Dino alivia tensão da disputa entre Weverton e Brandão, enquanto Rocha alinhava candidatura com Bolsonaro

 

Flávio Dino atenua a tensão entre Weverton Rocha e Carlos Brandão, e Jair Bolsonaro tenta juntar Roberto Rocha com Josimar der Maranhãozinho, enquanto Roseana Sarney observa os movimentos, que podem ajudá-la a decidir

Indiferentes aos problemas causados pelo novo coronavírus no Maranhão, as forças que se organizam visando a luta pelo poder nas eleições do ano que vem fizeram movimentos importantes na semana que passou, indicando, com clareza solar, que a guerra pela sucessão do governador Flávio Dino (PCdoB) está em andamento e ganhando intensidade. Os passos do senador Weverton Rocha (PDT) e os do vice-governador Carlos Brandão (PSDB), que se digladiam na seara governista, culminaram com uma não agendada e surpreendente reunião dos dois com o governador Flávio Dino, Sexta-Feira, no Palácio dos Leões, ao mesmo tempo em que, no campo oposicionistas, vozes bolsonaristas revelaram o projeto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de unir o senador Roberto Rocha (sem partido) e o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL) numa aliança de oposição para enfrentar o candidato governista. E numa espécie de espaço reservado a uma eventual terceira via, a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) observou atentamente os movimentos, de modo a tirar deles informações que possam embasar as decisões que pretende tomar em relação ao pleito.

Com o gesto de reunir os dois aspirantes à sua sucessão, o governador Flávio Dino fez o que todo líder sensato faria: buscar um balizamento para a medição de força dos aspirantes. Ou seja, sem inibi-los, trabalhou no sentido de que os dois se mantenham nos trilhos e evitem levar sua disputa para uma guerra fratricida, que, se travada na base do tudo ou nada, poderia certamente comprometer não apenas a unidade, mas até mesmo a existência da aliança partidária como ela é hoje. Como seu construtor e líder maior, o governador conhece como ninguém os pontos fortes e os frágeis da aliança. Ele sabia exatamente o que estava fazendo quando, sem aviso prévio, reuniu os pré-candidatos para uma conversa franca e serena, para lembrá-los de que, sem prejuízo das ações políticas na corrida sucessória, o Maranhão precisa dos esforços dos dois em outros campos.

Flávio Dino tem a noção exata da impetuosidade política do senador Weverton Rocha e dos motivos que o fazem jogar pesado para disputar o Governo agora. Conhece, ao mesmo tempo e na mesma medida, a determinação e as razões que impulsionam o projeto eleitoral do vice-governador Carlos Brandão. E tem ciência plena dos diferentes riscos que a aliança corre se o senador – que concorrerá garantido pelo mandato – e o vice-governador – que será governador no período da disputa – partirem para um confronto direto, obrigando-o a tomar uma posição, já que no caso será praticamente impossível atuar como magistrado. Nesse contexto, o caminho mais seguro e saudável pregado pelo governador é o da unidade, essa fortalecida por uma aliança forte. A imagem divulgada após o encontro sinalizou uma situação de trégua. Ou, pelo menos, uma freada forte para arrumação.

No campo oposicionista vingaram os rumores de uma aliança juntando o senador Roberto Rocha, ainda sem partido, com o deputado federal Josimar de Maranhãozinho, estimulada pelo presidente Jair Bolsonaro, que estaria determinado a se envolver direta e ostensivamente na corrida sucessória no Maranhão. Há quem aposte alto nessa composição, mas há também quem a veja como improvável ou com muitas reservas. O fato, porém, é que, estimulado pelo presidente, o senador Roberto Rocha está alinhavando sua candidatura ao Governo motivado pela bandeira do bolsonarismo, que vem empunhando como militante desde a chegada do candidato do PSL ao Palácio do Planalto, em 2019. Com um discurso de quase rompimento com a aliança dinista, Josimar de Maranhãozinho sinalizou na direção da oposição numa live que fez há duas semanas. Roberto Rocha não fez ainda uma declaração formal sobre o assunto, mas aliados seus garantem que ele abrirá o jogo tão logo resolver sua pendência partidária, que depende da escolha do presidente da República.

Os movimentos da semana passada – que incluíram entrevista forte do senador Weverton Rocha e incursões do vice Carlos Brandão em Balsas – evidenciaram que o governador Flávio Dino vai trabalhar duro para manter a aliança inteira e por um acordo que resulte numa candidatura de consenso. Um projeto que, se consumado, não dará chance a oponentes.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Movimentos de Lula aproximam Dino da candidatura ao Senado

Articulação de Lula deixa Flávio Dino mais próximo da disputa para o Senado em 22

Os movimentos político-partidários feitos pelo ex-presidente Lula da Silva imediatamente após a confirmação, pelo Supremo Tribunal Federal, da sua condição de elegível, admitindo até mesmo a possibilidade de vir a ser candidato a vice-presidente, dentro de um grande acordo, reforçou uma certeza no cenário político maranhense: o governador Flávio Dino ao Senado é fato quase consumado.

O líder maranhense ainda não descarta de todo sua participação num projeto eleitoral nacional. Isso porque, caso Lula da Silva entre na corrida para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro, o PCdoB, na sua condição de mais fiel aliado do PT na cruzada pela liberdade do ex-presidente, naturalmente espera a condição de aliado preferencial e, como tal, um espaço importante nesse projeto, que para muitos não deve ser menos que a vaga de candidato a vice-presidente. E nesse caso, só dois nomes do partido têm cacife para tal: o governador Flávio Dino e a atual vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, que também preside o partido.

Nos bastidores políticos do Maranhão, são raros os que ainda acreditam que o governador Flávio Dino venha a entrar na guerra presidencial, como titular ou vice. Até porque ele próprio já admite que seu caminho será mesmo o de buscar nas urnas o mandato de representante do Maranhão no Senado da República.

 

Wagner Pessoa, in memoriam

Vagner Pessoa: surpresa no plebiscito de 1993

O cruel e implacável novo coronavírus impôs mais um desfalque à política do Maranhão: o comerciante e ex-deputado estadual Vagner Pessoa, 66 anos, que tinha base em Chapadinha e atuava em grande parte do chamado Baixo Parnaíba. Era traquejado, esperto, que farejava problemas no ar e sempre os enfrentava sorrindo e galhofando. Transitava numa tênue fronteira entre o engraçado e o folclórico, mas valia a pena apurar as informações que ele costumava passar aos jornalistas, principalmente depois que passava pelo Palácio dos Leões.

Em 1993, quando o Brasil dava os primeiros passos na redemocratização, tempo em que o presidente Fernando Collor havia sido cassado e o presidente Itamar Franco (PMDB) tentava colocar ordem na casa, os brasileiros foram às urnas para, em eleição plebiscitária, escolher o sistema de Governo, entre República e Monarquia. Contrariando a lógica e surpreendendo meio mundo, o então deputado estadual Vagner Pessoa se declarou monarquista. A quem o questionava, ele respondia com ar sério e justificava com uma equação simples: “Esse negócio de presidente não serve mais”. Para ele, o Brasil precisava mudar, e no seu entendimento, era melhor o País ter um rei do que um presidente. Vagner Pessoa não nutria simpatia pelos descendentes de D. Pedro I candidatos a rei, caso o sistema monárquico fosse escolhido. E certo dia, numa roda de conversa, um deputado perguntou-lhe:

– Vagner, se não gostas dos descendentes de Dom Pedro II, quem  achas que deve ser o monarca?

Wagner Pessoa quase não pensou e respondeu na bucha:

– O Sarney!

 

São Luís, 18 de Abril de 2021.

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