Em meio ao grande debate que se arma para as eleições de outubro, quando a democracia brasileira, restaurada em 1985, com a queda da ditadura militar, viverá o seu maior desafio, a eleição para a presidência da Fecomércio, realizada, ontem, em São Luís, se analisada na dimensão adequada, mostrou com clareza a noção de democracia vigente nas entranhas de organizações que movimentam orçamentos robustos, como a Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (Fiema) e da Federação Maranhense de Futebol (FMF), para citar apenas dois exemplos. Na Fecomércio, eleito por unanimidade, o empresário Maurício Feijó sucederá ao empresário José Arteiro da Silva, que está no cargo desde a década de 80 do século passado, tornando-se o mais longevo chefe de entidade empresarial no Maranhão, batendo em mais de uma década o lendário empresário Alberto Abdalla, que comandou a Fiema por mais de três décadas. Esse tipo de liderança “fenomenal” está sendo mantido na FMF, onde o advogado Antônio Américo desembarcou há uma década para um mandato-tampão de meses, gostou demais das “agruras” do futebol maranhense e permanece no cargo até hoje, sem emitir o menor sinal de interesse de voltar para a militância na advocacia.
A eleição do empresário Maurício Feijó para a presidência da Fecomércio pode ter iniciado um ciclo de mudanças na natureza política dessas organizações. Ele não parece ser o presidente que vai se transformar em cacique e armar uma situação que lhe assegure sucessivos mandatos e o controle absoluto da máquina sob seu comando, o que pode indicar que a entidade inicie de fato um ciclo de saudável alternância no poder, com a possibilidade de interromper a trajetória de caciques que não querem passar o cocar. Seu antecessor, o empresário José Arteiro, assumiu a presidência da Fecomércio em 1983, há 39 anos, portanto, virou o século e, pelo que se comenta nos bastidores, só vai passar o bastão porque não teve mais como viabilizar o que seria sua décima eleição consecutiva. Nesses mais de 14 mil dias de poder, José Arteiro comandou o Serviço Social do Comércio e o Serviço Nacional do Comércio no Maranhão, duas engrenagens importantes e influentes na vida do estado. Se não se deixar seduzir pelo poder e suas vantagens – salário gordo, mordomias, viagens frequentes para o Rio de Janeiro, melhores hotéis, e por aí vai -, seu tempo de permanência no cargo será de no máximo dois mandatos.
O ciclo encerrado ontem na Fecomércio está em pleno andamento na Fiema, berço maior desse tipo de caciquismo no Maranhão, e cujo maior símbolo foi o empresário Alberto Abdalla. Desmanchada nos primeiros anos da ditadura militar, a Fiema foi ressuscitada em 1968 pela própria ditadura com a ação de um grupo de empresários liderados por Alberto Abdalla. Ele se elegeu presidente, sentou praça e deu as cartas na entidade por mais de três décadas, encerrando seu mandato em 2000, exatamente na virada do século. Durante uma década, a Fiema, que reúne 24 sindicatos da área industrial, foi comandada por empresários sem liderança, situação que mudou em 2009, quando o empresário Edilson Baldez das Neves, que presidira por vários anos o Sindicato da Construção Civil, foi eleito presidente da entidade com discurso de renovação. Sua eleição se deu em meio a uma crise na entidade, que resultou numa mudança de estatuto, com a limitação de dois mandatos – eleição e reeleição. Tão logo se consolidou no poder, Edilson Baldez cuidou de refazer o estatuto e garantir o direito de se reeleger sem limite. Atualmente, não existe na Fiema – engrenagem que controla o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi) no Maranhão – o menor sinal de alternância no comando.
A “cultura” do caciquismo longevo em organizações que concentram muito poder e movimentam muito dinheiro vai além das entidades empresariais e alcança o futebol maranhense. O atual presidente da FMF, Antônio Américo Lobato Gonçalves, um advogado que desembarcou no cargo em 2011, tomou gosto pelo que encontrou, se tornou um sacerdote pela causa futebolística maranhense, e lá permanece até hoje – seu novo mandato de quatro anos lhe foi dado em fevereiro deste ano. Antônio Américo chegou ao poder na FMF em meio à crise causada pelo “impeachment” do então presidente Alberto Ferreira, que comandou a organização por quase três décadas e que acabou acusado de desmandos e desvios. Envolvido com as encrencas judiciais da entidade, o causídico encontrou um jeitinho de se tornar presidente para um mandato tampão, preparou terreno, se “reelegeu” e não saiu mais do cargo, para o qual não tem concorrente, pelo menos no momento.
A eleição na Fecomércio pode ser o primeiro passo para que a cultura da alternância alcance as organizações ainda dominadas pelo caciquismo.
PONTO & CONTRAPONTO
Roseana terá Detinha como concorrente forte na disputa por vaga na Câmara Federal
A ex-governadora Roseana Sarney (MDB) não pode demorar para retomar seus movimentos em direção às urnas, as quais vai encarar como candidata a deputada federal, o objetivo de retornar ao Congresso Nacional e sair do leito com uma votação expressiva capaz de “puxar” outros candidatos emedebistas. É que corre nos bastidores que o deputado federal Josimar der Maranhãozinho (PL) está investindo pesado para fazer da deputada estadual Detinha (PL) dona da maior votação entre os eleitos para a Câmara Federal. Isso significa dizer que o chefe do PL pretende que Detinha seja campeã de votos, como ele o foi em 2018, quando saiu das urnas com mais de 190 mil sufrágios. Ninguém duvida de que a ex-governadora tem cacife para sair das urnas com o campeonato.
Roberto Rocha ainda indefinido sobre mandato que disputará
Perguntaram ao senador Roberto Rocha (PTB) qual mandato ele vai disputar. Ele respondeu que ainda não sabe e que sua única certeza até aqui é que será um mandato majoritário – governador, senador ou vice-governador. Nos bastidores corre que o senador fixou o mês de maio como período limite para bater martelo.
São Luís, 27 de Abril de 2022.