Comprar e trazer respiradores da China para São Luís foi uma operação de guerra, com roteiro de ficção

 

Acima: O ATR 27-600 da Azul recebe a carga em Viracopos, .em Campinas (SP); e embaixo: a aeronave é descarregada no Tirirical, em São Luís

Foi como a materialização de um roteiro elaborado para um filme de ficção. Para comprar 107 respiradores à China para equipar leitos de UTI destinados a receber infectados com a Covid-19 no Maranhão, especialmente em São Luís, e 200 mil máscaras para uso de médicos, enfermeiros e auxiliares da linha de frente no combate à pandemia do novo coronavírus nos hospitais, o Governo do Maranhão precisou montar uma operação que não tem precedente, mesmo nos momentos em que Estado esteve envolvido em conflitos. Sob o comando direto do governador Flávio Dino (PCdoB), o secretário de Indústria e Comércio, Simplício Araújo (SD), e o secretário de Saúde, Carlos Lula, com o suporte de um grupo de empresas, entre elas a Vale e a Alumar, e usando uma rede de contatos e uma estratégia bem armada, conseguiram driblar o esquema de pirataria montado pelas grandes potências e trazer os equipamentos e materiais para São Luís.

A aterrissagem do turbo hélice ATR 72-600 da Azul, mas ostentando as cores branca e rosa, na noite de quarta-feira (15), no Aeroporto do Tirirical, em meio a manifestações justificadamente eufóricas dos secretários Simplício Araújo e Carlos Lula, e a reação entusiasmada do governador Flávio Dino, foi o desfecho de um processo longo, complexo, delicado e cheio de riscos quanto à possibilidade de confisco por parte dos Estados Unidos, e até mesmo – por mais incrível que possa parecer – do Governo do Brasil. A operação, que envolveu cerca de 30 pessoas e custou R$ 6 milhões, foi decidida depois que o secretário de Indústria e Comércio obteve o apoio de um pool de empresas, que resolveram bancar a compra dos equipamentos à China.

Outras tentativas do Governo do Maranhão de adquirir os equipamentos e EPIs a fabricantes chineses fracassaram. No início do mês, o Governo estadual negociou a compra, mas quando os chineses se preparavam para entregar os produtos, a Alemanha entrou no circuito e ofereceu o triplo do valor, levando os chineses, movidos pela crueza do “quem dá mais” do capitalismo selvagem, a desfazer o negócio com o Maranhão. Até o Governo Federal jogou pesado contra o Maranhão. Outra operação com os chineses foi “melada” na Flórida, onde o avião fez uma escala e o Governo dos EUA confiscou os equipamentos.  No mesmo período, o governador Flávio Dino conseguiu fechar a compra de um lote de respiradores de um fabricante de Santa Catarina. Ao tomar conhecimento da operação, Brasília entrou no circuito, bloqueou a transação, assumiu a compra e distribuiu os respiradores a seu critério.

Para ser bem-sucedida, a operação articulada por Simplício Araújo e Carlos Lula teve planejamento de guerra. Com o apoio da Vale – que conhece como ninguém as entranhas visíveis e invisíveis do comércio internacional, com PHD em China –, o Governo do Maranhão acionou uma importadora de fé, que conseguiu fechar a compra com um fornecedor de Guangzhou, um dos centros chineses produtores de tecnologia. E para evitar escala na Europa, onde os equipamentos poderiam ser confiscados, os planejadores optaram pela Etiópia – país de origem do diretor-geral da OMS, o biólogo e doutor em saúde comunitária Tedros Adhanom Ghebreyesus -, e de lá o voo seguiu para o aeroporto internacional de cargas de Viracopos, em Campinas, seguindo imediatamente para Guarulhos, São Paulo, sem passar pelo crivo da alfândega, e de lá direto para São Luís, onde foi fiscalizado, evitando também mais um confisco do Governo Federal ou até mesmo do Governo paulista.

