prefeito de São José de Ribamar. Fortes evidências apontam para o fato de que se trata de uma guerra entre Ricardo Murad e Gil Cutrim, mas o fato é que a iniciativa da mulher do primeiro, obviamente concebida e preparada pelo ex-deputado, mexeu com os pilares da atual gestão e desencadeou uma forte onda de rumores entre os prefeitos de todo o estado. Em princípio, não aconteceu a onda de apoio que Ricardo Murad provavelmente esperava, tanto em relação ao gesto da prefeita Tereza Murad, quanto no que diz respeito ao à proposta de criar uma nova entidade.

Os questionamentos em relação à Famem não são de agora. A entidade foi criada no início dos anos 80, num movimento liderado pelo então jovem prefeito de Lago da Pedra, Waldir Jorge, com o apoio de um grande grupo, do qual faziam parte Ribamar Fiquene, então prefeito de Imperatriz, Aroso (Paço do Lumiar), Valdivino Cabral (Santas Inês), Napoleão Guimarães (Timon), Wellington Coelho (Buriti Bravo), Mercial Arruda (Grajaú), todos integrantes de um grande grupo liderado pelo então governador Luiz Rocha (PDS), que incentivou fortemente a criação do rebento municipalista. Tanto que o próprio Rocha criou na época a Secretaria de Apoio aos Municípios, destinada a oferecer orientação técnica sobre administração municipal. A ligação do governador Luis Rocha com a Famem foi tão forte que muitos anos depois ele próprio presidiria a entidade como prefeito de Balsas.

De lá para cá, a entidade viveu altos e baixos, com gestões que lhe deram importância política e outras que a afundaram no marasmo. Quando, em 1989, assumiu a Prefeitura de São Luís, por exemplo, Jackson Lago se recusou a se filiar à Famem, por entender que, em vez de apoiar os prefeitos, mantendo-os mobilizados em causas comuns, a entidade teria nascido para se tornar mais um braço político do Grupo Sarney. Essa acusação foi mantida pela oposição porque a esmagadora maioria dos 136 prefeitos da era formada por membros do PDS, partido que formava a base do grupo liderado pelo então senador José Sarney.

O fato é que a Famem até hoje não cumpriu efetivamente o seu objetivo de representar os prefeitos maranhenses no sentido de encampar as suas causas, tornando-se porta-voz da categoria. Mas também não se pode afirmar que se trata de uma entidade inútil. Em tempos recentes, foi transformada em trampolim por alguns presidentes, que a usaram para capilarizar seus projetos políticos visando voos eleitorais mais altos, a exemplo de Paulo Marinho (PMDB), que presidiu a entidade com foco num projeto político que o levaria ao Senado, mas que o levou à Câmara Federal, e, mais recentemente, do prefeito de Itapecuru Mirim, Júnior Marreca (PEN), que se elegeu deputado federal.

A guerra a Gil Cutrim declarada por Ricardo Murad exibe todas as evidências de que os dois veem na entidade um instrumento político importante para turbinar projetos pessoais de médio e longo prazo. Sem os traços de um líder político genuíno e carismático, o prefeito Gil Cutrim vislumbra seguir na carreira provavelmente como candidato a deputado federal. Já Ricardo Murad, sem espaço no PMDB, tenta encontrar uma estrutura partidária ou corporativa que lhe dê discurso e visibilidade. É fato que ao encerrar seu mentado, Gil Cutrim não deixará a entidade maior e mais influente. Como também fato que o projeto de Ricardo Murad de criar uma nova entidade municipalista não sairá do papel.

 

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

Pré-candidatos definidos

A ciranda que vem movendo as forças políticas para a corrida eleitoral visando a Prefeitura de São Luís tem sido marcada por indefinições partidárias que aos poucos vão se resolvendo de modo a que o quadro de pré-candidatos esteja perfeitamente definido em abril do ano que vem, quando será fechada a janela para o troca-troca partidário. Até aqui, entre os pré-candidatos assumidos, só quatro estão prontos para entrar na briga: o prefeito Edivaldo Jr. (PDT), a deputada federal Eliziane Gama (Rede Sustentabilidade), a vereadora Rose Sales (PV) e o médico João Bentivi (PRTB). Entre outros prováveis candidatos, o único que ainda não tem situação partidária definida é Ricardo Murad, que deve continuar no PMDB e, diz alguns, a vaga de candidato a prefeito num grande acordo interno.

 

Oposição assumida

jose-reinaldo 5O deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB) assumiu mesmo a condição de oposicionista em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff. Essa posição vem ficando cada vez mais clara e enfática nos artigos que o ex-governador publica às terças-feiras no Jornal Pequeno, nos quais critica duramente o governo central e manifesta quase convicção de que o governo perdeu o controle da situação. Na semana passada, seguindo orientação do seu partido, José Reinaldo votou contra o projeto de lei que fixou regras para a repatriação de dinheiro tirado do país sem dar satisfação à Receita Federal.

 

São Luís, 14 de Novembro de 2015.

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