Se havia dúvidas sobre se o desfecho da disputa pela Prefeitura de São Luís será decidido em um ou em dois turnos, o debate de ontem, na TV Mirante, certamente contribuiu para tornar imprevisível o resultado dessa eleição. É que durante a campanha nenhum outro evento revelou tanto os candidatos como o embate de ontem. Nas suas mais de duas horas, o jogo de perguntas e respostas foi intenso, mostrando com clareza, quem é quem entre os candidatos a prefeito, e nessa mostra definiu com nitidez quem está mais preparado para ser o adversário do prefeito Edivaldo Jr. (PDT) numa eventual segunda volta. Eduardo Braide (PMN) – que mais uma vez surpreendeu -, Eliziane Gama (PPS), Wellington do Curso (PP) e Fábio Câmara (PMDB) não conseguiram colocar o prefeito contra a parede, embora tenham ido ao limite do possível e conseguiram fazer o mais produtivo debate das últimas disputas pela cadeira de gestor da Capital do Maranhão. No geral, houve, é claro, os que se saíram melhor, mas vale dizer que ninguém foi tão ruim a ponto de ser definido como o pior.
O prefeito Edivaldo Jr. participou do debate com a incômoda expectativa de que seria alvo de todas as pancadas. Não foi. O formato inteligente do confronto não deu margem para ele fosse alvejado em série. Inicialmente tenso, tendo relaxado em seguida, o prefeito respondeu corretamente a todas as perguntas que lhe fizeram, inclusive a sobre a promessa não cumprida de construção de 20 creches, que respondeu com uma explicação convincente: do convênio que fez com o Governo Federal, só recebeu recursos parra seis, sendo que quatro estão em fase de conclusão e devem ser entregues em até dezembro, e duas estão em fase inicial. Enfim, não deixou nenhuma pergunta sem resposta nem deu corda para as provocações, o que lhe garantiu sair do debate do leito que entrou: inteiro, mesmo que não tenha adicionado pontos ao seu projeto de reeleição.
Numa avaliação isenta, o debate foi vencido por Eduardo Braide, que confirmou e ampliou a boa impressão que causara no encontro da TV Guará, e que poderia estar em posição bem mais confortável se o debate da TV Difusora tivesse sido realizado com a sua participação. Braide foi duro, fez perguntas inteligentes, ironizou as respostas dos demais candidatos, fez duras críticas a alguns e criou todas as condições para mostrar o seu desempenho como deputado estadual, principalmente nas ações relacionadas com a saúde. Braide incomodou a Edivaldo Jr., tirou Wellington do Curso do eixo várias vezes, provocou Eliziane Gama e estocou seriamente Fábio Câmara. Criou situações nas quais o candidato do PP gaguejou e não ofereceu respostas satisfatórias. Demonstrou conhecimento sobre tudo o que falava e foi, de longe, o candidato mais propositivo do debate. Pode ter atraído muitos eleitores indecisos
Pela desenvoltura com que iniciou sua participação, Wellington do Curso se preparou para ser a estrela do debate, mas o seu desempenho foi muito aquém do esperado. Ele se comportou com equilíbrio, mas o seu discurso não revelou consistência, foi apanhado em contradições estava preocupado em se defender e fortalecer sua posição. As promessas que fez foram tão óbvias que, se pudessem, todos os prefeitos anteriores, a começar por Edivaldo Jr., as teriam realizado. Em nenhum momento Wellington do Curso disse o que fazer, como fazer e de onde sairão os recursos para fazer. Todos os seus momentos de alta no embate foi atacando a atual gestão. Passou a impressão de que, se eleito, fará um governo com a conta abarrotada de dinheiro, o que é um engano uma situação a ser explicada.