Planejada por executivos experientes no jogo duro do comércio internacional e comum acordo com o os secretários Simplício Araújo e Carlos Lula e o aval do governador Flávio Dino, a operação foi um sucesso completo, apesar dos riscos de ser interrompida pela pirataria posta em prática pelas potências. Com os 107 respiradores – muitos dos quais foram instalados ontem mesmo, o Maranhão melhora a sua estrutura hospitalar para enfrentar a pandemia, mas planejando novas compras.

Em clima de euforia, o secretário Simplício Araújo resumiu a necessidade da operação: “Se não fizéssemos dessa forma, demoraríamos três meses para conseguir essa quantidade de respiradores”. E isso poderia custar muitas vidas.

Em Tempo: Participaram do suporte da Operação as seguintes empresas: Vale, Ômega Energia, Alumar, Eneva, Grupo Mateus, EDP Linhas de Transmissão, Suzano, Gera Maranhão Energia, Universidade Ceuma, Heineken, Lavronorte, Fribal, Grupo Maratá, Comercial Rofe, Centro Elétrico, Potiguar, Roque Aço Cimento, Revest Com. e Serviços, COC, Dínamo Engenharia, Faculdade ISL Wyden, Canopus, Sinduscon, Silveira Engenharia, Dimensão Engenharia, Construtora Escudo, Lua Nova Engenharia, Alfa Engenharia, RJ distribuição, RBC Construções e Constans.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Novo chefe da Justiça Eleitoral quer manter data das eleições, mas admite adiamento

Luis Roberto Barroso assume TSE admitindo adiamento que eleições poderão ser adiadas

Antes vistas como fato a ser consumado rigorosamente dentro do calendário já estabelecido, que prevê sua realização no dia 7 de Outubro, as eleições municipais poderão, de fato, ser adiadas, dependendo dos desdobramentos da epidemia de covid-19, causada pelo novo coronavírus. Essa possibilidade foi admitida ontem pelo novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Roberto Barroso. Há cerca de duas semanas, perguntado sobre o assunto, Luiz Roberto Barroso, o então vice-presidente do TSE, respondeu taxativamente que não havia qualquer possibilidade de adiamento das eleições, posição ratificada naquele momento pela presidente da corte, ministra Rosa Weber. Ontem, após ser eleito, o novo chefe maior da Justiça Eleitoral mudou o discurso, admitindo o adiamento. Luiz Roberto Barroso, no entanto, foi taxativo que em princípio o calendário das eleições está mantido, com a ressalva de que, se houver alteração na data do pleito, o adiamento será pelo menor período de tempo possível. E fundamentou sua preocupação no mais consistente dos argumentos: o Brasil é uma democracia, e uma democracia não pode abrir mão de eleições, que são a base da sua sobrevivência. Ou seja, com coronavírus ou sem coronavírus, os brasileiros irão às urnas para escolher prefeitos e vereadores, se não no dia 7 de Outubro, numa data que não seja distante daquela. Os pré-candidatos, portanto, não devem baixar a guarda por causa da pandemia.

Eliziane Gama propõe atenção do Senado com o que pensa a sociedade nesta crise

Eliziane Gama: Senado deve manter a relação com o cidadão

O Senado deve avaliar críticas e sugestões feitas por cidadãos às propostas votadas em sessões remotas por videoconferências durante a pandemia do novo coronavírus. O procedimento está proposto em projeto de lei protocolado esta semana pela líder do   Cidadania no Senado, Eliziane Gama. O projeto prevê a designação de membros de comissões permanentes para acompanhar as sugestões e críticas da sociedade a projetos e proposições emergenciais enquanto perdurar o estado de calamidade pública no País. A senadora Eliziane Gama acerta em cheio com a sugestão. Primeiro porque, por conta da limitação técnica, as sessões virtuais impossibilitam que essas propostas sejam adequadamente debatidas, obrigando os senadores a sustentarem seus votos de maneira rápida e superficial, sem levar em conta o pensamento da opinião pública em relação a essas decisões, fomentando até mesmo questionamentos sobre credibilidade dessas decisões. E depois porque reforça a natureza política do parlamento, que tem como princípio básico a relação direta e permanente com a sociedade. A proposta, que revela a maturidade da senadora maranhense como política e legisladora, foi bem aceita e deve ser aprovada.

São Luís, 17 de Abril de 2020.

 

 

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