Aconteceu no final da semana que passou: 58 famílias que viviam no Baixão dos Rochas, uma antiga comunidade do município de São Benedito do Rio Preto, a 240 quilômetros de São Luís, foram expulsas das suas moradias de maneira violenta, tendo as casas destruídas por tratores e pelo fogo ateado por jagunços fortemente armados. Mulheres, crianças e idosos foram tratados com a mesma violência, causando surpresa e indignação. Os jagunços atuaram a mando das empresas Bom Mar Maricultura e Terpa Construções, que se dizem donas da terra, contrariando o parecer jurídico do Iterma, que afirma que a documentação é fajuta.
O conflito é o reflexo de uma situação que está acontecendo no Maranhão, por conta da expansão da fronteira casos como o de Baixão dos Rocha têm acontecido com frequência. A corrida pelo plantio de soja deflagrou uma corrida de tudo ou nada pela terra, na qual os trabalhadores rurais enfrentam o poder do dinheiro, a manipulação cartorial das cadeias sucessórias das terras em disputa. E quando as propostas indecentes não arrancam os trabalhadores das suas casas, eles são arrancados na marra, orações de jagunços, como aconteceu agora no Baixão dos Rochas, onde está demonstrado que a terra ali pode ter sido grilada pelas empresas ou por quem lhes vendeu.
O caso repercutiu fortemente na Assembleia Legislativa, onde a presidente Iracema Vale (PSB), que é da região e conhece o problema, externou sua indignação com os fatos ocorridos, declarou solidariedade às famílias atacadas. Ela e destacou que, ao tomar conhecimento do caso, o governador Carlos Brandão (PSB) deslocou emissários da Secretaria de Segurança Pública e da Secretaria de Direitos Humanos para a área, com a missão de coibir violência e prestar assistência aos trabalhadores rurais, agora transformados em sem teto.
Outros três deputados reagiram na mesma linha.
Rodrigo Lago (PCdoB), que foi secretário de Agricultura Familiar, criticou duramente a ação das empresas, chamou de crime a ação das empresas. Júlio Mendonça (PCdoB), que é ligado à questão da terra, disse não ser admissível que as duas empresas tenham atuado assim: “Não se pode admitir que as empresas Bom Mar Maricultura e Terpa Construções utilizem da violência para expulsar das terras quem vive lá há mais de 80 anos”. E por sua vez, o deputado Zé Inácio (PT), que milita nessa área com a visão de quem já foi do Incra, criticou a rapidez com que a Justiça deu ganho de causa às empresas. E mais do que isso: como se deu o cumprimento da chamada reintegração de posse, como a participação de jagunços fortemente armados.
É verdade que, por se tratar do cumprimento de uma decisão judicial, o Governo do Estado não pode se envolver. Mas a ação ganhou outra face, essa criminosa, quando o despejo das famílias foi feito com violência praticada por jagunços, que atearam fogo nas casas e ameaçaram e chegaram a agredir pessoas indefesas. Usar trator para derrubar casas numa ação na qual ainda cabiam recursos é, no mínimo, uma ação criminosa, que precisa ser combatida com rigor e tenacidade, de maneira exemplar.
Os desdobramentos do que aconteceu em Baixão dos Rochas devem ter a natureza de um recado duro aos grileiros.
PONTO & CONTRAPONTO
Weverton será vice-líder do Governo Lula no Senado e continua jogando em dois campos
O presidente Lula da Silva (PT) indicou o senador Weverton Rocha (PDT) para integrar o colégio de vice-líderes do Governo no Senado. Ele entrou na vaga dada ao seu partido nessa montagem por meio da qual o presidente da República tenta construir uma base de apoio no Congresso Nacional.
A indicação chamou a atenção por conta dos posicionamentos do senador em Brasília e no Maranhão. No plano nacional, ele está posicionado como aliado do Governo, apesar do jogo estranho que praticou durante a campanha. No Maranhão, o senador se mantém tacitamente rompido com o Governo Carlos Brandão, ainda insatisfeito por não ter sido o candidato da aliança liderada pelo então governador Flávio Dino, hoje senador licenciado e ministro da Justiça e Segurança Pública.
Na campanha, Weverton Rocha se aliou aos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Não deu declarações a favor do residente e candidato à reeleição, mas também não fpi enfático em relação ao ex-presidente Lula da Silva. Foi assim nos dois turnos. Quando Lula da Silva assumiu, ele naturalmente levou o PDT para a órbita governista, articulando para que o presidente do PDT fosse ministro da Previdência.
Na política maranhense, ele liberou a bancada estadual para se aliar ao governador Carlos Brandão, mas dá seguidas demonstrações de que ele próprio não e reatará a aliança. E para entornar mais ainda o caldo, no final da semana passada, o senador recepcionou com afagos o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que veio ao Maranhão em pré-campanha para a Presidência da República em 2026, quando o presidente Lula da Silva pode se candidatar à reeleição ou lançar u candidato do PT ou dá aliança governista.
Ou seja, o senador Weverton Rocha usa toda a sua habilidade para continuar jogando em dois campos.
Eduardo Braide nomeia Daniel Pinheiro líder do Governo na Câmara
O prefeito Eduardo Braide (PSD) entregou ao vereador ao jovem vereador Daniel Pinheiro (PL), o desafio de atuar do líder do Governo na Câmara Municipal. A escolha surpreendeu vereadores e observadores, a começar pelo fato de o vereador não ter lastro como articulador, estimulando a previsão de que ele dificilmente dará conta do recado. Hás, por outro lado, quem acredite que, exatamente por não ter os vícios de um articulador experiente, poderá sair-se bem na tarefa.
O prefeito Eduardo Braide tem enfrentado problemas no seu relacionamento com a Câmara Municipal. Tanto que em dois anos de mandato, o vereador Daniel Pinheiro é o terceiro líder do Governo. O primeiro foi o vereador Marcial Arruda (Podemos), que foi um dos mais ativos na campanha de 2020, mas acabou entrando em conflito e rompendo com o prefeito. Depois a tarefa foi entregue ao vereador Raimundo Penha (PDT), que no início deste ano entregou cargo alegando que precisa se dedicar mais às tarefas de vereador, preocupado que está com a reeleição.
O novo líder do Governo na Câmara de São Luís tem um enorme desafio pela frente, que é exatamente costurar entendimentos numa casa em que o prefeito Eduardo Braide não conta com maioria e que precisa fazer um grande esforço de negociação “caso a caso”. Ele aposta que o vereador Daniel Pinheiro, com o seu aval e com a sua orientação, poderá manter estável o relacionamento da Câmara Municipal com o Palácio de la Ravardière.
A aposta do prefeito está a boa vontade e no entusiasmo com que o vereador recebeu e aceitou o convite.
São Luís, 22 de Março de 2023.