Ao mesmo tempo em que é totalmente despida de fundamento, a guerra travada entre si pelos deputados estaduais Neto Evangelista (DEM) e Duarte Jr. (PCdoB) na Assembleia Legislativa tem uma motivação mais que justificada: a Prefeitura de São Luís. Não existe esse enredo segundo o qual Duarte Jr. teria “copiado” projetos de colegas deputados, entre eles um de Neto Evangelista. O que está em curso é uma estratégia bem urdida com o objetivo de “queimar o filme” do jovem deputado do PCdoB, de modo a fragilizar o seu projeto de chegar ao Palácio de la Ravardière. O enredo está ganhando volume porque, ao contrário do que imaginavam seus concorrentes, Duarte Jr. está se revelando politicamente competente e duro na queda, tendo conseguido até aqui absorver a pancadaria e seguir em frente. Mesmo sabendo que muitos petardos apontados na sua direção estão a caminho.
Jovens e advogados. As semelhanças entre Neto Evangelista e Duarte Jr. terminam exatamente aí. Os dois têm origem muito diferentes e entraram na política por portas nada parecidas. O primeiro nasceu, cresceu e se fez político na base familiar, assumindo com determinação a sua condição de herdeiro. O segundo se tornou político numa surpreendente trajetória de esforço pessoal, exibindo visão apurada, sendo de oportunidade e muita determinação.
Neto Evangelista chegou ao primeiro mandato já tarimbado e embalado por uma poderosa retaguarda familiar, e com o desafio de cuidar do importante legado político deixado pelo pai – o deputado João Evangelista -, está no terceiro mandato, já foi candidato a vice-prefeito de São Luís pelo PSDB (2012), na chapa liderada pelo então prefeito João Castelo e derrotada pelo atual prefeito Edivaldo Holanda Jr.. E aprofundou seus laços com São Luís como secretário de Desenvolvimento Social, cuidando dos restaurantes populares e de outros programas no primeiro Governo Flávio Dino. Ou seja, Neto Evangelista sabe tudo o que deve e pode e o que não deve e não pode fazer para ser prefeito de São Luís. Tanto que, agora no DEM, conta com o apoio do seu partido e do poderoso e implacável suporte do PDT, e um “nada contra” do Palácio dos Leões.
Duarte Jr. fez um caminho totalmente diferente. Professor de Direito e advogado militante, entrou no mundo político sem lenço, sem documento e sem lastro familiar. Levado para o Procon pelo advogado Felipe Camarão, que o deixou no comando quando se tornou secretário de Administração, deu uma guinada de muitos graus no órgão, transformando-o numa referência de gestão eficiente, tanto que ganhou também do governador Flávio Dino o comando do Mais Cidadão. Paralelamente, ocupou espaço enorme nas redes sociais, onde formou uma legião de seguidores fiéis. Saiu do Procon para ser candidato a deputado estadual pelo PCdoB e estourou nas urnas como o terceiro candidato mais votado em 2018, apresentando todas as características de um político de largo futuro.
Na Assembleia Legislativa, os dois integram a base do Governo, mas individualmente trilham caminhos diferentes. Neto Evangelista joga com a experiência no xadrez parlamentar e foi premiado por seu partido com a presidência da poderosa Comissão de Constituição e Justiça, o que lhe dá um enorme cacife. Duarte Jr. tem se dedicado a fazer um mandato propositivo, mas comprou boas brigas, levando seus contendores a tentar qualificá-lo pessoal e politicamente, tendo ele reagido na medida e sobrevivido ao tiroteio.
E a explicação para o embate entre Neto Evangelista e Duarte Jr. está nas pesquisas que têm feito as primeiras medições da corrida ao Palácio de la Ravardière. Até agora, todas indicaram que Duarte Jr. é o nome mais forte na base governista para enfrentar o franco favorito Eduardo Braide (PMN). Mas está muito claro que Neto Evangelista está determinado a virar esse jogo. E por isso não será surpresa se a pancadaria continuar.
