O governador Carlos Brandão (PSB) reassumiu na quarta-feira (30), animado para dar prosseguimento à agenda de Governo, mas também já sabendo que terá de dedicar parte do seu tempo às articulações políticas e partidárias para as eleições municipais do ano que vem. Era seu propósito manter distância dessa ciranda até o final do ano, para nela entrar somente a partir de janeiro. O jogo político, porém, principalmente em ano eleitoral – o próximo começa em outubro -, costuma impor uma dinâmica bem mais intensa do que os atores costumam planejar, o que faz com que, no caso, o governador se veja obrigado a rever sua agenda para, aos poucos, assumir o papel que lhe cabe no tabuleiro em que se dará a guerra eleitoral. São 217 disputas municipais, nas quais o ocupante do Palácio dos Leões tem interesse direto apoiando candidatos a prefeito, sem exceção. As articulações para a definição de candidaturas passam, via de regra, pelo Palácio dos Leões, mais especificamente pela mesa do chefe do Governo.
Do maior ao menor município, Carlos Brandão tem equações complexas para resolver. A principal delas é exatamente em São Luís, onde o prefeito Eduardo Braide (PSD) atua no campo adversário e busca a reeleição, deixando ao governador caminhos dois possíveis. O primeiro é lançar um ou mais candidatos governistas – o deputado federal Duarte Jr. (PSB) ou o presidente das Câmara, vereador Paulo Victor (PSDB), ou os dois à base do cada um por si – apostando num segundo turno. O segundo é fazer uma aliança com o prefeito, o que contrariaria boa parte da sua base. Essas situações já estão postas no seu birô. O importante é participar do processo e sair dele como vencedor, ainda que na esteira de um acordo, pois uma derrota seria politicamente desgastante.
O mesmo desafio está posto em outras grandes cidades, como Imperatriz, Caxias, Timon, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Bacabal, por exemplo. Em Imperatriz, o segundo maior município maranhense, o Palácio dos Leões caminha para respaldar a candidatura do deputado estadual Rildo Amaral (PP), que é aliado firme e lidera com folga as pesquisas de intenção de voto. No caso de Caxias, há tempos o governador Carlos Brandão vem trabalhando uma composição reunindo os grupos Gentil, comandado pelo prefeito Fábio Gentil (Republicanos), aliado de primeira hora, e Coutinho, também aliado fiel do Governo, o que está ganhando forma com a pré-candidatura do engenheiro Gentil Neto. Em Timon, outro centro politicamente complicado, o governador atua para apoiar a candidatura do deputado estadual Rafael Souza (PSB), que enfrentará a prefeita Dinair Veloso (PDT), do grupo Leitoa, e ainda uma terceira via com a candidatura do coronel/PM Hormann Schnneyder (MDB).
Nesse tabuleiro, o governador Carlos Brandão tem nós complicados para desatar, como o de São José de Ribamar, hoje o terceiro maior município do Maranhão. Ali, o prefeito Júlio Matos (PL), de oposição, se prepara para buscar a reeleição, sem que as forças governistas, que devem ser coordenadas pelo ex-prefeito Luiz Fernando Silva, ainda não definiram o candidato, estando inclinadas a lançar o ex-deputado estadual J. Pinto (PSDB), podendo surgir uma terceira via com a (im)provável candidatura do ex-prefeito Gil Cutrim (Republicanos). Em Passo do Lumiar, que já é o sexto maior município maranhense, Carlos Brandão poderá apoiar a candidatura do ex-vereador Fred Campos (PSDB), numa bem armada articulação do chefe da Casa Civil, Sebastião Madeira, atual presidente da legenda tucana no estado. E se tudo continuar como está, os Leões apoiarão a provável candidatura do deputado Roberto Costa (MDB) em Bacabal.
Carlos Brandão sabe que, assim como em São Luís, a movimentação partidária para definir candidaturas já é intensa também no interior. Sabe também que há muitas pendências e indefinições nesse enorme tabuleiro e que muitas delas terão de ser resolvidas no gabinete principal do Palácio dos Leões. E sabe, principalmente, que nesse jogo as decisões não podem tardar.
PONTO & CONTRAPONTO
Renascido das cinzas, PSDB se turbina a partir da Ilha de Upaon Açu
Para um partido que até cinco meses atrás praticamente não existia no Maranhão, depois de ter alcançado o apogeu sob a liderança do ex-governador João Castelo e de ter mergulhado no limbo político sob a tutela do ex-senador Roberto Rocha, o PSDB caminha para ser uma sigla no tabuleiro político maranhense.
Sob o comando do ex-prefeito de Imperatriz e atual chefe da Casa Civil Sebastião Madeira, o mais autêntico tucano maranhense, o PSDB praticamente renasceu das cinzas, ganhando força principalmente na Ilha, onde sentou praça com força para ter participação importante nos seus municípios.
Em São Luís, onde nada tinha, o PSDB foi turbinado com a filiação do vereador-presidente Paulo Victor mais quatro vereadores. Em seguida, ganhou a filiação de Ociléia Fernandes, candidata forte à Prefeitura de Raposa. Ontem, o partido teve confirmada a filiação do ex-vereador Fred Campos, que lidera, com larga vantagem, a corrida para a Prefeitura de Paço do Lumiar.
E nos bastidores correm rumores de que terá candidato em São José de Ribamar numa frente que estaria sendo articulada com o apoio do ex-prefeito Luiz Fernando Silva. Esse movimento está acontecendo em muitos outros municípios, criando uma expectativa positiva para o comando da legenda nas próximas eleições.
Dino acerta na mosca quando diz que Governo Lula não é de esquerda
Considerado até aqui o ministro mais lúcido e realista da equipe do presidente Lula da Silva (PT), o ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, deu ontem uma declaração que pode, finalmente, colocar o Governo liderado pelo PT no seu devido patamar ideológico.
Disse ele: “O nosso governo liderado pelo presidente Lula não é de esquerda”.
E logo em seguida ofereceu a definição exata: “É um governo que expressa maioria democrática”.
Dada em meio ao debate sobre votos conservadores do ministro Cristiano Zanin, recém empossado no Supremo Tribunal Federal por indicação do presidente Lula da Silva, em questões complexas, como o marco temporal para a demarcação de terras indígenas, contrariando a posição do Governo, a declaração de Flávio Dino veio na hora certa.
Como é sabido, a oposição bolsonarista ataca a gestão do presidente Lula da Silva como a de um “governo comunista”, o que não encontra eco na realidade. A rigor, o Governo Lula da Silva não pode nem ser rotulado de “socialista”, exatamente por não se enquadrar nesse perfil,. Por isso não pode ser rotulado de “esquerdista”
Identificar o Governo Lula da Silva como “comunista”, como faz a tropa bolsonarista, é uma bobagem só alimentada pela turma do ex-presidente da República.
São Luís, 01 de Setembro de 2023.