O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desembarca amanhã no Maranhão para uma visita de duas escalas, uma em São Luís, que ocorrerá durante a manhã, e outra em Imperatriz, que acontecerá à tarde. Contrariando todos os protocolos que disciplinam as relações institucionais na Federação, o Palácio do Planalto não comunicou oficialmente ao Palácio dos Leões sobre a visita presidencial ao estado, de modo que o governador e sua equipe desconhecem a natureza e o roteiro da viagem. Por outro lado, também contrariando o que dissera o presidente, na semana passada, à rádio paulistana Jovem Pan, a Polícia Militar do Maranhão, devidamente autorizada pelo governador Flávio Dino (PCdoB), vai participar do esquema de segurança do presidente em São Luís e em Imperatriz – e o faria também em Balsas, se a cidade estivesse no roteiro presidencial. O apoio da PM foi solicitado ontem pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, ao governador do Estado e ao secretário de Estado de Segurança Pública, Jefferson Portela, e foi atendida imediatamente, sem qualquer restrição.
Iniciado com a estapafúrdia declaração do presidente Jair Bolsonaro à Jovem Pan afirmando que não participaria de um evento evangélico em Balsas porque “o senhor Flávio Dino” teria negado a participação da PM no esquema de sua segurança – o que foi enfaticamente desmentido pelo governador, que decidiu cobrar explicações do Planalto via STF – episódio que expôs cruamente a postura contraditória do presidente da República. Por sua vez, do alto da sua coerência institucional, o governador Flávio Dino deixou claro que jamais negaria um pedido de apoio à segurança do presidente da República em território maranhense. Ele entende que, por mais fortes e profundas que sejam, as diferenças políticas, ideológicas ou partidárias não podem prejudicar as relações institucionais nesse nível de gravidade.
Antes de receber a solicitação de apoio da PM, o governador comentou, quase que dando uma lição de civilidade política ao presidente: “Desde a semana passada, Bolsonaro cria confusão com uma suposta visita ao Maranhão. No que depender de mim, ele pode ir onde quiser, não enfrentará protestos e terá a proteção da polícia do Maranhão. Não precisa ter medo. Aqui somos sérios e temos muito trabalho que nos ocupa”. Ou seja, o governador reconhece que Jair Bolsonaro é o presidente de todos os brasileiros, devendo receber o tratamento devido em todas as unidades da Federação, a começar pelo Maranhão, independentemente das diferenças que o distancie de governadores.
Ontem, enquanto o ministro do GSI e o secretário de Segurança acertavam, com a autorização do governador, a participação da PM no esquema para a sua segurança no Maranhão, o presidente Jair Bolsonaro aproveitava o encontro com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada para atacar indiretamente Flávio Dino, declarando: “Tem de tirar o PCdoB de lá, pelo amor de Deus”. Informado da declaração, Flávio Dino reagiu no ato: “Se Bolsonaro quer me tirar do Governo do Maranhão, um bom caminho é lançar um bolsonarista assumido na eleição de 2022. Em 2018 (Roberto Rocha e Maura Jorge, somados), não chegaram a 10% no Maranhão”. E foi mais longe: “Em vez de cuidar de trabalho sério, Bolsonaro diz que vem ao Maranhão para esse tipo de agenda: agressões e campanha eleitoral. Tudo com dinheiro público”.
Em meio a esses ataques e contra-ataques, uma conclusão ganha mais consistência a cada dia: o governador Flávio Dino é um adversário que incomoda fortemente o presidente Jair Bolsonaro. Por uma série de motivos. Primeiro, é um político de esquerda com larga visão, tem um preparo cultural e técnico muito superior ao dele, tem se mostrado um gestor competente e comanda um Governo eficiente, inovador e honesto. E depois, porque o governador vem ganhando estatura política no plano nacional, podendo se tornar uma ameaça ao projeto de reeleição já em curso no Palácio do Planalto e em todo o Governo Federal.
Vale aguardar a postura do presidente da República na visita de amanhã a São Luís e Imperatriz. Mas desde já uma certeza: se provocar, receberá o troco.