PONTO & CONTRAPONTO
Dr. Yglésio propõe PEC que permitirá sociedade propor mudanças na Constituição do Estado
A Assembleia Legislativa deve votar em breve uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que legitima proposições de iniciativa popular para emendar a Constituição do Estado, dando à Carta maranhense uma conotação fortemente cidadã. Arrojada pela complexidade do conteúdo, a proposição, de autoria do deputado Dr. Yglésio (PDT), é também inovadora quando dá à sociedade, no seu todo ou em parte, um protagonismo que pode ser determinante para o futuro do estado. O projeto recebeu ontem o aval da Comissão de Constituição e Justiça a partir de parecer favorável do relator, deputado César Pires (PV). “Com a aprovação dessa PEC, a Constituição do Maranhão pode ser considerada agora uma constituição cidadã, porque dá prerrogativa para o povo fazer modificação em sua Carta Magna”, justifica, com precisão, Dr. Yglésio, um médico de sólida formação política, que começa a transformar a sua atuação parlamentar discreta na construção de um mandato inteligente e produtivo, com identidade ideológica, traços doutrinários e linha programática. Ele reforça sua argumentação lembrando que, atualmente, a sociedade já pode ser protagonista no Parlamento, com a apresentação de projetos de leis comuns. Se vier a ser aprovada pelo plenário, a PEC ampliará, radicalmente, o papel da sociedade na consolidação das instituições políticas do Maranhão. Boa iniciativa.
Flávio Dino age com bom senso como um dos líderes da Carta Aberta contra a liberação do porte de arma
Correta e sustentada no bom senso a posição do governador Flávio Dino (PCdoB) de se posicionar como um dos líderes do movimento que resultou na assinatura, por 14 governadores da Carta Aberta ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), pedindo que ele próprio revogue o decreto presidencial por meio do qual liberou ampla e perigosamente o direito à posse e ao porte de armas de fogo no País. Na Carta, os governadores de Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins demonstram que a iniciativa presidencial, além de inconstitucional, abre caminho para o aumento da violência no País, permitindo que a violência se alastre e crie uma situação de difícil de controlar. Segue, na íntegra, a Carta Aberta, com a torcida para que o presidente a leia, reflita e volte atrás nessa loucura que está fazendo com que os donos e acionistas da Taurus estoure um champanhe atrás da outra:
Carta dos Governadores sobre o Decreto Presidencial n. 9.785 (07 de maio de 2019) e a Regulação Responsável de Armas e Munições no País
Como governadores de diferentes estados do país, manifestamos nossa preocupação com a flexibilização da atual legislação de controle de armas e munições em razão do decreto presidencial n. 9.785 (07 de maio de 2019) e solicitamos aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da União que atuem tanto para sua imediata revogação como para o avanço de uma efetiva política responsável de armas e munição no país.
Sabemos que a violência e a insegurança afetam grande parte da população de nossos estados e que representam um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento humano e econômico do Brasil. Nesse contexto, a grande disponibilidade de armas de fogo e munições que são usadas de maneira ilícita representa um enorme desafio para a segurança pública do país e é preciso enfrentá-lo.
Por essa razão, é urgente a implementação de ações que melhorem a rastreabilidade das armas de fogo e munições durante toda a sua existência, desde sua produção. Também é fundamental aumentar os meios de controle e fiscalização para coibir os desvios, enfrentar o tráfico ilícito e evitar que as armas que nascem na legalidade caiam na ilegalidade e sejam utilizadas no crime. Reconhecemos que essas não são soluções mágicas, mas são condições necessárias para a melhoria de nossa segurança pública.
Diante deste cenário, e a partir das evidências disponíveis, julgamos que as medidas previstas pelo decreto não contribuirão para tornar nossos estados mais seguros. Ao contrário, tais medidas terão um impacto negativo na violência – aumentando por exemplo, a quantidade de armas e munições que poderão abastecer criminosos – e aumentarão os riscos de que discussões e brigas entre nossos cidadãos acabem em tragédias.
As soluções para reverter o cenário de violência e insegurança no país serão fortalecidas com a coordenação de esforços da União, Estados e Municípios para fortalecer políticas públicas baseadas em evidências e para implementar o Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, fortalecendo a prevenção focalizada nas populações e territórios mais afetados pela violência e a repressão qualificada da criminalidade.
Reforçamos nosso compromisso com o diálogo e com a melhoria da segurança pública do país. Juntos, podemos construir um Brasil seguro para as atuais e futuras gerações.
São Luís, 22 de Maio de 2019.