Se alguém apostou que o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), se deixaria abater pela artilharia pesada contra ele disparada por causa do Clio vermelho encontrado numa rua do bairro Renascença com R$ 1,1 milhão em espécie no porta-malas, pode ter cometido um grave erro de avaliação e perdido feio. Isso ficou muito claro, ontem de manhã, durante a entrevista que ele concedeu à Rádio Mirante News FM, na condição de candidato à reeleição. O prefeito foi sabatinado sem rodeios, e quando confrontado com o caso, foi direto: “Quem tem que ter medo de polícia é bandido. Então, eu não tenho medo de polícia. Ao contrário, eu acredito na polícia e espero que ela avance nas investigações, e, em caso de qualquer ilegalidade que possa ser encontrada, que os culpados sejam punidos na forma lei, não tem nenhum problema em relação a isso daí. Quem não deve, não teme”.
Eduardo Braide manteve a mesma postura exibida no vídeo em que falou do assunto pela primeira vez, na semana passada, e reafirmou o que vem dizendo sobre o caso: nada tem a ver com o dinheiro encontrado no Clio vermelho, apoia sem reservas a investigação policial, e se algo de errado for encontrado, que o culpado ou os culpados sejam submetidos aos rigores da lei, independentemente de quem sejam. Ou seja, doa a quem doer.
Na emissora, numa conversa franca com jornalistas, Eduardo Braide foi o de sempre: seguro, racional, sem elevar a voz, sem fazer gestos histriônicos, enfim, um dirigente municipal com os pés no chão e uma personalidade política muito diferente da média. Quando perguntado sobre a declaração de um advogado afirmando que o Honda Fit que deu apoio ao motorista do Clio vermelho “era usado por toda a família”, o que naturalmente o incluiu, o prefeito reagiu com a frieza que lhe é peculiar, classificou a declaração de “mentirosa”. Mais do que isso, deixando patente que ele não fez uso de tal veículo, como insinuara o advogado na sua declaração, anunciou: “Ele vai responder a uma ação criminal, porque ele fez uma afirmação mentirosa. Que ele prove na Justiça”.
A racionalidade e o pragmatismo do prefeito de São Luís durante a entrevista ficaram mais evidenciados na resposta que deu quando lhe perguntaram sobre o seu relacionamento com o governador Carlos Brandão (PSB): “O meu relacionamento com o governador sempre foi institucional. Eu sempre busquei ter harmonia. As vezes que tive necessidade de conversar com o governador, peguei o telefone, liguei para ele para tratar de algum assunto institucional. Da mesma forma, quando ele quis conversar comigo em relação a algum assunto institucional, ele pegou o telefone e me ligou. Cheguei a fazer visita a ele lá no Palácio dos Leões, como foi amplamente divulgado”.
E no que diz respeito a essa relação no campo político, o que muitos veriam como um problema, um foco de crises, o prefeito Eduardo Braide minimiza e transforma numa equação simples: “Nós temos um fato: um candidato, que é o candidato da oposição, é do partido do governador, é apoiado pelo governador. Então, o governador do Estado tem um candidato a prefeito, que é do partido dele, que não sou eu. Então, é natural isso, é da democracia, ele tem todo o direito de escolher o candidato que ele quer apoiar. O que não pode acontecer, e não aconteceu até hoje, é a falta de relação institucional”.
A objetividade do prefeito Eduardo Braide foi claramente evidenciada quando tratou de um dos temas mais sensíveis do seu mandato: a tensa e praticamente inexistente relação com a Câmara Municipal, tendo a maioria dos 31 vereadores como adversários, enfrentando ali uma CPI para investigar contratos de emergência, a começar pelo presidente da Casa, vereador Paulo Victor (PSB). Na sua lógica política, antes de se relacionar com vereadores, o prefeito “deve se relacionar com o povo”. E arrematou: “Determinados vereadores querem agir politicamente. E aí, eu acho que, nesse momento, não dá para aceitar determinadas posições”.
