Com moderados e radicais na disputa, a direita está levando vantagem em São Luís

Eduardo Braide, Wellington do Curso e Yglésio
Moises representam, respectivamente, a direita
moderada, a furta-cor e a radical,
na corrida eleitoral em São Luís

O anúncio de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcará em São Luís no dia 28 para participar de ato de campanha do deputado Yglésio Moises (PRTB), candidato ao Palácio de la Ravardière, confirma o cenário de que, no geral, a direita, nos seus diversos campos, está dominando a corrida pelo comando administrativo e político da Capital do Maranhão. São candidatos por diferentes vieses direitistas o prefeito Eduardo Braide (PSD), que representa a direita moderada e democrática; o deputado estadual Wellington do Curso (Novo), que vem de um nicho militar, mas se identifica com a democracia; e o deputado Yglésio Moises (PRTB), que surpreendeu meio mundo ao migrar da centro-esquerda para o ramo mais radical da direita: o bolsonarismo.

Com base na última pesquisa DataIlha, somados, os percentuais de intenção de voto para candidatos da direita totalizam mais de 55%, enquanto que a soma de preferências pelos candidatos da esquerda, nos seus mais variados vieses – Duarte Jr. (PSB), Fábio Câmara (PDT), Franklin Douglas (PSOL), Saulo Arcangeli (PSTU) e Flávia Alves (Solidariedade) – não foi além de 28%.

Universalmente, quando se fala de direita, fala-se de um espectro abrangente, que vai da direita aberta, plenamente identificada com o estado democrático de direito, que aposta na democracia liberal, como a norte-americana e as da Europa e também como a brasileira, até sua versão mais radical, conservadora, simpática a regime de força, até mesmo a ditaduras militares, como pregam os militantes do bolsonarismo.

O prefeito Eduardo Braide é a imagem acabada da direita pé no chão, democrática, ainda que conservadora em alguns itens da pauta de costumes. Para ele, o Estado não deve se envolver na economia, por exemplo, e as liberdades individuais devem ser plenas; institucionalmente, com todos os Poderes fortes o suficiente para evitar que um interfira nos outros, vivendo, portanto, em harmonia. Advogado por formação, o prefeito Eduardo Braide é um católico padrão, praticante e conservador, mas respeita a liberdade de culto. E não avaliza aventuras golpistas, considerando inaceitável o que aconteceu em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023. O prefeito de São Luís nada tem a ver com o bolsonarismo.

Por seu turno, o deputado Wellington do Curso pratica uma espécie de direita furta-cor, uma vez que demonstra inconsistência ideológica. Tanto que já esteve filiado ao PSB, o melhor exemplo da esquerda moderada. Mas a sua formação tem por base a que domina a cultura dominante no Exército brasileiro, no qual foi soldado engajado e chegou a sargento. E nessa função foi usado como uma espécie de “olheiro” da inteligência militar. Está perfeitamente à vontade no partido Novo, que é o extremo do liberalismo, mas aparentemente sem simpatia por regimes de força.

O caso mais extremo entre os candidatos de direita à Prefeitura de São Luís é o deputado Yglésio Moises. Nascido na esquerda moderada, tendo renovado o seu mandato como candidato do PSB, o parlamentar fez uma migração ostensiva e calculada para a direita, abrigando-se na ala radical, que tem o ex-presidente Jair Bolsonaro como líder máximo. Num processo espantoso, ele mudou radicalmente o seu discurso, incorporando os principais itens políticos e ideológicos do bolsonarismo – como a ideologia de gênero, por exemplo. Para o candidato do PRTB, um partido de direita periférico, o Supremo Tribunal Federal é fonte de supressão de liberdade, o 8 de Janeiro não foi mais do que uma ação de baderneiros, sem qualquer viés golpista, e como não poderia deixar de ser nesse caso, o ex-presidente Jair Bolsonaro é tão somente uma vítima de perseguição. Yglésio Moises aposta que o novo discurso faça dele líder do bolsonarismo em São Luís e no Maranhão.

A julgar pelos que têm informado as pesquisas, nesse campo a esmagadora maioria dos eleitores entrevistados está dando preferência a uma direita mais identificada com a democracia.

PONTO & CONTRAPONTO

“Vovó Franca” abre o enfrentamento verbal entre Eduardo Braide e Duarte Jr.

Eduardo Braide reagiu à provocação de Duarte Jr.
e entrou na ciranda dos confrontos de campanha

Nada de obras estruturantes, nada de cuidados com o patrimônio arquitetônico da cidade, nada de problemas no sistema municipal de educação, e menos ainda os desafios do sistema de Saúde na Capital. O assunto que motivou o primeiro embate verbal direto entre o prefeito e candidato à reeleição Eduardo Braide (PSD) e o seu oponente Duarte Jr., candidato do PSB, foi a humilde Creche-Escola “Vovó Franca”, localizada nos confins da periférica Vila Riod.

Foi anunciado que a Prefeitura contratará, por R$ 7,7 milhões, a “Vovó Franca” para organizar a festa de comemoração do aniversário de 412 anos de São Luís. Pegando como gancho a confusão em que se transformou a contratação da Creche-Escola “Jujú Cacaia”, no Maiobão, para organizar o Carnaval do ano passado, o atento candidato Duarte Jr. disparou duras críticas ao prefeito Eduardo Braide, acusando o governo dele de corrupção.

O prefeito Eduardo Braide reagiu acusando o candidato do PSB de tentar proibir a comemoração do aniversário de São Luís e de se envolver em assuntos que não são da sua alçada. Com a reação, o prefeito se afastou de novo da posição de indiferença a brado de adversário e resolveu tomar satisfação.

Claro que era tudo o que Duarte Jr. estava querendo com o ataque: tirar o prefeito da fortaleza do silêncio e colocá-lo no tabuleiro da disputa. E aproveitou para turbinar o seu discurso de ataque cobrando do prefeito explicações sobre o caso do Clio vermelho e sua carga milionária, numa jogada destinada a colocar o Eduardo Braide no chão batido da disputa.

Se isso terá algum desdobramento que seja favorável ao candidato Duarte Jr., isso não se sabe. Mas o que ficou evidenciado é que o prefeito Eduardo Braide foi por ele tirado da sua zona de segurança para entrar no embate direto entre os candidatos.

Reprimenda por uso da imagem de Jackson Lago causa incômodo a Fábio Câmara

Imagem que causou mal-estar na família de Jackson Lago

Não bastassem as enormes dificuldades para viabilizar a sua candidatura, conforme promessa feita por ele próprio à cúpula do seu partido, o candidato do PDT à Prefeitura de São Luís, Fábio Câmara, passa pelo dissabor de uma reprimenda da família do ex-governador Jackson Lago à sua iniciativa de incluir a imagem do líder brizolista em peça da sua campanha.

Há, claro, controvérsia em relação à atitude dos familiares do ex-prefeito de São Luís, e muito provavelmente nada mudará, mas isso não impede os parentes de Jackson Lago de se manifestar contrários ao uso da imagem do ex-líder pelo candidato do PDT à Prefeitura de São Luís com fins eleitoreiros. Fábio Câmara busca exatamente mostrar uma identidade que nunca teve com o ex-líder, que dominou a política ludovicense desde que se elegeu prefeito em 1988 e liderou o seu grupo por pelo menos duas décadas, até seu falecimento, depois de ter sido três vezes prefeito das Capital.

Provavelmente haverá um acordo e Fábio Câmara poderá usar a imagem de Jackson Lago, apostando que ela o ajudará a tirar a sua candidatura de uma incômoda e desgastante inércia.

São Luís, 23 de Agosto de 2024.

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