Difícil imaginar a cena registrada na noite de terça-feira, no Palácio dos Leões: o deputado Rafael Brito (PSB), de mãos dadas com a ex-deputada Socorro Waquim, formando uma chapa, ele como candidato a prefeito de Timon e ela como candidata a vice. E mais: o deputado Leandro Bello, que é uma espécie de terceira via no município, foi incluído no pacote como apoiador da chapa que vai enfrentar o grupo Leitoa, que dá sustentação à prefeita Dinair Veloso (PDT), candidata à reeleição. A aliança, cuidadosamente moldada, é um exemplo do que está acontecendo em diversos municípios nos quais composições alinhadas ao Governo pareciam impossíveis, mas que têm sido viabilizadas pela habilidade política do governador Carlos Brandão (PSB), auxiliado por políticos experientes que formam o “núcleo duro” do Governo, como Sebastião Madeira (PSDB), chefe da Casa Civil, e Luís Fernando Silva, atual secretário geral da Governadoria.
Na mesma data, aconteceu em Paço do Lumiar uma aliança mais que improvável: o ex-prefeito Gilberto Aroso (MDB) declarou apoio ao pré-candidato do PSB, Fred Campos, que tem o apoio do Palácio dos Leões. Essa aliança praticamente sela o favoritismo do ex-vereador e empresário Fred Campos, mesmo que a prefeita Paula da Pindoba (PCdoB) venha a lançar um candidato. Outros casos, como o de Imperatriz, onde duas candidaturas governistas – Rildo Amaral (PP) e Marco Aurélio (PSB) – podem favorecer o candidato oposicionista (Josivaldo JP [PSD]) nas urnas, encontram-se pendentes em diferentes regiões, mas nas fileiras governistas ninguém duvida que essa pendência é apenas uma questão de tempo.
Na verdade, todas as evidências indicam que, depois de um início de ano movimentado pela saída de cena do agora ministro do STF Flávio Dino, pelo período carnavalesco e pelos ajustes na máquina governista, o governador Carlos Brandão organizou sua agenda com a definição de um bom espaço para a política. Afinal, ele lidera uma aliança cujos partidos querem sair fortes das eleições municipais deste ano e cacifados para as eleições gerais de 2026. E a montagem de alianças na esfera municipal é, muitas vezes, uma tessitura complexa, que não raro envolve interesses quase inconciliáveis.
Ao contrário do que alguns pensam, Carlos Brandão conhece esse tabuleiro como poucos, fruto de uma vivência que começou como chefe da Casa Civil no Governo José Reinaldo (2003/2007), que culminou com a grande articulação que resultou na eleição de Jackson Lago (PDT), atropelando o ainda muito poderoso esquema político sarneysista. Depois vieram dois mandatos de deputado federal e, finalmente, dois mandatos de vice-governador nos Governos Flávio Dino (2015/2022). Em todo esse período, Carlos Brandão atuou como articulador nos bastidores, conhecendo a situação política de cada um dos 217 municípios.
No momento, Carlos Brandão começa a trabalhar para ajustar a sua base política e partidária. Isso porque no seu próprio partido, o PSB, há vozes que não andam afinadas com a do Governo. O imbróglio envolvendo o preenchimento da vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE), para a qual foi indicado o advogado Flávio Costa, e posições assumidamente não alinhadas ao Governo, como a do deputado Othelino Neto (PCdoB), declarada ontem na tribuna da Assembleia Legislativa, são questões delicadas, que passam a impressão de que existe uma crise em andamento. Elas serão colocadas na mesa na hora certa e o desfecho das conversas dirá para que lado o Governo vai pender.
Mas no campo político o foco maior agora são as montagens para as eleições municipais, que envolvem muita gente e muitos interesses. A abertura da janela partidária, hoje, para vereadores em fim de mandato, resolverá várias e importantes pendências, que poderão definir situações complicadas, como a do presidente da Câmara Municipal de São Luís, vereador Paulo Victor, que era do PCdoB, migrou para o PSDB e deve formalizar seu ingresso no PSB, partido que vai controlar em São Luís. Fora da janela partidária, o ex-deputado Marco Aurélio, pré-candidato a prefeito de Imperatriz, deve deixar o PSB, podendo desembarcar no PDT.
