Ao assumir ontem, em Brasília, a presidência do PSB no Maranhão e anunciar que vai fortalecer a pré-candidatura do deputado federal Duarte Jr. à Prefeitura de São Luís, o governador Carlos Brandão protagonizou muito mais do que uma troca de comando partidário. Isso porque o ato, comandado pelo presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, e presenciado pelo ministro interino da Justiça e Segurança Pública Ricardo Capelli, marcou, formalmente, o fim da “era” Flávio Dino na política partidária maranhense. Carlos Brandão recebe uma máquina partidária azeitada, com 11 deputados estaduais, um deputado federal e um senador da República, no caso a senadora Ana Paula Lobato, que será titularizada no mandato no dia 22 de fevereiro, quando o ainda senador Flávio Dino cortar os laços partidários para se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal. O ato ganhou mais força ainda quando o governador anunciou a presidente da Assembleia Legislativa, deputada Iracema Vale, na vice-presidência do partido. Ou seja, Carlos Brandão terá o controle total da legenda.
Ao consumar a sucessão no comando do PSB maranhense, a cúpula nacional da agremiação blinda o partido da fragilização e do esvaziamento. Sem essa reengenharia, e permanecendo sob o controle do ex-deputado federal Bira do Pindaré, a agremiação socialista mergulharia na incerteza e muito provavelmente seria atingida por um processo implacável e irreversível de emagrecimento. Uma das rotas levaria ao MDB, que está se reestruturando exatamente para isso, e outra conduziria ao PSDB. O MDB, que agora é comandado pelo empresário Marcus Brandão, e o PSDB, renascido das cinzas pelas mãos do chefe da Casa Civil, Sebastião Madeira, são partidos que se encaixam perfeitamente na visão política do governador Carlos Brandão e seu grupo.
A expectativa agora é em relação aos membros do partido que seguem a cartilha política do senador Flávio Dino, como o próprio deputado federal Duarte Jr. e o deputado estadual Carlos Lula, por exemplo. Ao abraçar a pré-candidatura de Duarte Jr. à Prefeitura de São Luís, e com a promessa declarada de fortalecê-la, Carlos Brandão deixou bem claro que pretende manter o PSB unido em torno da sua liderança. Numa tradução mais ampla, o governador disse, com todas as letras, que seu objetivo é manter o PSB forte e trabalhar pela estabilidade da aliança que mantém 13 partidos na base de sustentação do seu Governo. Além disso, esse é provavelmente o resultado das longas conversas que travou com o ministro Flávio Dino desde que o presidente Lula da Silva (PT) bateu martelo indicando-o para a vaga na Suprema Corte.
Carlos Brandão jogou a cartada certa ao assumir o comando do PSB. Ao se manter nessa seara partidária, ele consolida e amplia o espaço que já tinha na agremiação, estreitando mais ainda os laços com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que representa o PSB no Governo e com quem cultiva amizade desde os seus tempos de PSDB. Se migrasse para outro partido, fosse para o MDB ou para o PSDB, estaria certamente dando um passo em falso. E com a experiência de que já vivenciou tudo em matéria de política no Maranhão, tomou posição cartesiana, baseada na lógica implacável que dá rumo à política num campo partidário minado como o que move o cenário político na atualidade.
O governador Carlos Brandão sabe que suceder a Flávio Dino não é tarefa fácil, mas tem personalidade política própria e já acumulou experiência suficiente para assumir o comando do Governo do Estado e deixar no estado a sua marca como político e como gestor. A prova disso é a inexistência de oposição na Assembleia Legislativa e na bancada federal. Esse estado de coisas foi alcançado sem uma única medida de força, na conversa direta, sem estardalhaço, com todos os traços da velha e eficiente conversa de pé do ouvido.
PONTO & CONTRAPONTO
Apoio declarado de Brandão a Duarte Jr. é má notícia para Braide
Ao assumir ontem a tarefa de “fortalecer” a pré-candidatura do deputado Duarte Jr. à Prefeitura de São Luís pelo PSD, o governador Carlos Brandão colocou as cartas na mesa em relação ao futuro político da Capital. O governador ouviu e atendeu aos sinais da cúpula nacional do partido e decidiu “comprar” a briga no sentido de impedir a reeleição do prefeito Eduardo Braide (PSD) e emplacar um aliado no Palácio de la Ravardière.
Carlos Brandão chamou para si um desafio e tanto, uma vez que monitora a evolução do cenário pré-eleitoral na Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade e tem a dimensão exata do peso político e eleitoral do prefeito Eduardo Braide, apontado como favorito nas seis pesquisas confiáveis feitas até aqui, tendo o deputado federal Duarte Jr. como o adversário mais forte.
O anúncio feito ontem pelo próprio governador Carlos Brandão ecoou fortemente no gabinete principal do Palácio de la Ravardière. Isso porque muda completamente o cenário da corrida às urnas. Até então, a pré-candidatura do deputado federal Duarte Jr. parecia apenas um projeto pessoal, carente de suporte, mesmo tendo ele um potencial eleitoral indiscutível. Agora, ele ganha a estatura de pré-candidato do grupo governista, tendo o chefe do Executivo como uma espécie de “coordenador” da sua campanha.
Não foi, de fato, uma boa notícia para o prefeito Eduardo Braide. Mas pelo menos ele começa o ano sabendo o tamanho da dificuldade que enfrentará no roteiro da sua caminhada à reeleição.
Weverton ainda não sabe com o situar o PDT na corrida em São Luís
O senador Weverton Rocha e o PDT estariam numa encruzilhada em São Luís. O partido não tem nome para disputar a Prefeitura e não sabe ainda a quem apoiar.
Nos bastidores, é corrente que as relações da agremiação pedetista com o prefeito Eduardo Braide chegaram a limite do desgaste, não havendo qualquer sinal de que a aliança que se deu no segundo turno de 2020 venha a se repetir agora.
Weverton Rocha avalia também uma aliança do PDT com o União Brasil em torno do deputado Neto Evangelista, mas há quem diga que a cúpula do União Brasil no Maranhão estaria fazendo sérias restrições a esse projeto de aproximação.
E, finalmente, o PDT poderá entrar na aliança que apoiará a candidatura do deputado federal Duarte Jr. (PSB). Pode ser, mas aí também há resistências muito severas a esse projeto. Para alguns, as restrições a essa aliança começam dentro do Palácio dos Leões.
O maior problema do presidente do PDT: os vereadores e candidatos a vereador do partido querem uma definição, para que tenham um norte na campanha.
São Luís, 28 de Dezembro de 2023.