O lançamento da candidatura do prefeito reeleito de Cantanhede, José Martinho, à presidência da Famem, ontem, num almoço com a participação de 49 prefeitos eleitos e reeleitos, seria um fato político absolutamente normal, que certamente contribuiria para a uma disputa mais animada. Mas um detalhe, que causa espécie na seara política, sugere outro cenário: ele é do MDB, apoiado pelo suplente de deputado federal Hildo Rocha, do MDB, fazendo contrapeso à candidatura do prefeito eleito de Bacabal, deputado estadual Roberto Costa, que é vice-presidente regional do MDB. Não há no histórico eleitoral da Famem registro de nenhum caso em que prefeitos do mesmo partido tenham disputado o comando da entidade.
Depois de um longo período de lutas internas, entre a nova e a velha geração, e destino incerto, o braço maranhense do MDB pareceu ter encontrado o caminho do equilíbrio e da condição de partido forte sob a presidência do empresário Marcus Brandão, tendo Roberto Costa como vice-presidente. As diferenças internas ainda obrigaram o MDB a ir para as urnas com duas frente, a estadual, da qual saiu fortemente turbinado com 37 prefeitos, só perdendo para a máquina azeitada do PL de Josimar de Maranhãozinho, que fez 41, e a frente ludovicense, que, sob o comando do deputado federal Cleber Verde, contrariou a orientação de apoiar a candidatura do deputado federal Duarte Jr. (PSB) e apoiou formalmente a candidatura do prefeito Eduardo Braide (PSD) à reeleição.
O fim do processo eleitoral e do alto das suas 37 e parecendo haver assimilado a dissidência no braço do partido em São Luís – que se transformou num jogo familiar do presidente Cleber Verde -, o partido deu forte demonstração de estar caminhando para um ambiente interno de unidade ao abraçar a candidatura do prefeito eleito de Bacabal Roberto Costa à presidência da Famem, inclusive com o apoio declarado do governador Carlos Brandão. Só que o ato organizado pelo emedebista José Martinho com o apoio declarado de do deputado federal Hildo Rocha revelou uma baita cisão no partido.
A pergunta que fica no ar é a seguinte: por que José Martinho e Hildo Rocha partiram para o confronto com Roberto Costa e com o presidente Marcus Brandão? A indagação faz sentido, uma vez que a lógica seria o prefeito de Cantanhede apoiar a candidatura ou propor uma disputa interna para a escolha do candidato do MDB à presidência da Famem. Lançar a candidatura no dia seguinte a uma reunião no Palácio dos Leões, na qual o governador Carlos Brandão e todos os líderes da aliança partidária governista, incluindo a deputada federal Roseana Sarney, declaração apoio à candidatura do prefeito eleito de Bacabal.
O fato é que o lançamento da candidatura do prefeito José Martinho, do MDB, à presidência da Famem, com o apoio do suplente de deputado federal Hildo Rocha, do MDB, contra a candidatura do prefeito eleito de Bacabal Roberto Costa, do MDB, apoiado pelo presidente do MDB e pela principal líder do partido, a deputada federal Roseana Sarney, só pode levar a uma conclusão: o partido rachou feio. E num aspecto mais isolado, o movimento indica que o suplente de deputado federal Hildo Rocha, que não esconde sua insatisfação com os novos rumos do partido e externa, aqui e ali, o desejo de comandar a legenda, decidiu partir para o confronto interno usando a disputa pela presidência da Famem como passo inicial de um movimento mais amplo dentro da agremiação partidária.
É imprevisível a solução dessa situação que sugere a existência de uma crise interna do MDB. Tudo indica que o deputado Roberto Costa e o presidente Marcus Brandão não alterarão o roteiro por meio do qual o prefeito eleito de Bacabal deve chegar à presidência da Famem, por consenso ou na disputa direta pelos votos dos mais de 200 prefeitos filiados à entidade. E se a candidatura de José Martinho não for blefe, haverá disputa entre dois emedebistas.
Só a evolução e o desfecho dessa situação dirão se o MDB está mergulhado numa crise, qual o tamanho dela e o estrago que pode fazer na legenda, que parecia ter ganhado vida nova.
PONTO & CONTRAPONTO
Weverton Rocha tenta construir ponte para uma aliança com Brandão
O senador Weverton Rocha (PDT) tem feito alguns movimentos no sentido de abrir um canal de diálogo com o governador Carlos Brandão (PSB) com o objetivo de construir uma aliança que o leve a ser o parceiro do governador numa eventual chapa para disputar as duas vagas no Senado da República em 2026.
Os gestos fazem todo sentido para o senador. Qualquer avaliação mais cuidadosa sobre a situação do líder do que restou do PDT no Maranhão certamente concluirá que a parceria com o governador é o único meio pelo qual o senador tem alguma chance de renovar o mandato, caso ele venha a ter o apoio efetivo do presidente Lula da Silva (PT), como tem dito aos seus colaboradores mais próximos.
O problema é que na direção dessa vaga está rumando o ministro André Fufuca (Esporte), que está com a sua pré-candidatura ao Senado engatilhada e que será muitas vezes reforçada se Rildo Amaral (PP) for eleito prefeito de Imperatriz neste domingo, como as pesquisas estão indicando.
O problema do senador Weverton Rocha é que ele tem de definir essa equação o mais rapidamente possível, mas as condições políticas não estão permitindo que o martelo seja batido logo em relação ao seu futuro.
Vereadores trocam acusações no plenário da Câmara, mas sem agressões
Forte a discussão, ontem, na Câmara de São Luís, entre a vereadora Fátima Araújo (PCdoB), que teve mais de cinco mil votos, mas não se reelegeu, e o vereador Aldir Jr. (PL), que saiu das urnas com mais de 10 mil votos. Sem citar nome, mas dando indicações, ela o acusou de comprar votos na sua área de atuação, o complexo de pequenos bairros polarizado pelo João de Deus.
A rigor não houve discussão. Fátima Bezerra ocupou a tribuna e durante quase 15 minutos relatou os seus feitos naquela região, em relação à qual se definiu como “mãe”, acusando o vereador, sem citar o seu nome, de tê-la destratado e corrompido eleitores seus. E agradeceu os mais de dois mil votos que recebeu na sua base, “invadida” por Aldir Jr., cuja base principal é a região do Cohatrac. Disse que tem vídeos que comprovam a compra de votos, mas não os apresentou.
Em seguida, Aldir Jr. vestiu a carapuça e ocupou a tribuna para responder. Fez um discurso duro, mas sem ofensas e dentro dos limites da civilidade. Rebateu as acusações da vereadora Fátima Araújo, ironizando a autoproclamação dela como “mãe” do João de Deus e anunciando que a partir de agora aquela região terá um “pai”. E prometeu que esse “pai” fará pelo bairro “tudo o que ela fez, mas muito mais e muito melhor”.
Nada além disso.
São Luís, 23 de Outubro de 2024.