Dois discursos feitos ontem na Assembleia Legislativa deram a dimensão política da histórica disputa pela presidência do Poder Legislativo, realizada na quarta-feira (13/11), entre a presidente Iracema Vale (PSB) e o deputado Othelino Neto (Solidariedade), que resultou em empate numérico (21 votos a 21) e foi definida pela maior idade, com a reeleição da chefe do parlamento estadual. Vencedora, a presidente Iracema Vale agradeceu a Deus, negou influência externa a seu favor, avaliou que sua votação foi fruto do reconhecimento pelo seu trabalho nesses dois anos e garantiu que a presidência não a envaidece e que continuará atuando pelos 42 deputados, compromissada com a ética. Vencido, mas também se definindo como vencedor, o deputado Othelino Neto agradeceu os 20 votos que recebeu – quando a expectativa mais otimista não passava de oito votos -, afirmou que deputados foram pressionados, reconheceu os méritos da sua adversária e reafirmou que continuará na oposição, “em defesa do legado do governador Flávio Dino”.
O ponto de convergência dos dois pronunciamentos foi o reconhecimento por ambos de que a Assembleia Legislativa deu uma demonstração de independência, de democracia e sem quebrar a harmonia entre os Poderes.
Sem contar com pelo menos 15 votos que lhe haviam sido prometidos e que migraram para o candidato oposicionista, a presidente Iracema Vale correu o risco concreto de não vencer a eleição. E com a agravante de que a “migração” de parte da base governista para a oposição não foi declarada, ganhou forma na contagem dos votos, causando espanto geral. Diante desse cenário, no qual a relação de poder foi radicalmente alterada, a presidente buscou o equilíbrio no comentário: “Agradeço aos que reconheceram minha condução à frente do Legislativo. E, aos que não votaram em mim, meu agradecimento também, pois essa experiência me trouxe ensinamentos e evidenciou a riqueza do processo democrático”. E acrescentou com a estatura de uma chefe de Poder: “Eu continuarei presidente dos 42 deputados. O jogo zerou”.
O deputado Othelino Neto, por sua vez, se declarou vencedor, mas sem contestar a vitória da presidente, agradecendo as duas dezenas de votos que recebeu e também aos 21 que não lhe deram o voto. Na sua avaliação, com a eleição, ele e seus colegas “demos uma demonstração de maturidade política”. Afirmando, em seguida, que os votos dados à presidente Iracema Vale foram méritos dela, frutos da sua relação com os deputados”. Para ele, 21 deputados disseram que a relação com o Governo “não está boa”. E acrescentou: “Foi um recado silencioso”. E mais: “Ontem nos demos um recado para o Maranhão”. E reafirmou sua posição de oposicionista, afirmando que a eleição mostrou que há problema na base governista.
As duas manifestações convergiram, portanto, para outro ponto: a eleição da Mesa Diretora, em especial a da presidente Iracema Vale para novo mandato, mostrou que, de fato, existem fissuras na base governistas que precisam ser consertadas. E isso depende de uma ampla e cuidadoso trabalho de articulação política. Até porque os fatos remeteram para evidência nítidas, sendo a principal delas a força do dinismo, parte exposta e ativa e parte integrada à bancada governista. Vale anotar que essa base jamais negou apoio integral às propostas do Governo, votando a favor, em bloco, sem maiores questionamentos. O racha ocorrido na eleição para a presidência da Assembleia Legislativa veio no rescaldo das eleições municipal, da qual, segundo a presidente Iracema Vale, “ninguém saiu inteiro”.
Ontem, passado o impacto inicial da tsunami que movimentou o plenário da Assembleia Legislativa nas quarta-feira, o governador Carlos Brandão, que é um político experiente e conhece o caminho das pedras, se reuniu com os seus principais aliados e conselheiros políticos para avaliar o cenário e definir um rumo.
PONTO & CONTRAPONTO
PL mantém silêncio sobre a posição da bancada na eleição da Mesa da AL
Embora ninguém exiba uma prova concreta, uma vez que o voto foi secreto e o movimento em torno da candidatura do deputado Othelino Neto tenha sido muito bem articulado, dez entre dez especuladores, garantem que os cinco deputados do PL – Fabiana Vilar, Aluísio Santos, Solange Almeida, Cláudio Cunha e Pará Figueiredo – estavam compromissados com Iracema Vale, teriam mudado na véspera e votado em Othelino Neto.
A deputada Fabiana Vilar, apontada como a voz do deputado federal Josimar de Maranhãozinho, chefe maior do partido no estado, vem se mantendo discreta, evitando dar declaração sobre o assunto, sem soltar qualquer pista que confirme a virada da bancada do PL. Da mesma maneira, os outros deputados do PL parecem ter feito um pacto de silêncio, porque nada dizem sobre a posição da bancada.
Nos bastidores, o que está sendo dito é que o PL vai continuar sem problemas na base governista, podendo ganhar até uma secretaria. Esses rumores indicam que a pasta almejada pelo PL é a Secretaria das Cidades e Desenvolvimento Urbano, que atualmente está sob o comando do PCdoB.
Tsunami que invadiu a Assembleia Legislativa não deve chegar à Câmara de São Luís
Os adeptos da “teoria da conspiração” estão fazendo um visível esforço para transportar para a Câmara Municipal de São Luís a crise na bancada governista que deu dimensão histórica à eleição para a presidência da Assembleia Legislativa. Alguns acreditam que a tsunami que invadiu o Palácio Manoel Beckman pode desaguar também no Palácio Pedro Neiva de Santana.
Ali, porém, o cenário é bem diferente. O presidente Paulo Victor (PSB), que se revelou um político hábil e arrojado, saiu muito na frente, vem construindo sua candidatura à reeleição voto a voto, já tendo conseguido o apoio da maioria dos novos vereadores, contando também com quase todos os vereadores reeleitos.
Com a experiência de quem já comanda o parlamento ludovicense há dois mandatos presidenciais, ele conhece cada um dos seus pares atuais. E tem trabalhado o apoio dos que se reelegerem sem perder o fio da meada até mesmo com os que não retornarão, dando uma demonstração de lealdade à integridade do mandato.
Ainda que seja uma Casa essencialmente política e com um histórico de independência em relação ao Palácio de la Ravardière, Câmara Municipal é um ambiente completamente diferente da Assembleia Legislativa.
São Luís, 15 de Novembro de 2024.