Corrida aos Leões: proposta pacificadora de Weverton esbarra numa indagação de Brandão: “Como?”

Carlos Brandão confirmando que vai cumprir
integralmente o seu mandato de quatro anos

Uns viram uma réstia de luz no fim do túnel, outros acharam que viram, mas não se arriscaram a confirmar, e outros nada viram, achando que o túnel continua no breu. Foi assim que políticos brandonistas e dinistas se dividiram em relação à proposta de pacificação feita pelo senador Weverton Rocha (PDT), e à revelação, feita por ele, dando conta de que o presidente Lula da Silva (PT) vai tentar unir as duas bandas da sua base de apoio no Maranhão. Isso num momento em que o governador Carlos Brandão (ainda no PSB) parece mais decidido do que nunca a cumprir o seu mandato até o final e reforça a base de apoio do seu pré-candidato ao Palácio dos Leões, o secretário Orleans Brandão (MDB), e o vice-governador Felipe Camarão (PT) reafirma a sua pré-candidatura entra e cabeça numa intensa pré-campanha. É verdade que em política nada é impossível, mas é verdade também que essa máxima está difícil de vingar no cenário político do Maranhão nesse momento, no qual as duas forças dominantes estão em conflito, esticando a corda a cada dia.

“Ele fala em pacificar. Mas não diz como”. Foi a resposta do governador Carlos Brandão a uma indagação da Coluna sobre a iniciativa do senador Weverton Rocha. O mandatário não abriu um milímetro da sua posição ao processo sucessório estadual. Ao contrário, sinalizou que mantém firme a decisão de permanecer no Governo e embalar o projeto de candidatura do secretário de Assuntos Municipalistas à sua sucessão, o que torna complicado qualquer iniciativa conciliadora, como a do senador pedetista. Isso porque os motivos que causaram o afastamento e levaram ao rompimento são de difícil solução.

O ponto central é que, para os dinistas, tudo se resolveria se o governador Carlos Brandão, motivado pelo que fez o então governador Flávio Dino em 2022, renunciasse e se candidatasse ao Senado, abrindo caminho para que o vice-governador Felipe Camarão assuma o Governo e seja candidato à reeleição. Depois de uma série de atritos, pequenos jogos de poder e da suspeita de que estariam tentando controlar o seu Governo, o governador Carlos Brandão bateu pé e iniciou o direcionamento do seu roteiro político para outro rumo, que resultou nas duas drásticas decisões, a de permanecer no cargo e lançar o seu sobrinho candidato à sua sucessão. Para chegar nesse extremo, o cenário foi construído com uma série de embates e escaramuças que levaram as relações a um grau elevado de impossibilidade.

Começou em 2023, quando o governador Carlos Brandão tentou emplacar o jovem advogado Flávio Costa numa cadeira de desembargador do Tribunal de Justiça, tendo o projeto sido bloqueado por decisão judicial. Tempo depois, abriu-se uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE), tendo o Palácio dos Leões respaldado politicamente a indicação de Flávio Costa, mas o processo de escolha, de prerrogativa exclusiva da Assembleia Legislativa, foi interrompido – e permanece até hoje -, por decisões judiciais. Não bastasse isso, a eleição para a presidência da Assembleia Legislativa, em que a presidente Iracema Vale foi candidata à reeleição, terminou empatada em 21 a 21 votos, um resultado absolutamente imprevisível, mas que resultou na reeleição dela pelo critério da maior idade. Baseada numa regra regimental vigente há mais de três décadas, a eleição foi judicializada. Mais recentemente, no desdobramento da ação sobre a escolha de conselheiro do TCE, o ministro Flávio Dino, baseado numa denúncia – que muitos questionam -, mandou abrir investigação sobre suposta venda de vagas no TCE, para que o Palácio dos Leões emplacasse sucessores da sua confiança, causando uma dura reação do governador Carlos Brandão, que passou a denunciar o que vem chamando de perseguição política pela via judicial.

O ponto nevrálgico dessa ciranda judicial é o fato de que as ADIs sobre a eleição na Assembleia Legislativa e a escolha de conselheiros do TCE e seus desdobramentos foram iniciativas do deputado Othelino Neto por meio do seu partido, o Solidariedade, tendo as ações caído nas mãos do ministro Flávio Dino, que se tornou relator de todas. Conhecido pela rigidez das suas decisões como juiz, o ministro Flávio Dino é acusado de transformar o governador Carlos Brandão em possível alvo de uma pancada judicial. O governador vem reagindo num crescendo, a ponto de no início da semana passada – às vésperas do histórico julgamento do golpe, que mandaria o ex-presidente Jair Bolsonaro para a prisão -, ter afirmado, em discurso, que está sendo perseguido judicialmente, mas que não tem medo de perseguição.

Foi nesse ambiente que o senador Weverton Rocha revelou a intenção do presidente Lula da Silva de tentar pacificar a sua base no Maranhão. Resta dizer como será proposta a pacificação com esses ativos todos pendentes.

