“A luta continua”. Pronunciada em tom de convocação geral, a frase partiu do deputado estadual Zé Inácio, em meio à multidão que se concentrou no centro de Porto Alegre (RS), para pressionar os três desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que numa martelada judicial implacável, não apenas confirmaram a condenação do ex-presidente Lula da Silva (PT), como aumentaram sua pena de 9 anos e 6 meses para 12 anos e 1 mês. A frase do jovem e ativo deputado – atualmente o único petista no parlamento maranhense – dá bem a dimensão da complicada situação em que foram colocados o ex-presidente – que pode até ser preso –, o PT, especialmente o braço maranhense, e a esquerda em geral. Em São Luís, no mesmo momento, o governador Flávio Dino, um dos mais contundentes críticos da condenação de Lula, disparou twittadas estranhando o aumento da pena argumentando o fundamento usado pelo relator para mexer na dosimetria não está previsto no Código Penal.
O “grito de guerra” do deputado Zé Inácio e a crítica do governador Flávio Dino revelam que os dois foram apanhados por uma surpresa desconcertante, que no primeiro momento os deixou sob forte impacto e, em seguida os fez voltar ao eixo e reagir. O deputado Zé Inácio recebeu a pancada de ver o seu líder e guia partidário ser transformado num ficha suja e tirado da corrida presidencial, quase sem chance de se livrar do castigo e, com isso, ter seu partido ser empurrado para uma enorme distância do poder, quase sem possibilidade de reverter o rumo que lhe está sendo imposto. O governador Flávio Dino, que mesmo sendo um ex-juiz federal e estivesse trabalhando com esse desfecho, no fundo não esperava que os três desembargadores da 8ª Turma do TRF4 chegassem onde chegaram, preferindo trabalhar com a hipótese de que, ainda que politicamente motivados, não seriam tão duros com o ex-presidente. E foi dormir com a certeza de que o projeto de Lula voltar ao poder sofreu um tremendo revés.
O deputado Zé Inácio retornará ao Maranhão consciente de que o julgamento mergulhou de vez o PT no movediço pântano das incertezas, privando-o de lastrear um projeto presidencial viável, segundo cantaram até aqui as pesquisas que mediram as tendências do eleitorado. Juntamente com os líderes locais do partido, o deputado Zé Inácio sabe que vai encontrar um PT inseguro, com um pé no campo de guerra e outro na vereda do desânimo e que será preciso muita conversa e injeção de ânimo para restaurar o ânimo combativo dos petistas maranhenses. Não será fácil, como ficou demonstrado na formação da Frente em Defesa da Democracia e do Direito de Lula ser Candidato. Por sua vez, o governador Flávio Dino está ciente de que poderá contar com o apoio de Lula na sua campanha, mas sabe que, depois desse julgamento, o Lula que o acompanhará será ainda um líder forte, carismático, quase mítico, mas agora sem o avassalador poder de sedução de quem está a caminho do poder.
O deputado Zé Inácio e o governador Flávio Dino sabem que, decidida unanimemente por uma corte – motivada politicamente ou não -, a confirmação da sentença da 1ª instância, reforçada com um – estranho ou não – aumento da pena, que em princípio será cumprida em regime fechado, tornou praticamente irreversível o enquadramento do ex-presidente da Lei da Ficha Limpa, reduzindo quase a zero a possibilidade de ele chegar ileso ao momento decisivo da campanha eleitoral. A julgar pelos discursos espantosamente uniformes e sem qualquer divergência dos três desembargadores, o nó dado na vida política do ex-presidente Lula dificilmente será desatado pelo Superior Tribunal de Justiça ou pelo Supremo Tribunal Federal pela via dos recursos possíveis, o que certamente fará com que a Justiça Eleitoral barrará a participação dele na corrida às urnas.
Depois do julgamento de ontem, o jovem e aguerrido deputado Zé Inácio deve manter o seu grito de guerra, mas deve refazer os planos políticos e eleitorais que ele e o PT maranhense alimentavam. O governador Flávio Dino, por seu turno, tem todas as condições para seguir seu rumo em busca da reeleição com a segurança de quem tem base política e autoridade jurídica para continuar apontando distorções no processo contra Lula da Silva.
PONTO & CONTRAPONTO
Grupo Sarney avalia que Roseana terá mais chance se Lula não for candidato
Não houve comemoração, mas o resultado do julgamento de ontem foi recebido com uma ponta de satisfação na cúpula do Grupo Sarney. E a explicação é simples: sem Lula como candidato, o estrago que ele poderá fazer no eleitorado lulista do Maranhão. Para fontes bem situadas no arraial sarneysista, a avaliação corrente é a de que sem Lula como candidato e aliado ao governador Flávio Dino, a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) terá mais condições de encarar o favoritismo dele na corrida aos Leões. Apoiadores de Roseana Sarney avaliam que a condenação de Lula vai tirá-lo da corrida presidencial e abrir caminho para que outros candidatos presidenciais ganhem fôlego e equilibrem a corrida ao Palácio do Planalto. Nesse novo contexto, em que pese o fato de ele ter defendido a absolvição de Lula da Silva, o ex-presidente José Sarney (MDB) no fundo torcia pelo resultado de ontem. Não por querer mal a Lula, movido por ódio ou coisa parecida, mas porque Lula é um dado complicador para o projeto do Grupo Sarney com a candidatura da ex-governadora Roseana Sarney. E o caminho agora é encontrar um candidato a presidente no campo do centro-direita para embalar sua campanha eleitoral no campo sarneysista, que só será definido por volta de abril, quando o presidente Michel Tema (MDB) pretende se posicionar nesse sentido, podendo inclusive ele próprio anunciar a decisão de ser ele mesmo o candidato do PMDB.
Se Lula não for candidato, o Palácio dos Leões poderá apoiar Ciro Gomes.
Tudo indica que se Lula não puder mesmo ser candidato, o que é muito provável, sendo já uma certeza para muitos, o governador Flávio Dino deverá apoiar a candidatura do ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT). O projeto do pedetista, que estava oscilando em razão da candidatura de Lula, começou a ganhar musculatura na seara esquerdista desde o momento em que o resultado do julgamento de ontem em Porto Alegre. Ciro Gomes vinha afirmando que manteria sua candidatura até que Lula se decidisse para valer, garantindo que se o ex-presidente fosse rifado pela Justiça, ele levaria seu projeto em frente, e é o que já começo a acontecer. O candidato pedessista se revelou um aliado fiel do governador Flávio Dino, tanto que na última visita que fez a São Luís, declarou, em discurso no Palácio dos Leões, que o governador do Maranhão “foi a melhor coisa que aconteceu na política brasileira nos últimos tempos”. Se Ciro Gomes vier a ser mesmo candidato, o grande beneficiado será o deputado federal Weverton Rocha (PDT), que ganhará um argumento de muito peso no seu discurso de campanha.
São Luís, 25 de Janeiro de 2018.
Se eu fosse “flavio dino”, sairia candidato a senador(que eh garantido) e peixaria o pepino de governo do estado pra outro. Esse negocio de traidor, apoiar + de 10 candidatoso ja eh normal p ele(tira de letr@).
Obrigado pela oportunidade .
A Manchete poderia ter sido:
“Condenação de Lula fragiliza Flávio Dino e leva o PT maranhense a manter discurso crítico”
Chora nao Antônio o Flávio Dino foi eleito com a força do povo e vai ser de novo com a força do povo