Eliziane Gama mostrou-se preparada, exibiu conhecimento de causa sobre tudo o que falou, fez proposições, criticou serenamente problemas de São Luís, disparou algumas alfinetadas contra o prefeito, mas não entrou no debate para valar. Ela foi incisiva nas perguntas e, principalmente nas respostas, confirmando ser uma candidata que se preparou para disputar a Prefeitura de São Luís. Não cometeu erros, e se manteve com a dignidade de sempre. Um aspecto do desempenho de Eliziane Gama chamou a atenção: por maior que tenham sido seus esforços para se apresentar como a solução para todos os males que afetam São Luís, a candidata do PPS não se mostrou confiante de quem tem todas as condições de virar o jogo e se eleger prefeita de São Luís.
Outro bom desempenho foi o do candidato do PMDB, Fábio Câmara. No jogo de pergunta e resposta, ele não chegou a roubar a cenas, mas atuou com desenvoltura, fazendo perguntas inteligentes e se aproveitando das falhas dos demais candidatos para ironizar. O pemedebista exibiu bons conhecimentos na área de saúde, principalmente no que diz respeito à complexa logística hospitalar e sobre as necessidades da população de São Luís. Com suas intervenções e suas respostas, o candidato pemedebista saiu do debate maior do que entrou.
Foi, enfim, o grande debate da campanha, e serviu para que o eleitorado fundamente as suas escolhas.
PONTO & CONTRAPONTO
Ataques a ônibus não inviabilizou o debate
O debate entre os candidatos a prefeito de São Luís na TM Mirante aconteceu em meio a mais uma onda de violências na Capital, onde três coletivos foram incendiados por ordem dos chefões do trafico e do crime organizado que estão presos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Ninguém duvidou de que a onda foi uma resposta dos bandidos à firmeza com que o governador Flávio Dino vem organizando o Sistema Policial e investindo na estrutura e no quadro de pessoal das Polícias Civil e Militar. No caso, Dino foi duro na tentativa de rebelião em Pedrinhas e tem sido determinado no combate á criminalidade. Ontem, ao contrário de tentar criar uma situação mais amena, a Polícia agiu rápido e conseguiu prender um grupo de suspeitos, colocando o efetivo disponível nas ruas.
Dino foi às ruas
É verdade que aconteceu às vésperas do desfecho de uma guerra eleitoral, o que induziu adversários a criticá-la como eleitoreira, mas a iniciativa do governador Flávio Dino (PCdoB) de percorrer pontos tensos de São Luís, na noite de quarta-feira, para ver de perto a ação policial no combate ao crime, foi uma das mais saudáveis por ele protagonizadas nos últimos tempos. A começar pelo fato de que, sob o impacto dos incêndios a ônibus na tarde/noite de segunda-feira e da ação firme do Governo na repressão à rebelião iniciada no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, o chefe do Poder Executivo saiu às ruas, se expôs e correu riscos.
O governador do Estado poderia ter designado um auxiliar seu – o secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, por exemplo – mas preferiu tirar ele próprio a prova dos nove, não apenas fazendo contato direto com policiais e motoristas de ônibus, mas também com a própria população. Nos diálogos, perguntou sobre as dificuldades, os problemas, as tensões que todos sofrem, como também explicou as decisões do Governo nessa área crítica, mostrando que o Sistema Estadual de Segurança Pública está operando no limite das suas condições no combate ao crime.
Não é usual, principalmente em tempos atuais, um governador de Estado sair às ruas, à noite, em momentos tensos, para estimular os órgãos de segurança a atuar com mais eficiência. E chama atenção o fato de que não foi um movimento orquestrado, com roteiro previamente definido e precedido de fanfarra. Tudo indica que governador Flávio Dino tomou a decisão num estalo e seguiu em frente, o que torna a iniciativa mais autêntica, à medida que tudo o que aconteceu durante a circulada foi verdadeiro e decente, nada parecido com rompantes populistas e, no caso, com viés eleitoreiro.
A conclusão óbvia é que, independente da propaganda oficial – que é lícita desde que os fatos mostrados sejam verdadeiros -, o atual Governo do Maranhão está investindo tudo o que pode na melhoria do Sistema de Segurança Pública. E com a consciência de que precisa fazer muito mais, se possível for.
São Luís, 30 de Setembro de 2016