“De um lado uma tentativa de intimidação, de contenção, em relação às investigações dirigidas ao presidente da República e sua família. E de outro lado, a tentativa de instrumentalização política de investigações que podem até ser legítimas, mas que são objetivamente maculadas quando uma deputada federal palaciana, antes do evento, anuncia que ele ocorrerá contra o adversário político do presidente da República. É preciso ter investigação, porém sempre com seriedade e respeito às leis”.
Com essa declaração, feita em tom de alerta, divulgada ontem à noite no Jornal Nacional, alcançando milhões de brasileiros, o governador Flávio Dino (PCdoB) entrou de cabeça na medição de força política dos governadores com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A reação do governador do Maranhão ao que aconteceu ontem no Rio de Janeiro o colocou no epicentro da crise política nacional. Ele sabe que poderá enfrentar jogo duro se a PF vier de fato ser instrumentalizada politicamente, mas deixa claro que está preparado para o embate.
Sem passar a mão cabeça do governador fluminense Wilson Witzel (PSC), que foi alvejado pela ostensiva e surpreendente “Operação Placebo”, que investiga suspeita de desvios na área de Saúde do Governo do Rio de Janeiro, o governador do Maranhão alertou para a possibilidade do uso político da PF e defendendo que a suspeita tem de ser investigada, mas de maneira isenta, sem a mão da família Bolsonaro Wilson Witzel reagiu com indignação à invasão do Palácio das Laranjeiras, residência oficial do chefe do Governo fluminense, pela Polícia Federal, que cumpriu mandados de busca e apreensão de elementos que possam servir de prova para a denúncia da existência de uma organização criminosa desviando, com o aval de Wilson Witzel, recursos da Saúde destinados à construção de hospitais de campanha para atender a infectados pelo novo coronavírus no Rio de Janeiro.
Flávio Dino bateu forte chamando a atenção para o fato de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alimenta política de dois pesos e duas medidas. Contra adversários políticos, caso de Wilson Witzel, a PF atua fortemente, mas contra aliados e familiares do presidente, investigações são lentas, quando não paralisadas. Destacou também na sua fala a participação da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL), que numa entrevista de rádio na noite de segunda-feira dera pistas sobre a “Operação Placebo” no Rio de Janeiro, avisando que outros governadores estariam sendo investigados pela PF sob suspeita de desvio, demonstrando receber informações privilegiadas da PF, o que macula gravemente as operações em questão.
Flávio Dino sabe que figura na “lista negra” de Jair Bolsonaro e sua turma – filhos e ministros mais chegados. Primeiro porque é um militante da esquerda e depois porque lhe faz Oposição com autoridade política e correção institucional. Além disso, o governador do Maranhão é hoje uma das vozes mais autorizadas do universo político nacional. Primeiro porque realiza um Governo com forte viés social e indiscutível responsabilidade fiscal. E depois porque vem dando ao País uma demonstração de que é possível alcançar estabilidade política construindo uma aliança com 16 partidos, formando um arco que vai da esquerda à direita, coma compreensão de que num estado democrático divergentes podem conviver sem tensões nem traumas.
O governador Flávio Dino não chega ao epicentro da política nacional como Oposição ao presidente Jair Bolsonaro por acaso. Seu perfil ideológico e suas posições em defesa da democracia e do estado de direito são base do discurso com que desembarcou no tabuleiro da política estadual e nacional. De todos os atuais governadores, ele é o mais coerente, a começar pelo fato de que até agora não fez qualquer concessão ao extremista de direita Jair Bolsonaro, só admitindo a relação institucional por ser essa o principal fundamento da democracia. No mais, é confronto aberto, de preferência civilizado.
PONTO & CONTRAPONTO
PSOL monta chapa para disputar Prefeitura e cadeiras na Câmara Municipal
Depois de recusar várias propostas de aliança, o PSOL decidiu seguir sozinho e avança na construção do seu projeto para as eleições em São Luís, onde vai disputar a Prefeitura tendo o professor, advogado e jornalista Franklin Douglas, que o preside o Diretório de São Luís, como candidato a prefeito. Essa posição foi reforçada segunda-feira (25), durante reunião em que as principais lideranças do partido discutiram o cenário de indefinição em relação às eleições municipais, ao mesmo tempo em que optaram por prosseguir com os preparativos para a disputa.
Além de disputar o Palácio de la Ravardière, o PSOL decidiu reunir toda a sua força política e eleitoral na briga por vagas na Câmara Municipal. Para tanto, já conta com um grupo de pré-candidatos a vereador, formado por Carlos Wellington, Gentil Cutrim, Gleick Maia, Leonel Torres, Odivio Neto, Wagner Aquino, Francilene Cardoso, Gil Maranhão, Raimundo Aru, Raimundo Arouche e Magno Cutrim.
Diante da indefinição em relação à data de realização das eleições, o PSOL vem seguindo os prazos do calendário eleitoral, se organizando para o embate político e eleitoral. Movimenta-se apostando alto no uso político das mídias sociais, a partir da avaliação segundo a qual elas serão decisivas na corrida eleitoral.
Weverton Rocha propõe reforço na proteção de jornalistas
O senador Weverton Rocha (PDT) apresentou projeto de lei propondo punição mais dura – como agravamento de pena, por exemplo – para quem agredir profissionais de imprensa. A iniciativa do senador é uma reação à crescente hostilização de jornalistas pelas milícias bolsonaristas, que seguem o exemplo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que aumenta a cada dia sua agressividade em relação a profissionais da comunicação. “É inaceitável o crescente número de agressões contra jornalistas. Apresentei um projeto que agrava a pena para quem cometer crime de lesão corporal contra profissionais de imprensa no exercício da sua profissão ou em razão dela. A imprensa livre é um dos pilares da democracia”, destacou o senador.
A proposta do senador Weverton Rocha é feita em boa hora. O mister de informar, que dá ao jornalista uma dimensão destacada no cenário nacional, vem incomodando os que não suportam conviver com a verdade.
São Luís, 27 de Maio de 2020.