A deputada estadual Andrea Murad deixou de lado ontem os problemas que ela enxerga no Sistema Estadual de Saúde, para confirmar, num discurso recheado de altos e baixos, que existe uma crise intestina no seu partido, o PMDB, e que o ex-deputado Ricardo Murad está em movimento de combate na guerra que sacode os bastidores do ainda maior partido político do Maranhão. A parlamentar confirmou que o PMDB enfrenta problemas, que a maioria das suas principais lideranças está fragilizada, mas previu que elas voltarão “mais fortes do que nunca”. E focou naquele que é o ponto traumático do atual momento pemedebista, a briga pelo controle do partido em São Luís, travada diretamente entre o deputado Roberto Costa, que comanda a sigla no município, e o ex-deputado Ricardo Murad, que sonha assumir o controle da agremiação, alimentando com isso o projeto de se candidatar a prefeito da Capital em 2016.
Para alguns observadores da cena política, o discurso da deputada Andrea Murad foi, antes de tudo, um recado do ex-deputado Ricardo Murad para quem acha que ele desistiu de brigar pelo controle do PMDB. Ela tentou reduzir a briga à refrega de Murad com Roberto Costa, sugerindo que o presidente municipal do PMDB “tem um problema com meu pai”. Mas o que ficou claro mesmo – e ela não soube camuflar essa evidência – é que Murad, que hoje exerce cargo de secretário na Prefeitura de Coroatá, na gestão comandada por sua esposa, Teresa Murad, está se armando até os dentes para tentar tomar o comando do PMDB no estado, e se isso não for possível, pelo menos na Capital. E há quem diga que com o apoio discreto, mas efetivo, da ex-governadora Roseana Sarney.
O mundo político do Maranhão sabe que Ricardo Murad não é um adversário qualquer. Ele gosta do confronto, é provocador e, como qualquer integrante do partido, tem todo o direito de aspirar ao comando da agremiação e de se movimentar politicamente para conseguir seu propósito. O problema é que à sua frente estão erguidos obstáculos gigantescos, consolidados e que dificilmente ele conseguirá remover, mesmo empurrado pelas mãos da ex-governadora Roseana Sarney.
O primeiro obstáculo é o senador João Alberto, que comanda o PMDB desde o início da década de 1990 do século passado, quando, com a cassação do então presidente, deputado federal Cid Carvalho, denunciado por corrupção na CPI dos Anões do Orçamento, o partido passou para o controle do Grupo Sarney. De lá para cá, João Alberto organizou e manteve o PMDB de pé, como uma máquina política azeitada e coesa, e sempre na posição de maior partido do estado. E com a vantagem adicional de contar com o apoio do senador José Sarney, do vice-presidente Michel Temer e da Executiva nacional do partido. Murad já travou vários embates dentro do partido, mas em todos encontrou a muralha erguida por João Alberto, que não abre mão do comando partidário.
No projeto de se candidatar à Prefeitura de São Luís em 2016, que pretende viabilizar assumindo o comando municipal do PMDB, o ex-deputado Ricardo Murad enfrenta alguns obstáculos. O primeiro deles é a resistência da Executiva partidária, comandada pelo deputado Roberto Costa. Outro é a posição de Ricardo Murad em São Luís, onde ele não tem um suporte político e eleitoral consistente para comandar uma campanha com chances reais de alcançar resultado positivo nas urnas. Murad, no entanto, é movido pela autoconfiança e pela condição de “trator”. Se evoluir, será uma luta titânica, na qual Murad dificilmente levará a melhor, a menos que as armas sejam recolhidas e sua candidatura se dê por acordo.
No seu discurso, a deputada Andrea Murad deixou transparecer a convicção de que o projeto do ex-deputado Ricardo Murad é real e está de pé. Isso confirma o que a Coluna já havia previsto, ou seja, que uma guerra interna está em curso no PMDB.
PONTOS & CONTRAPONTO
Fazendo história I
O senador Edison Lobão elogiou ontem a promulgação pelo Congresso Nacional da PEC da Bengala, que amplia de 70 para 75 anos a idade para aposentadoria compulsória dos ministros dos tribunais superiores e do Tribunal de Contas da União (TCU). “O que o Congresso agora faz é atualizar a principal lei do país, a lei balizadora, que é a Constituição Federal”, declarou Lobão. O senador lembrou que a proposta começou a ser discutida quando foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça, há doze anos.
Fazendo história II
Edison Lobão lembrou que a PEC da Bengala foi uma discussão longa no Senado: “Quando fui eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça, iniciamos ali a reforma do Poder Judiciário, que no âmbito da Comissão se concluiu em 2004. Tentamos votar já naquela reforma a elevação do limite de idade para 75 anos. Conto essas coisas, porque de algum modo estamos fazendo história”, recordou.
Defeso manipulado I
Ao expressar a posição do PV na votação de emenda à Medida Provisória que mexe nos direitos trabalhistas, como o seguro-defeso, que ampara pescadores artesanais durante a piracema ou em catástrofes naturais – o deputado federal Victor Mendes (PV) reafirmou uma denúncia que ainda terá desdobramentos. Declarou que o seguro-defeso estava sendo usado criminosamente por alguns no Maranhão. Disse também que muitos já estão presos e outros estão sendo investigados. E acrescentou que as novas regras para a concessão do seguro-defeso colocarão o sistema nos eixos no Maranhão.
Defeso manipulado II
A denúncia repetida pelo deputado federal Victor Mendes foi mal recebida em alguns gabinetes da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa. Na Câmara Baixa, as palavras de Mendes certamente incomodaram o deputado federal Cléber Verde (PR), apontado como o grande responsável pela distribuição à granel de registro de pescador a milhares e milhares de pescadores e não pescadores. Alcança também, em diferentes enfoques, os deputados estaduais Júnior Verde (PR), Edson Araújo (PSL) e Fernando Furtado (PCdoB) que formam a “Bancada do Anzol” na Assembleia Legislativa.
São Luís, 07 de Maio de 2015.