O governador Flávio Dino (PCdoB) está atuando na crise política que assola o País como um político adulto, centrado e, portanto, coerente, e com todas as possibilidades de sair-se bem e fortalecido para seguir em frente como uma liderança nacional acreditada? Ou está se deixando levar pelo que resta nele do militante estudantil, impulsionado pelas contradições do infantilismo de esquerda, atuando nesse cenário como um político imaturo, tomado pelo radicalismo e correndo todos os riscos de trombar com a realidade e ser jogado para fora da cena? São indagações que observadores tarimbados estão formulando, sem ousar ainda formar um juízo de valor definitivo sobre o assunto. O fato é que, com a bagagem de quem foi militante estudantil de ponta, tornou-se professor de constitucionalismo, ganhou projeção nacional como juiz federal, ocupou grande espaço no meio político como um deputado federal acima da média como político e como legislador e entrou para a elite política do País ao se eleger governador do Maranhão, Flávio Dino encontra-se no olho do furacão da crise como um dos principais aliados da presidente Dilma Rousseff (PT), cujo mandato defende com o bordão segundo o qual o impeachment “é golpe”. Revelou, enfim, um político que toma decisões, sujeito a aplausos entusiasmados e críticas duras.
Todas as situações que protagonizou até agora como o mais ativo e contundente aliado da presidente da República entre os governadores – incluindo os do PT – apontam para a conclusão de que o governador do Maranhão sabe perfeitamente o que está fazendo e certamente calculando como e quais serão os desdobramentos das suas ações. Os que se propõem a analisar os seus atos e o seu discurso devem estar bem atentos, porque, ao contrário do que já sinalizaram algumas interpretações equivocadas, Dino está rigorosamente focado em apenas dois vetores da crise: a defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff, que está ameaçado por um processo de impeachment para muitos inconsistente por não haver base nos motivos da denúncia – decretos de suplementação orçamentária sem numeração; e as chamadas pedalas fiscais. Na sua interpretação, a presidente da República não cometeu nenhum dos crimes de responsabilidade dos quais está sendo acusada, o que dá ao impeachment a natureza de golpe. Além disso, o ex-juiz federal tem feito críticas pontuais a decisões do juiz Sérgio Moro no contexto da Operação Lava Jato.
Em nenhum dos inúmeros pronunciamentos que fez desde que entrou de cabeça na defesa da presidente Dilma Rousseff o governador do Maranhão defendeu o Governo do PT ou pronunciou alguma frase contra as investigações que têm levado muitos líderes petistas e grandes empresários amasiados com o partido para detrás das grades sob a acusação de desviar dinheiro público nos inacreditáveis e inaceitáveis esquemas de corrupção como “mensalão” e “petrolão”. Ao contrário, tem repetido uma espécie de catilinária na qual vocifera contra os esquemas de corrupção e defende o aprofundamento das investigações, a identificação e a condenação dos corruptos com penas pesadas e exemplares. Não pode, portanto, ser acusado de defender corruptos, já que contra a presidente Dilma Rousseff não pesa qualquer acusação de malfeito criminoso com o dinheiro público. “Eu defendo o mandato de uma presidente honesta e honrada”, tem dito o governador.
O outro dado forte do seu discurso é uma coerente e insistente proposta de um grande diálogo envolvendo todas as correntes com o objetivo de superar a crise política e, na esteira desse resultado, criar as condições para superar a crise econômica. Nesse item, falam, ao mesmo tempo, o líder político e o governador. O líder político se expõe com as condições para ser um interlocutor das esquerdas com as oposições, que formam um arco político e ideológico que vai do centro à extrema direita. E como os grandes porta-vozes do PT para essa interlocução saíram de cena – como José Dirceu, por exemplo, que está na cadeia acusado de corrupção e jurando inocência -, Dino desponta como a mais acreditada liderança dessa corrente político-partidária, podendo tornar-se o seu porta-voz numa ampla interlocução, consolidando e ampliando assim o espaço que já ocupa no primeiro plano da política brasileira.
O sucesso político não pode, por outro lado, ofuscar o gestor público, porque um não terá razão de ser se o outro fracassar. Isso significa dizer que, se pretende mesmo dar passos largos no estado e além das suas fronteiras, terá de transformar o Maranhão, ou, pelo menos, fincar bases visíveis para que o processo de transformação seja continuado e irreversível. No comando de um estado pobre, Flávio Dino sabe que nesta quadra de crise assoladora terá de brigar muito para conseguir os recursos necessários à concretização de um plano de governo ousado em todos os seus aspectos. Se não der a virada com a qual se comprometeu enfrentará problemas para dar a devidas substância ao político que enxerga e quer chegar longe. Nesse caso, o cacife de jovem líder que destronou o sarneysismo nas urnas e o de governador desassombrado e consciente que peitou os inimigos do mandato da presidente Dilma Rousseff será emagrecido se não estiver composto com o de gestor competente e inovador, que leve na bagagem uma convincente relação de bem-feitos.