PONTO & CONTRAPONTO
Justiça Eleitoral nega registro à candidatura de Ildon Marques em Imperatriz
A corrida para a prefeitura de Imperatriz ganhou intensidade nos últimos dias, com a decisão da Justiça Eleitoral de indeferir o registro da candidatura do ex-prefeito Ildon Marques (PP). Ele já recorreu ao TRE, que poderá acatar seu recurso e desmanchar a decisão do juiz de base e autorizar o deferimento, ou confirmar o indeferimento. Na primeira hipótese, que muitos veem como improvável, ele continuará candidato, levando a disputa para um desfecho imprevisível entre o prefeito Assis Ramos (DEM), o deputado estadual Marco Aurélio (PCdoB) e o ex-prefeito Sebastião Madeira (PSDB). Mas se, ao contrário, o TRE mantiver o indeferimento, ele poderá ainda recorrer ao TSE, mas já numa situação muito fragilizada e com poucas chances de obter uma liminar para levar à frente o seu projeto de candidatura.
O fato é que a decisão da Justiça Eleitoral de indeferir a candidatura de Ildon Marques cria um clima de incerteza na disputa pela Prefeitura da antiga Vila do Frei. Ele tem quatro condenações no TCU, concorreu a deputado federal em 2018 garantido por uma liminar, ficou na terceira suplência, mas em abril de 2019 o TSE julgou o recurso do Ministério Público Eleitoral e, por unanimidade, cassou seu registro de candidato e anulou todos os seus votos. Agora pode acontecer o mesmo se ele conseguir uma liminar para registrar sua candidatura.
Nas contas de um observador do cenário político tocantino, os quatro têm chance de chegar lá e, pelo que indicam os movimentos, a disputa será mesmo decidida na última semana da campanha, com ou sem a participação do ex-prefeito Ildon Marques.
Coluna corrige erro de informação sobre a pesquisa Interpreta/TV Guará
Na edição de ontem, 27/10, a Coluna errou no registro da pesquisa Interpreta/TV Guará sobre a corrida à Prefeitura de São Luís, ao afirmar que a soma dos percentuais alcançaria apenas 94,9%, faltando 5,1% para totalizar 100%, como é regra matemática em qualquer levantamento estatístico, e muito especialmente numa sondagem de intenções de votos, cujo resultado pode hidratar ou desidratar candidaturas.
Os números são os seguintes: Eduardo Braide (Podemos) lidera com 35,1% das intenções de voto, seguido de Duarte Júnior (Republicanos) com 18,8%, e logo atrás deste um empate surpreendente entre Neto Evangelista (DEM) com 14,4% e Rubens Júnior (PCdoB)com 13,6%. No segundo time, Bira do Pindaré (PSB)aparece com 5,3%, Jeisael Marx (Rede)com 1,1%, Hertz Dias (PSTU)com 0,7%, Yglésio Moisés (PROS) com 0,6% e Franklin Douglas (PSOL) e Silvio Antônio (PRTB) com 0,3%. Os que votarão nulo ou em branco somam 2,5% e os que não souberam ou não quiseram responder totalizaram 7,3%.
Ao somar os percentuais, o autor falhou ao não incluir na operação os 5,3% de intenções de voto recebidos pelo candidato do PSB, Bira do Pindaré e os três décimos dados a Silvio Antônio. Refeita a conta com a inclusão do candidato socialista, o total alcança 100%, o que legitima integralmente o cenário demonstrado pela pesquisa Interpreta/TV Guará, eliminando de vez qualquer dúvida relacionada ao que o instituto apresentou em seu relatório.
O registro de ontem também assinalou que nas informações técnicas da pesquisa faltaram a margem de erro e o intervalo de confiança da pesquisa. Isso aconteceu porque a Coluna se valeu do texto publicado em um blog, e nele esses dados, de fato, não constaram. Só que eles existem e são os seguintes: a margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%.
Feito, portanto, o reparo cobrado, com o acréscimo de que as demais informações sobre a pesquisa Interpreta/TV Guará publicadas por Repórter Tempo correspondem integralmente ao que foi divulgado.
São Luís, 28 de Outubro de 2020.