“É a nossa intenção, que siga a naturalidade das coisas. Brandão foi vice do Flávio (Dino), foi um vice muito leal. Flávio renunciou, foi o senador mais votado da história, foi ministro da Justiça e hoje está no Supremo. Então, o nosso líder político hoje é o governador Brandão. Eu quero muito que a gente caminhe para essa mesma naturalidade. Que o Brandão possa ser o candidato a senador, seja o meu candidato a senador, o senador mais votado da história. E eu seja o candidato dele a governador; dele, do PT, do Lula, do povo do Maranhão. É nisso que a gente tem trabalhado todos os dias. (…) Então, espero que a gente caminhe para essa normalidade, se Deus quiser”.
Com essa declaração, dada em resposta a uma provocação durante entrevista concedida ontem à TV Meio Norte, de Teresina (PI), o vice-governador Felipe Camarão (PT) reafirmou sua intenção de disputar o Governo do Estado em 2026 como candidato apoiado pelo governador Carlos Brandão (PSB), e como o seu candidato ao Senado. Para ele, esse seria o caminho da “naturalidade” e pelo qual tem “trabalhado todos os dias”. A manifestação do vice-governador demonstra que ele aposta alto nesse projeto.
Uma interpretação fria e isenta leva facilmente à conclusão de que, ao colocar as coisas nesses termos, o vice-governador evidencia que o que ele chama de “naturalidade” vai exigir uma construção muito mais complexa do que muitos imaginam. E mais do que isso, vai cobrar dele próprio muito esforço político e muita habilidade para lidar com os obstáculos que parecem ganhar forma diante do seu projeto político. E não basta ser o vice-governador e candidato do PT para se viabilizar. Nos 18 meses que faltam para a decisão do “sai ou não sai”, o jogo terá de ser jogado com muito cuidado, muito desprendimento e sem imposição.
Para começar, sua merecida ascensão à vice-governança, alcançando o status de elite de uma nova geração de políticos promissores, não incluiu o compromisso de que a normalidade por ele pregada fosse acontecer como fato consumado. E como não houve um acordo declarado nesse sentido, o governador Carlos Brandão tem todo o direito de se sentir à vontade para dar rumo que julgar adequado à sua sucessão. Isso não quer dizer que ele não venha a apoiar uma eventual candidatura do vice-governador ao Palácio dos Leões. Como também não significa que ele não venha optar por outro caminho sucessório.
O que parece claro, no momento, é que a questão sucessória está em aberto. Inclusive pelo fato de que, se não aconteceu um rompimento formal, não há como negar que a banda dinista está cada vez mais afastada da aliança hoje liderada pelo governador Carlos Brandão, que comanda um Governo politicamente forte, como ficou demonstrado na robusta vitória que ele e seus aliados obtiveram nas eleições municipais. Numa leitura direta dos fatos, fica evidente que o governador construiu uma base que lhe permite dar as cartas na sua sucessão, podendo sair para ser candidato a senador ou permanecer no Governo até o final, com a possibilidade real de fazer o seu sucessor.
Quando aceita uma provocação jornalística e dá a declaração que deu à TV Meio Norte, o vice-governador Felipe Camarão se coloca na corrida sucessória, dando a entender que está ciente das dificuldades que esse projeto pode enfrentar. Mas também deixa no ar a impressão de que vai usar todos os trunfos que tiver ao seu alcance para conquistar o apoio do governador Carlos Brandão ao seu projeto de chegar ao Palácio dos Leões. Sabe que uma construção política dessa magnitude é complexa e leva tempo, e isso pode explicar a franqueza com que respondeu à provocação sobre o assunto.
PONTO & CONTRAPONTO
Aliados pressionam Maranhãozinho a deixar o PL, mas ele sinaliza que vai permanecer
O deputado federal Josimar de Maranhãozinho, comandante maior do PL no Maranhão, está sendo pressionado por aliados a deixar o partido e procurar uma agremiação que “reconheça o seu trabalho”, como sugeriu em nota um dos seus mais fiéis parceiros, a prefeita reeleita de Chapadinha, Ducilene Belezinha (PL). Para ela, não vale a pena permanecer num partido onde tentam minar a sua base de apoio.
O líder do PL maranhense é um político traquejado, que conhece as regras do jogo e sabe como deve se comportar numa situação como essas. E por enquanto não parece inclinado a ceder à pressão do ex-presidente Jair Bolsonaro e deixar o partido. Prefere esgotar todas as possibilidades, deixando a palavra final para o presidente da legenda, Waldemar Costa Neto, com quem tem relação quase familiar.
Em meio à crise causada pela destituição da deputada federal Detinha do comando do PL Mulher no Maranhão, cujo comando foi repassado pela vereadora eleita de São Luís Flávia Berthier (PL), Josimar tem ouvido manifestações de apoio da maioria dos 41 prefeitos eleitos pelo PL, todos reafirmando a sua liderança no braço maranhense do partido.
Braide e Eliziane aguardam decisão sobre o futuro do PSD no Maranhão
É incerto o futuro do PSD no Maranhão. Nos bastidores há sinais de uma peleja entre o prefeito Eduardo Braide, que comanda o partido em São Luís, e a senadora Eliziane Gama, que atua pela legenda em âmbito estadual, apoiada pelo ex-deputado Edilázio Jr., que preside a agremiação no plano regional.
Eduardo Braide tem o cacife de prefeito reeleito em 1º turno, vitória que repercutiu nacionalmente, sendo apresentada como trunfo pela cúpula nacional do partido. Eliziane Gama, por sua vez, mesmo em fim de mandato, mantém largo prestígio no Congresso Nacional, por sua intensa ação parlamentar, e no Governo do presidente Lula da Silva (PT), de quem é aliada de primeira hora. Seu prestígio está demonstrado pela sua candidatura à presidência do Senado, que não tem chance de vitória, mas vale como demonstração de prestígio.
O presidente do partido, Gilberto Kassab, trabalha afagando os dois lados, sabendo que logo, logo terá de decidir com quem ficará o braço maranhense do PSD.
São Luís, 09 de Novembro de 2024.