Em relação às questões iniciais o mais sensato e honesto é o governador Flávio Dino é a soma de tudo o que foi, e que no caso ele tem se mostrado o político focado, pés no chão e coerente com a sua visão de mundo, como também carrega a impulsão saudável que conserva nas suas ações os traços de um enfant terrible.
PONTO & CONTRAPONTO
Em ato político inusitado, Dino homenageia deputados federais que votaram contra o impeachment da presidente Dilma
Foi um ato diferente, inusitado, até mesmo difícil de definir ou classificar dentro lógica política, porque de cara o entendimento é o de que, tecnicamente, os homenageados foram derrotados no final das contas. Mas o fato é que o governador Flávio Dino em ato realizado ontem à noite no auditório Fernando Falcão, da Assembleia Legislativa, homenageou deputados federais que votaram contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, na polêmica sessão legislativa, que certamente entrará para a História como um dos momentos mais controversos do parlamento brasileiro. Uma leitura mais ampliada do ato de ontem indica que o governador Flávio Dino quis mandar um recado, a quem interessar possa, que ele e seu partido não se conformaram com autorização dada pela Câmara Federal para que o Senado processe e julgue a presidente Dilma Rousseff e vão continuar a gritar em tom de denúncia contra “o golpe” . Receberam os afagos do governador e seu grupo os deputados Waldir Maranhão (PP), o polêmico 1º vice-presidente da Câmara Federal; Rubens Jr. (PCdoB), que teve papel importante nos esforços dos aliados da presidente Dilma para evitar o pior; Weverton Rocha (PDT), líder da bancada do seu partido na Câmara e que teve também papel destacado na batalha do impeachment, e Zé Carlos (PT), que incorporou com firmeza o discurso do seu partido contra “o golpe”.
Boa vontade de Caxias mata sede de Bacabal
As boas relações entre políticos de orientações diferentes ás vezes produzem situações inusitadas e saudáveis. Ontem, a pedido do deputado Roberto Costa (PMDB), o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho (PDT) intermediou a solução de um problema que há mais de uma semana vinha infernizando a população de Bacabal. Sensibilizado com a denúncia feita por Roberto Costa segundo a qual a população de Bacabal estava há mais de uma semana sem uma gota de água nas suas torneiras devido à pane numa bomba d`água. Envolvido com os problemas da cidade que pretende administrar a partir do ano que vem, o deputado Roberto Costa vinha tentando, sem sucesso, solucionar o problema, até que tomou conhecimento de que havia uma bomba de reserva em Caxias, que tem um bem estruturado serviço autônomo de abastecimento de água, o SAAE, que não tem qualquer relação com a Caema. De imediato expôs a situação ao presidente Humberto Coutinho, tio do prefeito de Caxias, Leo Coutinho. Sensibilizado com o relato de Roberto Costa, Humberto Coutinho intermediou a negociação por meio da qual a Prefeitura de Caxias cedeu, como doação, a bomba à Prefeitura de Bacabal. Com o gesto do prefeito de Caxias intermediado pelo presidente da Assembleia Legislativa, população de Bacabal terá restabelecido o abastecimento de água a partir de amanhã. “O Roberto Costa é muito ligado a mim, é meu amigo particular e ele estava chocado com o estado de calamidade que a cidade de Bacabal está passando. Dez dias sem uma gota d’água no cano”, lembrou. “Como Caxias tem uma boa estrutura, entrei em contato com a Prefeitura. Lá tinha uma bomba reserva que resolve o problema de Bacabal. Caxias está doando uma bomba de 100 cavalos para Bacabal, além dos técnicos capacitados para a instalação. Tudo a pedido do deputado Roberto Costa, que está muito apreensivo com o estado de calamidade pública. Porque água é vida”, enfatizou. O deputado Roberto Costa observou que a precariedade no abastecimento de água é um problema grave em Bacabal. “A pane na bomba que capta água do rio Mearim deixou a cidade desprotegida, com escolas suspendendo aulas, os hospitais com carência de água, além das famílias”, destacou Roberto Costa, criticando duramente os gestores da cidade por não terem um plano emergencial para problemas dessa natureza.
São Luís, 20 de Abril de 2016.