A solução do caso tocantino e de outros enroscos só virá com um bom trabalho de articulação política. E isso o governador Carlos Brandão sabe fazer.
PONTO & CONTRAPONTO
Rafael Brito deixa liderança do Governo e pode ser substituído por Neto Evangelista
Não é oficial, mas todas os ventos sopraram ontem à noite informando que o governador Carlos Brandão pode nomear o deputado Neto Evangelista (União Brasil) como líder do Governo na Assembleia Legislativa em substituição ao deputado Rafael Brito (PDT), que vai se dedicar agora à sua candidatura à Prefeitura de Timon.
Se Neto Evangelista for mesmo nomeado para a Liderança do Governo no parlamento estadual, como indicaram fontes confiáveis ontem à noite, ele dificilmente será candidato à Prefeitura de São Luís, como estava proposto em negociações com o seu partido. Não faria muito sentido ser nomeado líder agora e ter de se afastar em abril. Isso porque Liderança do Governo é um cargo, com nomeação e tudo o mais.
A substituição de Rafael Leitoa por Neto Evangelista é uma demonstração de que o governador Carlos Brandão conhece o ambiente parlamentar. Perde um líder articulado, modesto, mas muito ativo e ganha um líder com praticamente as mesmas características, uma vez que Neto Evangelista transita com desenvoltura entre os deputados, sendo por eles respeitado. Tanto que foi eleito mais uma vez para presidir a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, a mais importante do parlamento estadual.
Rafael Brito foi um dos mais longevos líderes de Governo dos últimos tempos. Ele foi nomeado ainda no primeiro Governo Flávio Dino, foi confirmado depois das eleições de 2018, quando renovou o mandato, e foi mantido até ontem pelo governador Carlos Brandão. Engenheiro civil por formação, Rafael Brito nasceu político na Juventude do PDT e se tornou um exemplo de político correto, ilibado e comprometido com as causas nobres.
Ontem, ao se despedir do posto e anunciar sua pré-candidatura à Prefeitura de Timon, Rafael Brito foi muito elogiado por seus colegas. E pelo que se ouve nos bastidores, ele tem chances concretas de chegar à Prefeitura de Timon.
Deputado sugere intervenção na Prefeitura de Imperatriz, “que está desgovernada”
O deputado Ricardo Seidel (PSD) sugeriu ontem que a Assembleia Legislativa examine a possibilidade de viabilizar uma intervenção na Prefeitura de Imperatriz. Ele não disse como isso seria possível, mas defendeu a saída imediata do prefeito Assis Ramos do controle administrativo da segunda maior e mais importante cidade do Maranhão. E festejou o fato de a Câmara Municipal ter inviabilizado um empréstimo no valor de R$ 60 milhões, levando o prefeito Assis Ramos a retirar a proposta.
Nas contas de Ricardo Seidel, Imperatriz tem hoje uma dívida pública de R$ 350 milhões e uma dívida ativa no valor de R$ 150 milhões. O empréstimo inviabilizado ontem elevaria a dívida em R$ 60 milhões mais juros. “Os vereadores de Imperatriz estão de parabéns”, disse.
A exemplo do que tem feito todos os dias, o parlamentar – que é do mesmo partido do pré-candidato Josivaldo JP (PSD), que estaria liderando a corrida – repetiu na tribuna a catilinária e atacou duramente a atual gestão municipal, afirmando que Imperatriz “está desgovernada”, “totalmente sem controle”. Na sua avaliação, “essa administração chegou ao seu ponto final, parou, não tem mais para onde ir”.
Como que seguindo uma orientação, a deputada Janaína Ramos (Republicanos), que é a primeira-dama de Imperatriz, não dá a menor importância aos ataques do deputado.
São Luís, 07 de Março de 2023.