E também nesse caso reduziu o tamanho do problema, afirmando que apesar dos tremores que acontecem à sua volta, ele tem conseguido governar, detendo o controle da situação, uma vez que conhece os adversários e as dificuldades, e sabe do seu potencial para se reeleger. Tanto que já assumiu um compromisso: se reeleito for, cumprirá o mandato integralmente, ou seja, ficará no cargo até o dia 31 de dezembro de 2028, descartando rumores segundo os quais, nesse caso, renunciaria em 2026 para disputar o Governo do Estado.
PONTO & CONTRAOONTO
Supremo ignora pressão dos chefes do Congresso e dá respaldo à decisão de Dino sobre “Emendas PIX”
De nada adiantou a tentativa dos chefes das duas Casas do Congresso Nacional, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL) de, pressionados pelas forças que se mobilizaram, agiram para convencer o Supremo Tribunal Federal (STF) a derrubar a decisão do ministro Flávio Dino de suspender a liberação de recursos para as chamadas “Emendas PIX”. Ontem, o plenário virtual da Corte formou maioria conformando a liminar do ministro, mantendo assim a suspensão das “Emendas PIX”.
Como se sabe, essas emendas são enviadas diretamente pelo deputado federal ou pelo senador para a prefeitura que ele desejar, sem a necessidade de um projeto nem de informar o destino e menos ainda de informar no que o dinheiro será gasto.Além de suspender o pagamento, que significa “segurar” a liberação de cerca de R$ 18,5 bilhões (o equivalente a 70% do Orçamento do Maranhão para 2024), o ministro Flávio Dino havia determinado que as “Emendas PIX” já pagas sejam auditadas, salvo aquelas que bancam obras já em andamento, com identificação, e as que estejam sendo usadas em situações como as enchentes no Rio Grande do Sul.
As decisões do ministro Flávio Dino mexeram com as bancadas, que por sua vez partiram para o contra-ataque. Ontem, os chefes do Congresso Nacional pediram que o presidente do STF, ministro Luiz Roberto Barroso, suspendesse, mas o ministro Flávio Dino já havia requerido que a suspensão ou não da sua medida seja decidida pelo plenário virtual do Supremo, que sem perdas de tempo formou maioria para respaldar a sua decisão.
No plano geral, chama a atenção o fato de que, mesmo fazendo zoada e ameaças, líderes do Senado e da Câmara Federal finalmente entenderam que as “Emendas PIX” são uma excrescência e já trabalham no sentido de modificá-las, dando-lhe alguma transparência, e também avaliam a possibilidade de extinguir tal fórmula, que dificilmente continuará existindo depois da decisão do ministro Flávio Dino.
Ana Paula não aprova anistia para dívidas partidárias aprovada por Weverton e Camacho
Dois dos três senadores maranhenses, Weverton Rocha (PDT) e Bene Camacho (PSD) votaram a favor da Emenda Constitucional da Anistia, que garante perdão total às dívidas dos partidos acumuladas nos últimos cinco anos e que não cumpriram as cotas para negros nas campanhas eleitorais recentes. A senadora Ana Paula Lobato (PDT) votou contra, por considerar o perdão uma medida ilegal.
Com a aprovação da PEC, os partidos serão perdoados das suas dívidas, irregularidades e até desvios criminosos no período de 2018 a 2023. Isso significa que o Congresso Nacional vai mandar para o arquivo morto nada menos que R$ 23 bilhões em pendências acumuladas pelos partidos, valor que, segundo algumas entidades ligadas a transparência, pode ser muito maior.
Os senadores Weverton Rocha e Bene Camacho votaram favoráveis à anistia “ampla e irrestrita” das maracutaias feitas pelos partidos com os bilhões do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral. Weverton Rocha atuou como um dos chefes nacionais do PDT, e também como presidente do partido no Maranhão. Bene Camacho certamente acatou a pressão do chefão nacional do PSD, Gilberto Kassab, que defendeu a PEC da Anistia desde a sua apresentação.
A senadora Ana Paula Lobato atuou na contramão do seu partido, o PDT, posicionando-se contrária à anistia que manda para o arquivo morto as tramoias financeiras feitas pelos partidos nos últimos anos.
São Luís, 16 de Agosto de 2024.