PONTO & CONTRAPONTO

Para muitos, Dino saiu do julgamento da trama golpista como um nome talhado para disputar o Planalto

Flávio Dino em diferentes momentos do julgamento

O histórico julgamento que resultou na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de cadeia por tentativa de golpe de estado produziu uma série de imagens entre os cinco ministros da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal. As impressões vieram de observadores e comentaristas políticos depois do impacto das sentenças, quando, mesmo sob tensão, os ânimos começaram a serenar.

O ministro-relator, Alexandre de Moraes, terminou o processo como o julgador implacável, corajoso, que não vergou um milímetro, apesar de todas as tentativas de coação que sofreu. A ministra Cármem Lúcia consolidou sua imagem de ministra severa, defensora implacável do estado democrático de direito e das regras constitucionais em vigor no País. O ministro Luiz Fux entrou para a história como o pária, que desdisse tudo o que vinha dizendo e concluiu afirmando que nada aconteceu no país, tornando-se ídolo da bolha que apoia os acusados. O ministro Zanin, presidente da 1ª Turma, entrou e saiu com o brilho da serenidade e da precisão no voto, e reconhecido por haver conduzido o julgamento sem qualquer percalço.

No contexto do julgamento, a grande estrela foi, de longe, o ministro Flávio Dino, que além do vasto conhecimento, reforçado pela experiência de 12 anos com o juiz federal e dois como ministro da Suprema Corte, deu aulas de comunicação, tornando simples os compreensíveis conceitos jurídicos aplicados ao caso. O ministro maranhense descontraiu o ambiente tenso e sisudo imposto pela gravidade do caso em julgamento, com “tiradas” inteligentes e perfeitamente ajustadas ao momento.

Como já havia observado a Coluna, vários comentaristas de peso destacaram, com ênfase, a participação de Flávio Dino, chamando a atenção para a sua capacidade de reforçar seus argumentos com conceitos e exemplos relacionado com os três Poderes das República, fruto da vasta experiência de ter sido ele juiz federal, deputado federal e senador e governador de dois mandatos, ambos com eleição em turno único.

Sua fala de maior repercussão foi a com que concluiu o seu voto pela condenação os envolvidos na trama golpista. Ele disse:

“Eu me espanto com alguém que acredita que quem chega ao Supremo vai se intimidar com tweet. Será que as pessoas acreditam com um tweet de uma autoridade, de um governo estrangeiro, vai mudar um julgamento no Supremo? Será que alguém imagina que um cartão de crédito ou o Mickey vão mudar um julgamento no Supremo? Então, nós estamos aqui, fazendo o que nos cabe: cumprir o novo dever. Isso não é ativismo judicial, isso não é tirania, não é ditadura. Pelo contrário, é a afirmação da democracia que o Brasil construiu sobre o pálio da Constituição de 88”.

Com base nesse e outros trechos do voto de Flávio Dino, diversos comentaristas enxergaram nele um nome talhado para ser presidente da República em 2030. Sem esquecer, no entanto, que ele ampliou seu destaque na ira bolsonarista.

Nome de Braide é sussurrado nos bastidores até para vice numa eventual candidatura de Tarcísio a presidente

Eduardo Braide é ventilado para seguir os passos
de José Sarney, Gardênia Gonçalves – na foto ao
lado do marido João Castelo – e José Antônio
Almeida, que foram candidatos a vice-presidente

Ao mesmo tempo em que se mantém como líder nas pesquisas sobre intenção de voto para o Palácio dos Leões em 2026, mesmo sem que tenha dito ainda se será ou não candidato, o prefeito de São Luís, Eduardo Braide, vê seu prestígio ganhar espaço cada vez maior na cúpula nacional do seu partido, o PSD, que o quer candidato a governador do Maranhão, mas também já teria ventilado seu nome para candidato a vice-presidente da República numa eventual participação do partido na base de uma provável candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Esse rumor está circulando num grupo restrito afinado com o prefeito de São Luís, não se tratando, porém, de uma informação partidária ou coisa parecida. A Coluna viu o rumor como uma hipótese distante, remota, mas possível, por ser ele um nome destacado entre os prefeitos de capitais nordestinas por conta da sua bem-sucedida trajetória política e sua arrojada gestão no comando de São Luís.

Vale lembrar que o Maranhão emplacou José Sarney como vice de Tancredo Neves em 1985, tendo ele se tornado presidente por cinco anos. Antes dele, a prefeita Gardênia Gonçalves foi candidata a vice-presidente na chapa do senador catarinense Espiridião Amin em 1994, e o consagrado advogado, então deputado federal e líder do PSB, José Antônio Almeida, atendeu ao chamamento da cúpula nacional do partido e se candidatou a vice-presidente na chapa do fluminense Antony Garotinho.

Com a inteligência política que tem, Eduardo Braide dificilmente embarcaria numa aventura dessa envergadura e com essa margem de risco.

São Luís, 14 de Setembro de 2025.

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